Estamos há oito meses em uma viagem de volta ao mundo com a nossa filha de dois anos. Até agora já passamos por diversos momentos incríveis e também por outros momentos não tão incríveis assim, os quais normalmente não divulgamos. Naturalmente focamos nos positivos, pois sabemos que é com eles que atraímos ainda mais energias boas para nossas vidas – pelo menos é assim que procuramos viver até agora e está funcionando.
Optamos por compartilhar alguns casos para que vocês tenham uma visão ainda mais completa da nossa vivência nesse período e quem sabe também aprendam com os erros que já cometemos. Muitas situações já fugiram do nosso controle – é difícil explicar, mas de alguma forma acabou dando tudo certo e elas se tornaram partes importantes da nossa história.
Nosso estilo de viagem
Primeiro, é importante que vocês entendam mais o nosso perfil de viagem. Estamos sempre nos adaptando, mas a raiz é a mesma: não temos pressa e muito menos meta de quantidade de países ou locais que queremos conhecer. Definimos os destinos sem fazer pesquisas exaustivas, somente buscamos informações essenciais e gerais, como um bairro tranquilo, seguro e acessível para morar (alugamos pelo Airbnb), como funciona o transporte público e as principais atrações na região. E depois que já estamos na cidade varias curiosidades começam a aparecer e com isso nos inspiramos para pesquisar mais, e entender sobre as pessoas e a vida por ali.
Quanto às atividades para crianças, seguimos a mesma linha… existem crianças no mundo inteiro e consequentemente atividades para elas. Sinceramente, isso nunca foi uma preocupação para a gente – apenas evitamos lugares e situações extremas. Para a Nic, correr em um gramado já é uma baita diversão, e se aparecer um parquinho ou crianças no caminho, melhor ainda.
Descobrimos que se estivermos felizes ela também estará – é incrível e simples assim. E como temos tanta certeza? Fácil! Nos dias que ela não está bem basta prestar atenção para descobrirmos que um dos papais aqui também não está bem, e confesso que normalmente eu sou a culpada – e o meu marido acaba dando conta das duas mal-humoradas (risos).
Querem exemplos? Vamos lá!
Acredito que nossa primeira situação foi enfrentarmos um frio maior que o esperado na região dos países Nórdicos. A ideia era aproveitar o verão e início de outono para conhecer estes países, fugindo assim de temperaturas extremas já que não tínhamos casacos de frio intenso e nem espaço na mala para eles.
Quando chegamos na Islândia fiquei tensa com o frio que estava fazendo, sendo que em alguns dias sairíamos para uma viagem de dez dias de trailer pelo país. Para completar, tudo na cidade de Reykjavik era muito caro e não encontramos nem uma luva que coubesse na Nic. A solução? Os três usaram o tempo todo a mesma quantidade de roupas (o corta vento da Nic era um pouco mais grosso que o nosso, pelo menos) e combinamos que se um de nós demonstrasse frio, voltaríamos correndo para o carro.
No fim estava mais quente do que imaginamos e a Nic foi quem menos sofreu. Também descobrimos que ela adora um ventinho gelado, se divertiu muito com toda aquela ventania – dava gargalhadas e até cantava de felicidade.
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A temperatura mais baixa que pegamos foi -4 graus, em Elsinque, Finlândia. Um dia no qual a Nic passeou tranquila no carrinho de bebê, com o plástico corta vento/chuva armado – sucesso, ela até dormiu. Os adultos aqui não aguentaram muito tempo e aceleraram o passeio desse dia, mas me lembro de ter sido incrível mesmo assim.

Passeio em dia frio na Finlândia. Fonte: arquivo pessoal
Mais ou menos um mês depois, chegando em Berlim, Alemanha, aconteceu conosco o que acredito ser o maior pesadelo de todo viajante – uma de nossas malas desapareceu. Temos somente duas, uma pequena de 10 quilos e uma grande de 23kg, justamente a que ficou sumida por aproximadamente oito horas. Certamente este foi o dia mais tenso de toda a nossa viagem!
A mala continha uns 70% de tudo o que temos de bens conosco e sendo que a grande maioria eram insubstituíveis na nossa situação atual, como por exemplo a boneca com a qual a Nicole dorme todas as noites e boa parte dos remédios que carregamos como emergência. Enfim, depois de horas de sofrimento, recebemos uma mensagem dizendo que a mala foi encontrada e nos seria entregue. Um alívio inexplicável e tranquilizador. Esta experiência nos deixou mais fortes para viver situações parecidas se preciso (sabemos que o risco continua existindo), e também mais atentos a não despachar itens difíceis de repor, quando possível.
Austrália com queimadas
E teve ainda nossa viagem de trailer pela Austrália, justamente na época em que ocorreu uma das maiores queimadas da história do país, sendo que o nosso plano era fazer um percurso exatamente pelos pontos onde aconteceram devastações de grande proporção.
E sabe o que mais nos ajudou desta vez? Por mais absurdo que possa parecer, foi a falta de planejamento (risos). Era nossa terceira viagem de trailer da vida, e os “experientes aqui” acharam que não seria necessário se preocupar com reservas. Assim chegamos no primeiro destino do roteiro e percebemos que não havia vagas em nenhum acampamento pago e nenhuma opção gratuita em boa localização.
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Isso nos impediu de seguirmos a rota pela costa em direção ao sul conforme havíamos imaginado. Fomos obrigados a mudar todos os planos e inclusive passar a virada do ano no meio do nada em vez da praia, como gostaríamos. Aliás, estávamos na Austrália e era inadmissível não passar a virada na praia. E assim, ainda que a contragosto, saímos da região da costa, porém, com isso escapamos de áreas que foram terrivelmente destruídas pelo fogo, as quais inclusive tiveram ações emergenciais para retirada da população, turistas e animais.
Aqui ficou claro que uma boa dose de flexibilidade sempre será útil, assim como temos que aprender a identificar os casos nos quais um planejamento mais detalhado também é importante (principalmente em situações mais fora do padrão).
E quanto aos momentos difíceis com nossa bebê? Sim, ela é uma criança como todas (acredito eu): chora, cansa, fica estressada, faz “birra”, grita, reclama, às vezes deixa de comer ou não quer dormir, entre diversas outras peculiaridades do mundo infantil. Procuramos lidar com tudo isso da mesma forma que lidaríamos em uma vida “normal “. Aliás esta hoje é a nossa vida normal, nosso dia a dia, onde temos nossos desafios e nossas conquistas.
O que aprendemos com isso tudo?
Não podemos nos deixar abalar. Depois de uma leva de dificuldades, sempre somos presenteados com diversas surpresas maravilhosas. Temos que estar conscientes e abertos para poder sentir e viver esses momentos de felicidade com toda a intensidade que eles merecem, retirando o foco das adversidades e levando apenas o aprendizado que elas nos trazem.
Temos total ciência de que corremos riscos o tempo todo nessa volta ao mundo. E também sabemos que se estivéssemos no conforto do nosso lar (que era em São Paulo, capital) os riscos também existiriam – diferentes, mas estaríamos convivendo com eles constantemente.
Sabemos que esta aventura de volta ao mundo é um grande privilégio e que, infelizmente, por motivos diversos, poucas pessoas têm ou terão uma oportunidade como esta. Por isso agradeço por cada dia vivido, por tudo que temos visto e vivido nessa volta ao mundo e procuro transmitir este sentimento para a Nic em forma de respeito, carinho, gratidão e amor. São lembranças, histórias e aprendizados riquíssimos que levaremos por toda as nossas vidas. Até agora temos o prazer de dizer que está dar a volta ao mundo valendo muito à pena!