Bullying no Canadá.
O dicionário de língua portuguesa define o bullying como:
“Forma de violência que, sendo verbal ou física, acontece de modo repetitivo e persistente, sendo direcionada contra um ou mais colegas, caracterizando-se por atingir os mais fracos de modo a intimidar, humilhar ou maltratar os que são alvos dessas agressões.”
Hoje, em todos os lugares, se escuta muito sobre o bullying. É muito comum ele ser praticado em idade escolar, mas não é incomum que adultos também sejam vítimas.
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No Canadá os grupos anti-bullying têm crescido muito. A sociedade vem percebendo que os danos emocionais causados pelos ataques são muito sérios, virando a vida da pessoa de ponta-cabeça e, muitas vezes, levando ao suicídio.
Neste texto falarei um pouco sobre o bullying escolar, porque é algo que nós vivemos, que nos causou danos (falo nós porque afetou toda a nossa família). E mesmo já tendo se passado vários meses desde o último incidente, às vezes, os fantasmas reaparecem.
Como acontece o bullying escolar?
Geralmente, a criança que ataca o faz disfarçadamente. Existem casos que acontecem publicamente, quando a criança que ataca se sente mais forte e não tem medo das autoridades, mas, às vezes, o bullying acontece em forma de ameaça, do tipo “se você abrir a boca, eu acabo com você”. Todas são formas de ataque comum.
Como perceber que seu filho está sendo vítima?
Cada criança reage de um jeito.
Preste atenção no comportamento do seu filho. Fique atento a tudo. Não é superproteção, é zelo.
Com a minha filha (na época com 5 anos), ela mudou o comportamento. De feliz e espoleta, ela foi murchando. Foi perdendo o interesse em brincar, parou de cantar, chegava da escola e só queria ficar quieta num canto.
Começamos a investigar o problema e vimos que ele tinha nome e endereço. Era uma família vizinha.
Mesmo depois que nós soubemos o motivo (foi muito grave) e tomamos as atitudes cabíveis, ela continuou definhando emocionalmente.
Foi ficando com medo de sair de casa, berrando até com a campainha. E o pior é que nós também estávamos perdidos. Nunca imaginávamos que isso aconteceria conosco, muito menos num país que luta tanto contra o bullying.
Como proceder com a criança que faz o bullying?
Depende muito do caso. Se é um conhecido, se você conhece os pais, se sabe como é a dinâmica deles, procure saber como e o porquê de a crianҫa estar praticando o bullying, digo, converse com os pais e investigue.
A criança que está fazendo o bullying pode estar passando por um problema emocional, por um problema em casa que pode estar desencadeando problemas emocionais na criança (problemas sociais, por exemplo).
Se você não tem contato com os pais e ainda assim quiser conversar com eles, sugiro que pise em ovos. Se você se sentir mais a vontade, chame outras pessoas além dos pais, por exemplo, uma coordenadora da escola, ou a diretora.
A situação toda já deve causar constrangimento à outra família, então é bom usar cautela, evitar julgar (mesmo que como mães e ursas, dê vontade).
Como ajudar a criança que sofre bullying?
Procure apoiar emocionalmente. Converse. Explique que em toda a vida, ela vai encontrar com pessoas que de alguma forma vão tentar com ela se sinta inferior. E isso é uma inverdade. Essas pessoas serão minorias.
Ensine ao seu filho a ver os outros com olhos de bondade. Lembrando que ser bondoso não é ser bobo, mas usar o bom senso, olhar ao próximo e se preocupar com as necessidades do todo.
Sempre que sofrer bullying, oriente-o a procurar alguma autoridade que esteja perto. Como estamos falando de bullying escolar, com o professor, coordenador, com quem estiver mais próximo.
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Converse com seu filho de uma forma que ele se sinta cuidado e amado.
Como o bullying ataca o emocional também, a criança pode se sentir odiada e desvalorizada. Não são poucos os casos de suicídio por crianças e adolescentes que sofreram bullying. Aqui mesmo na minha cidade um rapaz tirou a própria vida no estacionamento da escola. Não aguentava mais sofrer bullying e quando perceberam que ele sofria calado, foi tarde demais.
