A vida longe dos avós.
De todas as dores, saudades e privações que o morar fora traz para mim e minha família, especialmente para as crianças, a maior delas, sem dúvida, é privá-los, e privar meus pais e sogros da convivência avós-netos. Existe até uma pesquisa, feita pela Universidade de Oxford, comprovando que a convivência com os avós é um fator importante para que as crianças cresçam felizes. De acordo com a pesquisa, crianças com alto nível de envolvimento com os avós tem menos problemas emocionais e comportamentais.
Independente de pesquisa, acredito que os avós tem papel importantíssimo na vida dos netos, e são responsáveis por boa parte da infância feliz de qualquer indivíduo. No entanto, acredito também, e isso me conforta um pouco, que isso independe do quanto se convive. Não que a convivência não seja importante, mas não é determinante, eu diria. Tenho a impressão de que a relação entre eles é misteriosamente tão intensa, que a distância não consegue diminuir nem enfraquecer. É um vínculo que ultrapassa e independe de estar perto todo o tempo. Sem contar no amor e cumplicidade que eles são capazes de desenvolver.
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A distância
Digo isso porque meus filhos sempre moraram longe dos avós, mesmo quando vivíamos no Brasil. E quando minha filha mais velha nasceu, logo comecei a pensar no que faria para garantir que ela formasse este vínculo com os avós, que moravam longe. Confesso a vocês que, no meu caso, não foi preciso muito. A cada encontro, eles iam construindo um amor e uma alegria por estarem juntos, uma cumplicidade própria desta relação, que o fato de não conviverem diariamente era apenas um detalhe. Depois, quando chegou o segundo, aconteceu exatamente igual. Meus filhos amam muito os avós e sentem MUITA saudade deles, mesmo nunca tendo convivido diariamente. É aí que dói.
Em todos os encontros, a chegada é pura alegria, de todos os lados. A despedida é o pior momento de todos! Ver o olhar triste, o choro preso e as queixas porque vamos ficar longe de novo é muito ruim. Dói mais do que a saudade que eu mesma sinto deles. E acredito que neles, nossos pais, a saudade dos netos é maior ou mais doída do que de nós, os filhos. Há poucos dias, meus pais foram embora, depois de passarem uns 15 dias aqui com a gente. Desde então, minha filha tem se queixado todos os dias de saudade dos avós, e pergunta o tempo todo quando vamos ao Brasil. Durante os dias que passam juntos, eu, a mãe, não sirvo pra quase nada. Eles querem dormir com os avós, comer com eles, tomar banho, dar a mão na rua, sentar ao lado em qualquer lugar, não se separaram nem por um minuto.
E é justamente por isso que quando paro e penso no fato de estarmos longe, esse é o ponto mais negativo de todos, que me faz pensar se talvez seria melhor estar perto, apenas para garantir essa convivência entre eles. Pensar nisso me faz querer viver bem perto deles. Apenas para que eles (avós e netos) não sintam a dor de estar longe a cada despedida, a cada conversa pelo Skype/WhatsApp. Sabe aquilo de ter a casa da vovó ali perto, pra poder ir quando quiser, para poder dormir lá sempre, pra almoçar lá todos os domingos, e nos outros dias também, como uma segunda casa? Esse privilégio meus filhos não têm, pelo menos no momento. Não digo que não terão, porque tudo pode mudar.
O papel da tecnologia no combate à saudade
Ainda bem que, pelo menos, com todos os recursos de comunicação que temos, a distância é muito menor do que foi no passado. Podemos nos falar todos os dias, e nos ver, ainda que seja pela câmera do celular. Isso ameniza a saudade e ajuda o tempo a passar mais rápido. Quando eu era criança e morava longe, meus pais só falavam com meus avós aos domingos, dia em que a ligação interurbana era mais barata.
E, ainda bem que, como disse acima, a distância não está conseguindo, pelo menos na minha experiência, diminuir o vínculo entre meus filhos e seus avós. Apesar de isso fazer com a saudade seja muito grande, torna os reencontros e todos os dias que podemos passar perto deles muito mais felizes e especiais, sempre deixando um gostinho de quero mais. Além disso, quando moramos longe, aprendemos a conviver com a saudade, seja de quem ou do que for. Os pequenos também acabam aprendendo. E, mesmo longe, os avós amados dos meus filhos têm deixado neles uma marca muito especial, parte importante da infância saudável e feliz que tentamos proporcionar a eles todos os dias, aqui ou em qualquer lugar. Que assim seja e continue sendo com todos os brasileirinhos pelo mundo. Até a próxima!
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