Primeira experiência de retorno ao Brasil com um bebê
Há dois anos eu e meu marido moramos na cidade de Calgary, província de Alberta, no Canadá. Há 9 meses, nascia por lá, mais uma canadense. A partir daí a nossa vida virava de ponta cabeça, pois esta é uma mudança sem precedentes, e por mais que você se prepare para ela, você nunca vai estar pronta; ela simplesmente acontece.
Os mais experientes dizem: “Quando nasce o bebê, nasce uma mãe e nasce a famosa culpa.” A gente já sente uma culpa absurda por absolutamente tudo que acontece e quando a família cobra o fato de você ter um filho longe deles, dói mais ainda. Essa culpa rasga por dentro.
Quando a bebê completou 6 meses, após as vacinas terem sido dadas, estávamos prontos para a nossa primeira grande viagem com ela. O destino seria o Brasil, afinal de contas, nós precisávamos levá-la para conhecer o restante da família, o país em que nascemos e o país do qual ela também é cidadã.
Tínhamos muitas expectativas, muitas fantasias com relação aos momentos que iríamos passar com as nossas famílias. Não foi fácil, muito pelo contrário, foi incrivelmente maravilhoso!
Expectativas
Preciso dizer que minhas expectativas após tanto tempo sem ir ao Brasil realmente eram muito altas. Saudades da família, dos meus pais, meus irmãos, primos, tios, amigos. Mas o principal era a vontade de mostrar minha filha pra todo mundo. Me doía muito saber que as pessoas só a conheciam por fotos e vídeos. Que ninguém havia sentido aquele cheiro de bebê novinho e ouvido ao vivo aquela gargalhada deliciosa.
Mas como tudo na vida são escolhas, a gente acaba aprendendo a conviver com elas. E claro, o que não nos mata, nos fortalece.
Chegada ao Brasil
Já na chegada percebemos bem a diferença com relação ao clima, aos preços, à educação das pessoas e à gentileza em geral. Tudo tão diferente e tão chocante agora!
Este texto não tem a intenção de fazer comparativos entre o Canadá e o Brasil, e sim falar desse primeiro retorno. Porém, fazer tais comparações, algumas vezes, será inevitável.
Por incrível que pareça, me choca o fato de os brasileiros que residem no Brasil se acostumarem com tudo isso tão facilmente. Eu mesma sempre achava tudo tão normal quando morava lá. Mas a questão é que não se tem muita escolha, não é mesmo?
Quando pisei no Brasil, eu me lembrei de cada motivo pelo qual escolhemos partir.
Os primeiros quatro dias passamos em Porto Alegre, cidade onde nasci e onde vive minha família. Em seguida fomos para Ijuí, no interior do Rio Grande do Sul, encontrar a família do meu marido. Após 3 semanas, retornamos para Porto Alegre, onde fiquei por mais 20 dias.
E tenho uma coisa para contar: não é nada fácil.
Nossa estada
É incrível estar em casa, perto de todos aqueles que amamos. Porém, ao mesmo tempo, é muito difícil. O bebê sai da rotina, fica estressado, fica impaciente, se irrita com mais frequência. Viajamos com a nossa bebê numa idade em que ela passava por um pico de crescimento e talvez por isso, ela tenha estranhado algumas pessoas. E isso acabou nos estressando também.
A gente quer fazer as coisas de uma maneira e os nossos pais de outra. Como somos pais de primeira viagem, as pessoas nos falam as coisas como se não soubéssemos nada. Não somos os pais mais experientes, mas aprendemos sozinhos como funciona a dinâmica da nossa família, afinal de contas, passamos por uma gravidez conturbada sozinhos, por um parto sozinhos e pelos seis primeiros meses de vida de nossa filha também sozinhos. Alguma coisa nós tínhamos que saber.
Nós conhecemos a nossa bebê. Já sabemos quando ela tem dor, fome ou frio. Quando explicamos e contamos para todos como fazíamos para ela dormir foi um “ohhh” de bocas abertas e olhares repletos de julgamentos. “Vai deixar chorar?”, “mas deve estar com dor pra chorar assim”, “não vai dar colo?”.
Leia também como é ser mãe no Canadá
Todos esses questionamentos nos machucavam, nos feriam. Parece que somos incompetentes e que não conhecemos nossos próprios filhos. As pessoas simplesmente não entendem isso! Qualquer outra pessoa que não seja os dindos – as pessoas que você escolhe pra que possam tomar conta do seu filho na sua ausência -, ou os avós, não se deve meter ou expressar opinião e ponto final. Quando perguntada, são outros quinhentos, fora isso – NÃO! Ainda mais aqueles que não têm filhos, me poupem – se poupem!
E a dor de ver que tudo que fazemos sozinhos esse tempo todo muitas vezes não funcionou por lá? A bebê está mais velha, quer mais atenção, os dentes estão vindo, a curiosidade está mais aguçada. Enfim, as coisas mudam constantemente. E a gente parece mentiroso quando conta que precisa ser feito dessa maneira se não a bebê não dorme e a avó pega no colo e a faz dormir de uma maneira que você sempre tentou e nunca deu certo.
Saudades de casa
Meu Deus, como é difícil estar fora de casa! Como é dolorido ver todo mundo amando a sua bebê e ela transborando felicidade e você se dar conta que em breve vai estar de volta em casa e ela não vai ter mais nada daquilo pelo menos por um tempo. Como é que a gente faz?
Eu sofri bastante com essa situação. O “até logo” é tão difícil. O choro da minha afilhada me perguntando porque eu tinha que levar a minha filha embora de volta para o Canadá me doeu como um soco. Como a gente explica isso se muitas vezes nem nós entendemos?
A questão toda é pensar em tudo que há de mais maravilhoso na vida que escolhemos levar fora do Brasil. A segurança, a qualidade de vida, a falta de palpites constantes, a educação.
Obrigada pela comida deliciosamente farta, pelas risadas com os melhores amigos, pelas noites em que relembramos nossas vidas.
Obrigada, meu Deus, por ter nos mantido seguras e por ter permitido que minha filha sentisse todo o amor do mundo. Mas nós já estamos prontas para voltar pra casa.
Até o próximo ano com uma experiência completamente diferente.
1 Comentário
[…] algumas viagens curtas de avião desde que nossa bebê nasceu. Há alguns meses, tivemos nossa primeira experiência de retorno ao Brasil, em férias. Tudo é maravilhoso, a expectativa é gigantesca. Mas ninguém conta como vamos chegar […]