As idas ao Brasil sempre são acompanhadas de muitas expectativas por todos os lados: a saudade que aperta, os programas que serão feitos e como ele irá encarar a viagem, as férias e saída da rotina. Bom, no texto desse mês irei falar sobre nossa última ida ao Brasil há alguns meses – a viagem, estadia e retorno para casa – e como eu lido com o pequeno em cada fase da viagem. Vamos lá?
Já falei sobre os documentos franceses em outro texto, mas um que deixei de fora foi o DCEM. Para viajar com o pequeno, é importante tê-lo. O que é, afinal?
O “Document de Circulation pour Étranger Mineur” (DCEM), em tradução livre “documento de circulação para menor estrangeiro” é um documento para facilitar o deslocamento dos estrangeiros menores que moram na França para fora do país. Ele não é obrigatório por lei, mas é absolutamente recomendado que você o obtenha para evitar “dores de cabeça” na imigração – como a eu tive na primeira vez que viajei sem o DCEM do meu filho: levei uma baita “bronca” do agente de imigração na saída do país que me disse que eu poderia ter dificuldades para retornar à França.
Os menores de 16 anos não são obrigados a ter um “titre de sejour” (visto de residência) e o DCEM seria o “equivalente” ao titre, mostrando o laço do menor com a França e sua situação regular, dispensando, desse modo, a necessidade de visto dentro da área Schengen (lembrando que falo aqui sobre residentes na França, por isso menciono o visto. Para turistas brasileiros não há a necessidade de visto para estadias menores que 90 dias). Para solicitar esse documento, o responsável legal pela criança deve ser dirigir à Prefecture com a certidão de nascimento da criança e a sua própria, identidade e titre de sejour do responsável, certificado de casamento/divórcio, certificado escolar da criança (comprovando seu laço com a França), comprovante de residência e duas fotos. Todos esses documentos originais e traduzidos, ok? (confira aqui). O DCEM é valido por 5 anos e é renovável.
Além desse documento francês que me garante o sossego na volta ao país, sempre levo todos os documentos do pequeno comigo: certidão de nascimento, RG, carnet de santé… Guardo todos eles em pastas – uma por pessoa – então fica fácil e prático na hora em que precisamos deles. Fica a dica!
A viagem de avião
Sobre o (longo) tempo no avião, quem nunca ouviu histórias (ou presenciou) sobre bebês e crianças que deram trabalho durante o vôo? Sempre fiquei receosa de o meu filho fazer o mesmo e acabar atrapalhando os outros durante o voo. Não que a opinião dos outros, de alguma forma, guie a minha vida, mas vivemos em sociedade, o avião é um ambiente pequeno e fechado e sabemos quão desconfortável é uma criança incomodando durante um vôo de 12 horas… Todos nós aprendemos um dia que certos locais exigem comportamentos adequados e acredito que meu filho – com quase três anos – já está em uma idade na qual ele pode compreender isso muito bem.
Com isso em mente, trabalhamos aqui em casa com preparação e previsibilidade: somos os adultos da casa, conhecemos bem nosso pequeno, e também sabemos que é estressante e angustiante para uma criança sair da rotina e não saber o que está por vir. Logo, sempre converso com ele e explico o que irá acontecer, a sequência lógica de passos que virá: o que será feito, em que ordem e como ele pode contribuir. Também sempre chamo sua atenção para que observe o seu entorno, por exemplo: em um voo noturno, o avião está silencioso e escuro, todos querem dormir. Logo, ele também deve ficar em silêncio ou falar baixo.
Além disso, sempre dou a ele sua mochilinha para levar, pois ao envolvê-lo na viagem ele acompanha muito melhor (mais calmo e comportado) todo o processo de despacho de bagagem, filas e embarque no avião. Eu acredito que assim ele aprende não só os comportamentos esperados, como também a autorregulação. Até hoje essa prática tem nos ajudado muito! Quando envolvo meu filho no que acontece, mantemos uma comunicação aberta, ele sempre coopera bastante: na últim vez que viajamos, ele ajudou empurrando a mala de mão, segurando os bilhetes de embarque, se manteve perto de mim na sala de espera e mesmo empolgado com o multimídia do avião, falava e ria baixo para não atrapalhar os outros e sempre repetia: “shh outros dormindo no avião”.
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Depois do voo, outro aspecto a ser considerado é a hospedagem em uma casa diferente da nossa. Sempre explico como as casas são diferentes e que ele deve escolher os brinquedos que deseja levar (sempre estabelecendo um limite para a quantidade), pois assim ele escolhe e participa no processo, evitando, durante a estadia, pedir brinquedos que não levamos e uma consequente crise. Sabemos que é bom a criança manter a rotina dela, afinal sabe o que irá acontecer reduz sua ansiedade. Mas como fazer isso na casa dos parentes? Bom, o que eu faço é ser mais maleável, mas deixo claro para todos, inclusive para meu filho, que as atividades rotineiras devem ser sempre seguidas. Nada de ficar sem banho, apenas muda-se o horário um pouco, por exemplo. Mas nem sempre é fácil! Na casa dos avós ele fica sempre exausto depois de um dia cheio, então, você – como adulto da situação – deve ser chata e colocar freio nele e nos parentes… (foi mal família! Pelo bem do pequeno! Rs)
Depois de matarmos a saudade e o pequeno brincar muito, chega a hora de retornar à nossa casa. Poderia ser traumático também, afinal no Brasil ele está cercado dos familiares, sempre acompanhado e fazendo algo diferente e, voltando para casa, somos só nós três novamente. Mesmo assim ele já curte o retorno ao cantinho dele, às coisinhas dele que ficaram em casa. Durante essa estadia, meu marido mostrava para ele via FaceTime o seu quarto, as pelúcias, a cama… e em todas as vezes ele ficou muito feliz! Ficou claro o quanto ele reconhece seu espaço e sente falta quando viajamos.
Claro, também o preparamos para a saudade que ele sentirá dos avós: começamos a conversar com ele dias antes, explicando que retornaremos à nossa casa, que os avós têm que ficar na casa deles mas que sempre nos falaremos pelo telefone.
Bom, o resumo desse meu texto todo é: além de todos os preparativos inerentes à viagem, prepare seu filho também! Inclua a criança no processo todo, seja aberta e direta com ela. Dedique uma pequena parte de seu tempo para ver as coisas pelos olhos da criança e o processo será mais suave… Aqui, pelo menos, tudo ocorre tranquilamente dentro do esperado para uma criança de quase três anos né?
Até a próxima!
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[…] passado escrevi como nos preparamos para as idas ao Brasil. Nesse texto, dou continuidade ao tópico abordando o que vem depois: a volta para casa. Como […]