Vamos falar sobre como os holandeses celebram o nascimento dos bebês e a mistura das culturas brasileiras e holandesas?
Cada país tem sua cultura e tradições. Por aqui, tanto a revelação do gênero biológico do bebê, quanto do seu nome, são normalmente feitas apenas após o nascimento. E, enquanto no Brasil muitas pessoas visitam os bebês ainda na maternidade, na Holanda o anúncio do nascimento do bebê vem com visiting hours (horário de visitação).
Claro que a família próxima normalmente vem logo conhecer o rebento, mas amigos e colegas são apenas esperados após algumas semanas. Isso, inclusive, é recomendação médica, uma vez que, como o bebê ainda não conhece cheiros e sons, é muito importante que ele passe as primeiras semanas apenas em companhia de sua gezin. Mas o que é a gezin e quais são as tradições mais comuns referentes ao nascimento dos bebês aqui na Holanda?
Sobre o sexo do bebê
Gezin é o nome dado a sua pequena família. Pois é, temos distinção de família com apenas pai, mãe e filhos, e a família estendida com avós, tios e primos. Então, quando você ouvir gezin saiba que estão falando sobre a família que mora na sua casa e que inclui você, seu parceiro e filhos. Eu vivia brincando com meu namorado (sim, mesmo morando na mesma casa e com filha, como não somos casados no papel não nos chamamos de marido ou esposa, mas isso é tema de outro artigo) que nós já tínhamos um gezin: eu, ele e o gato, Moncher. E ele sempre explicava que gezin é só quando você tem filhos.
Pois bem, agora temos uma gezin: eu, ele, nossa filha, e o gato Moncher.
Antes da nossa filha nascer, nós conversamos sobre quais tradições nós seguiríamos e quais não. Ele não queria saber o gênero biológico, eu queria. Depois de muita conversa, decidimos que durante o ultrassom da vigésima semana estaríamos abertos a saber, caso o bebê quisesse mostrar suas partes íntimas. Ela quis, e a médica nos mostrou o “hambúrguer” como ela chamou. Fico curiosa como ela descreveria um pênis, mas enfim…
Depois de mais uma porção de conversa, o convenci a revelarmos o gênero biológico para a família próxima pois, no meu argumento, era uma maneira da minha família no Brasil participar desse momento também. Da família dele apenas o irmão e sua gezin quis saber, o pai dele pediu para guardarmos o segredo dele, o que, confesso, foi bem difícil uma vez que, conversando, temos a tendência de falar ela ou ele, e não o bebê. Confesso que eu escorreguei uma vez, me senti mega mal, mas ou ele de fato não ouviu, ou ele foi bem cortês e fingiu que não ouviu.
Sobre o nome na tradição holandesa
Aí veio a questão do nome. O nome da nossa filha foi ela mesma que escolheu, acredite ou não. Veio durante uma meditação e nós acatamos. E ele, o pai, não queria, de jeito nenhum, revelar o nome antes do nascimento. Aparentemente tem relação com sorte, de acordo com os holandeses. Então o nome dela foi segredo até o final da gestação e foi anunciado de acordo com a tradição dos geboortekaartjes.
Geboortekaartjes são, na tradução literal, cartões de nascimento. Nesse cartão você anuncia o nome do bebê, gênero biológico, data de nascimento, peso e altura, e as visiting hours (horário de visitação). Tem várias empresas que imprimem o cartão e você pode fazer online em vários sites e pedir uma amostra para ver como fica impresso.
Então, antes de ela nascer, eu fiz alguns exemplares para escolher. Após escolhido, deixei o design pronto (falando assim parece bem difícil, mas, na verdade, o site faz quase tudo), e espaços para adicionar as informações de nascimento dela. Dessa maneira, quando ela nascesse seria rápido para mandar para a impressão e, normalmente, eles entregam em dois dias.
No geboortekaartje dela eu coloquei além das informações básicas um poema em português que nós traduzimos para o holandês também. Quando eu fiz o geboortekaartje, pedi para o meu namorado checar as palavras em holandês, e ele disse que fez, mas, quando os setenta e cinco cartões impressos chegaram, ele encontrou benditos erros de holandês, que classificou como fofos. Eu fiquei bem brava, na verdade, mas depois relaxei, afinal todos sabem que eu ainda estou aprendendo a língua e viram meu esforço em me comunicar como eles.
Na descrição de “para visitas” nós apenas informamos nossos telefones, assim poderiam nos contatar para vermos quando seria mais propícia a celebração com os beschuit met muisjes.
A tradição dos biscoitos
Mas que raios são esses biscoitos com ratinhos? Pois é, beschuit met muisjes significa biscoito com ratinhos. Esse nome é dado por conta do formato das sementes de anis de vão em cima do biscoito. As sementes têm rabinhos lembrando, bem de leve, o formato de um ratinho. O biscoito é, na verdade, uma torrada em que você passa margarina e depois joga os ratinhos, como se fossem granulados.
É bem tradicional (para ler mais sobre de onde vem tal tradição, clique aqui)e esperado que se sirva os beschuit met muisjes para as visitas quando elas vêm conhecer o novo bebê. No hospital mesmo me ofereceram, e eu disse que não gostava… Quem não gostou muito foi a enfermeira que ofereceu! E eu descobri que era rude negar o beschuit met muisjes, mas né, eu tinha acabado de parir e não fazia ideia da importância deles… me dêem um desconto.
De fato, não é para o meu paladar, mas os holandeses, em sua grande maioria, comem. Meu namorado levou para o trabalho para celebrar com os amigos e quem tem filho mais velho também pode mandar para a escola, para que ele comemore com os colegas a chegada do irmãozinho. Se você quiser unir a tradição brasileira com a holandesa, existem confeiteiras fazendo brigadeiros com as muisjes, ao invés de granulado. Eu nunca comi, mas creio que melhore um pouco o gosto característico do anis.
Leia também: O nascimento de um brasileirinho de parto natural domiciliar na Holanda
Aqui em casa, essas foram as tradições que seguimos. Existem também pessoas que colocam no jardim ou na janela uma cegonha ou uma faixa dizendo o gênero do bebê para anunciar para a vizinhança, mas nós não fizemos. O que mais fizemos foi uma lembrancinha nos moldes da tradição brasileira. Ou seja, um presentinho para que a visita pudesse levar para casa e não apenas guardasse na barriga. Como a minha filha não estava muito querendo dar uma pinta aqui do lado de fora, tive bastante tempo para fazer. Eu e minha mãe costuramos uns coraçõezinhos de feltro com lavanda dentro e colocamos uma etiquetinha com nome dela e a data de nascimento.
E vocês, seguiram alguma tradição quando seus filhos nasceram? Contem para a gente nos comentários!