Recentemente li em uma publicação no Instagram da Clarissa Yakiara (@clarissayakiara) uma pertinente reportagem de Daniel Halpern sobre o uso excessivo de celular e tecnologia pelos pais e suas consequências nas crianças e adolescentes de hoje. Considero esse um tema muito polêmico, atual e de extrema importância a ser debatido. Um trecho da reportagem em questão que me marcou dizia:
Mês passado, em uma dinâmica que realizei com crianças do ensino fundamental, pedi a eles que escolhessem o animal que mais os representassem. Grande foi minha surpresa quando uma criança escolheu uma mosca. Quando perguntei a ela porque, me disse que se sentia assim em sua casa: ia de um lugar ao outro sem que ninguém o notasse, e que quando se aproximava, diziam para ele ir embora.
Há algumas semanas, depois de falar sobre como o uso não regrado das redes sociais aumentava a sensação de solidão, uma menina do oitavo ano me disse que se sentia só e me mostrou suas feridas nos pulsos. ‘Sua mãe sabe?’, a perguntei. ‘Pra que, se a única coisa que importa pra ela é seu celular?’
Ontem me chamaram com urgência a um colégio. Pensei que seria outro caso de Cyberbullying, por isso me surpreendi quando vi a diretora do jardim de infância. ‘O urgente para nós são as crianças do jardim de infância: quase não estão falando e é difícil para elas se relacionarem e brincarem uns com os outros’, contou.”
A Clarissa Yakiara abordou alguns pontos de reflexão que eu particularmente também acho importantíssimos e gostaria de compartilhar com todos os leitores:
- O que as palavras de Daniel Halpern movem em seu mundo interior?
- Como a tecnologia está afetando nossas relações?
- E como nossos filhos estão se sentindo?
Bem, esse texto para mim foi um tapa na cara por vários motivos. Cada dia me sinto ‘menos mãe’: as tarefas do lar não dão tempo para eu brincar com meus filhos, o trabalho me deixa exausta, o entardecer chega e logo tenho que ir fazer o jantar. Tenho compromissos que exigem minha presença, e neste exato momento minha filha me chama para brincar com ela. Hoje as mulheres, diferentemente de alguns anos atrás, não querem ser apenas mãe, desejam também buscar outros caminhos para se realizarem. E são tantas tarefas que cuidar dos filhos acaba se tornando apenas mais uma em meio a uma agenda lotada de compromissos.
Tecnologia: minutos de sossego?
O que hoje muitos pais fazem para terem seus cinco minutos de sossego? A tecnologia, os aparelhos eletrônicos, têm sido um escape ou uma desculpa? Eu cheguei a utilizar esse meio muitas vezes para ter meus minutos de sossego, mas o que isso gera na criança? Vício! Eu comecei a observar a mudança de comportamento da minha filha e como esses momentos de paz para mim estavam se tornando um tormento. Em pouco tempo, a minha filha já estava completamente viciada e quando não tinha acesso à tal tecnologia ficava agressiva, estressada. Eu tive que cortar logo o mal pela raiz e suspender completamente o uso do tablet.
‘Reprogramar’ uma criança é fácil. Nós, pais, que criamos nelas péssimos hábitos e escolhas. De fato, é praticamente impossível uma criança não ser inserida na tecnologia em pleno século XXI. Mas é preciso haver bom senso e limite por parte dos pais para a exposição e escolha de conteúdo.
Leia também: Tecnologia na infância e a geração do “Toma aqui!”
Na minha vida, eu tenho um grande problema. Meu marido gasta muitas horas em computador e celular e eu observo como esse excesso de exposição tecnológica afeta não somente as crianças, mas qualquer pessoa. Percebo que ele perde a paciência com facilidade e tantas vezes não percebe que os filhos estão pedindo atenção. E o pior é que ele não enxerga isso, e ainda diz que eu sou exagerada.
Essa triste realidade não só acontece aqui debaixo do meu teto, certamente muitas famílias passam pelo mesmo problema. Efetivamente, hoje com uma rotina de trabalho exaustiva, a televisão, tablets ou celular acabam sendo fontes de escape. Mas onde está o tempo que deveria ser dedicado aos filhos? Está sendo gasto/perdido em horas e horas em computadores e celular, tornando os momentos de convivência com os filhos cada vez mais escassos.
Filhos órfãos de pais vivos
Li algo que considero importante em uma entrevista com o escritor Sergio Sinay sobre um livro que ele escreveu com histórias de filhos órfãos de pais vivos:
A sociedade dos filhos órfãos é um chamado para pais e mães reverterem esse processo e criar um melhor amanhã. Há uma resistência em ser adulto porque a pessoa está distraída em relação ao sentido de sua vida. O autor usa o conceito de órfãos funcionais para explicar a orfandade com pais ainda vivos e critica os pais que se gabam de serem amigos e muitas vezes cúmplices de seus filhos em situações de risco como o consumo de álcool. “Um indivíduo cresce através do perigo, mas uma coisa é ter recursos (especialmente emocionais, de valores, espirituais e também materiais) diante do risco e outra é se encontrar com eles jogado ao azar”, compara o autor. Sinay compara a criação dos progenitores com o trabalho do agricultor. Não basta jogar a semente para ter uma colheita proveitosa. É preciso proteger a plantação de intempéries e pragas, além de podar as árvores. “Podar não é mutilar, é uma forma de ajudar a planta a crescer com força”, compara o autor.
Aqui neste lar, tento manter o equilíbrio. Sim, o tablet é usado, mas com moderação e de forma inteligente. Hoje minha filhota com 3 anos gosta muito de aplicativos de quebra-cabeças e de alfabeto, tem o tempo dela para isso, mas muitas vezes deixa o tablet para ir brincar. Com consciência, moderação e equilíbrio o uso da tecnologia pode ser um apoio para a criança. Mas como disse, é preciso ter prudência! Afinal, meu objetivo não é criar mais um filho órfão de pais vivos.
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