Mas, e se a escola não fizer nada?
O primeiro passo é ir até a fonte do problema. Se é na escola, como foi nosso caso, vá até a escola, converse com a professora, com a diretoria, se precisar, vá até a Divisão Escolar!
Infelizmente, mesmo com vários incidentes, nós não tivemos o suporte da escola.
Como a escola não tomou as providências e porque no nosso caso houve ameaça com arma branca, procuramos ajuda policial, ajuda espiritual e ajuda com o Serviço Social, mas tudo sob orientação da Polícia Montada do Canadá.
A rede social pode ser um grande e bom canal, mas também pode ser muito prejudicial. Se for expor, tenha muita certeza do que está fazendo, já que são muitos os envolvidos.
Anote datas dos ocorridos, tire fotos dos machucados, grave o depoimento do seu filho!
Pode parecer exagero, mas é muito bom e importante ter tudo documentado. Tome cuidado pra não expor seu filho ao ponto dele se sentir constangido.
Com tudo isso, aprendemos que a Polícia, o Serviço Social, Hospital e Escola vão tentar trabalhar juntos. Um detalhe é que talvez, mesmo com tudo isso, a Escola ainda pode negar qualquer suporte.
Nós tivemos que ir até o Ombudsman, “pessoa encarregada pelo Estado de defender os direitos dos cidadãos, recebendo e investigando queixas e denúncias de abuso de poder ou de mau serviço por parte de funcionários ou instituições públicas”, e só depois disso, nós obtivemos resposta da Divisão Escolar.
Suporte Emocional
Seja o pai que seu filho precisa. Converse muito, discipline, brinque e coloque limites. A criança precisa muito de direção, precisa de orientação.
Ela copia os pais. Parece mentira, mas é verdade. A criança repete ações e palavras.
Procure sempre saber quais são os gostos pessoais da sua criança; passe tempo com eles. Isso faz com que se sintam amados e queridos.
Se você, como mãe/pai achar que, ainda assim, seu filho precisa de ajuda, procure um psicólogo. Aqui no Canadá chama Counselor. Eles fazem um trabalho excelente com as crianças.
Se eles percebem que a criança precisa de uma ajuda mais detalhada, geralmente encaminham pra outros profisionais.
Se seu filho está sofrendo bullying na escola por ser de outro país, por favor, converse muito com seu filho, explique que é um privilégio saber mais de uma língua, ser cidadão de 2 países (ou até mais em alguns casos); o quão privilegiado sua criança é por ter tudo isso com tão pouca idade!
Cuidem dos seus filhos
Se envolva na vida deles. Não é errado você procurar saber o que ele(a) tem feito, com quem tem andado, como é a vida escolar.
Se seu filho já está conectado, fique de olho. O cyberbullying também está entre nós.
Seu filho tem praticado bullying? Ele tem sido o vilão? Discipline-o, procure saber o que tem causado a angústia que está desencadeando a raiva. Não existem filhos perfeitos, muito menos pais perfeitos, mas o diálogo, a presença, o afeto podem ajudar.
Nossas crianças precisam de nossa interferência. Nosso exemplo faz toda a diferença.
Mais informações aqui.
3 Comentários
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Nossa, que tristeza ler seu texto… tenho um menino de 6 anos e estamos morando em Ottawa. Ele gosta da escola, mas tento fortalecer ele ao máximo porque sei que criança faz muito bullying (trabalhei 8 anos numa escola no Brasil). Aqui ainda não tivemos grandes problemas, mas temos um vizinho que também estuda na escola dele e que pega bastante no pé dele, já quebrou a bicicleta dele, esses dias estávamos em casa estacionando e ele passou na nossa porta debochando do meu filho (detalhe, eu e meu marido estávamos junto!), enfim, vivo com o coração na boca só de pensar nele sofrendo na escola “à toa”, por maldade. Fique triste de ver a dor de cabeça para alguém ajudar vocês… eu adoro a escola do meu filho no aspecto conteúdo, atividades, mas acho muito impessoal o tratamento, morro de medo porque é tudo desconhecido… força pra vocês todos aí, gostei muito de te ler.
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