Luto! Como superar a perda de um ente querido?
Todo mundo sabe que morar no exterior traz muitos benefícios: a experiência em si é nova e diferente. O aprendizado de uma nova cultura é fenomenal, conhecer lugares e pessoas é contagiante, além da possibilidade de uma melhor qualidade de vida, enfim, são tantas coisas boas! Porém, tudo tem um preço. E o preço mais caro que pagamos é quando perdemos um ente querido. Como superar essa perda?
No início – e hoje ainda – o que mais me doía em morar fora era o fato de estar longe da minha família e amigos. Eu não estava lá presente nos aniversários, casamentos, formaturas, natais. Tantos momentos importantes dos quais só tive notícias e fotos. Também no nascimento do meu filho, eu estava aqui nos Estados Unidos, praticamente sozinha. Graças a Deus, minha mãe veio nos visitar e passou um mês na chegada dele.
Mas esse ano tive uma experiência muito triste, que tive que lidar pela primeira vez nessa temporada fora do Brasil: o luto. Tive que superar de longe a perda de uma pessoa muito amada. Obviamente por si só o luto já é muito doloroso, mas imagine passar por ele sem dar e receber o conforto e carinho dos familiares e amigos.
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Minha vó ia completar 92 anos no último 24 de julho. Ela já estava doente e poucas semanas antes estava ficando mais fraca, até que teve que ser internada e veio a falecer no dia 13. Recebi a mensagem de madrugada pelo whatsapp no grupo da família. A notícia foi estarrecedora. A última vez que a vi foi há um ano e meio, quando fomos passar férias no Brasil. Nessa ocasião, minha filha teve a oportunidade de rever a bisavó, a qual tinha conhecido muito novinha, e meu filho, nascido nos Estados Unidos, teve a chance de conhecê-la. Fizemos alguma visitas à casa dela.
Sempre positiva, com um sorriso no rosto, com seu jeitinho simples de ser que conquistava a todos. Nós tiramos algumas fotos, conversamos, e os meninos puderam ficar ao lado dela, sentar no seu colo e ouvir suas gracinhas. Minha avó era sinônimo de amor. Ela teve mais de dez filhos, criou ainda outras crianças, e sustentava a todos só com seu próprio rendimento. Costurava, cortava cabelo, cozinhava, fazia de tudo para que não faltasse nada dentro de casa. Era uma exemplo de força de vontade, garra, um exemplo de mulher! Quando chegava época de Natal, final de ano, ninguém precisava perguntar, já sabíamos que a festa seria na casa da vó.
O fato de não vê-la por muito tempo e não poder ter estado mais perto dela nos últimos anos me corroeu, mas além disso, outro sentimento brotava forte em meu coração: o de não poder estar perto da minha família nesse momento de tanto pesar. Não poder dar um abraço na minha mãe. Era um sentimento quase de culpa, uma vontade de imediatamente arrumar as malas e pegar um voo de volta pra casa. Sim, ainda considero lá minha casa, porque uma parte de mim está lá.
Nessa hora, voltam à tona tantos pensamentos e emoções que estavam adormecidos: será que vale a pena tudo isso? Morar no exterior longe de muitos dos meus amores? Nessas horas e em tantas outras, a tecnologia é fundamental. Skype, messenger, whatsapp, facebook, seja lá o que fosse, tudo que pudesse me aproximar da família, especialmente da minha mãe, foi utilizado. Eu queria estar de alguma forma mais próxima.
Criando memórias
Aqui em casa contei para as crianças, de seis e três anos o ocorrido, aproveitando para contar algumas das minhas memórias. Mostrei fotos, vídeos, e contei como ela era e algumas histórias de quando eu era criança. De como eu gostava muito de ir na casa da minha avó, sempre movimentada, sempre barulhenta com tanta gente. Ela recebendo a todos de braços abertos e sempre com um sorriso no rosto. Falei que na casa e no coração da minha vó sempre tinha espaço pra mais um, ou mais dez. Eu acredito que, apesar de eles não terem convivido muito com a bisavó, vai ficar a lembrança.
Aproximando quem está longe
Uma das coisas que eu mais prezo nessa vida é minha família. Para mim é de fundamental importância manter os vínculos, mesmo não convivendo de perto. Preciso usar diariamente todas as ferramentas possíveis para que meus filhos conheçam, confiem e vivam um pouco a vida dos avós, tios e primos, apesar da falta de contato físico. Para isso, não tem mistério: usar e abusar diariamente de conversas, mensagens e videos on-line, muitas fotos e muitas histórias, do passado e do presente. Após o falecimento de uma pessoa tão amada como minha avó, ficou ainda mais claro na minha mente que o necessário nessa vida são as pessoas, e elas, eu não vou permitir que a distância tire de nós.