Como foi falar com as crianças que a vovó morreu
No final do mês de maio de 2018, em um final de tarde de domingo, tive uma das mais dolorosas notícias da minha vida. Minha mãe havia morrido!
Fui invadida por um sentimento de culpa, de dor e de remorsos. Por estar longe no Canadá, por não poder ajudar e, acima de tudo, por privar, devido à distância, o relacionamento entre a avó e os netos que ela tanto amava.
Ao mesmo tempo, não tive nem tempo para chorar. Tinha que organizar tudo às pressas para ir ao velório no Brasil.
Algumas várias ligações e tudo estava acertado: as passagens, quem iria deixar os meus 3 filhos no ônibus escolar, pega-los e ficar com eles depois da escola.
Depois a pior parte ainda estava por vir…
Como falar com as crianças que a vovó que sempre estava no FaceTime e que planejava vir depois do verão, não viria mais e se foi para sempre?
Esse assunto é bem delicado e possui várias vertentes dependendo da crença da família. Somos uma família católica carismática e meus filhos frequentam uma escola católica.
Há alguns meses atrás, um time de hockey sofreu um acidente e vários jovens morreram fatalmente. Com isso, o assunto morte veio à tona aqui em casa. Meu filho de 5 anos fez várias perguntas na época.
Ainda bem que me preocupei em orientá-lo. Afinal, no futuro ele poderia ter uma experiência de morte próxima. E, de fato, teve. Logo a vovó que o tinha como o netinho preferido – o único neto entre 3 netas.
Como foi a conversa?
Optei por conversar com eles separadamente. Eles haviam falado com a avó 1 hora antes dela morrer.
Primeiro, foi com a mais nova. Foi mais fácil, falei que ela não iria mais ver a vovó porque ela foi morar no céu e virou uma estrelinha. Ela falou que a vovó é muito linda!
Segundo, foi com o meu menino. Aí, foi mais complicado. Ele chorou. Rezou pedindo para que Deus a mandasse de volta. Perguntou porque Deus a queria no céu, já que ele precisava dela aqui. Falei que a vovó estará sempre perto dele, dentro do coração e que ela no céu pode ouvi-lo.
Por último, com a mais velha. Ela chorou muito, também se sentiu culpada por estar longe e questionou porque moramos aqui no Canadá e não no Brasil. A culpa de estar longe só aumentava. Expliquei que a vida aqui é mais tranquila e segura; e que ela poderia sempre falar com a vovó no céu e que a segunda estrela que brilhar mais forte é a vovó. Por que a segunda estrela? Eles falaram que a primeira é Jesus.
Quando falei que iria ao Brasil, eles ficaram com medo, pediram para ir junto. Não queriam uma separação nesse momento. Conversamos e explicamos tudo o que iria acontecer na semana em que eu estaria ausente e só com o pai no comando. Definitivamente, tivemos muitos amigos nos auxiliando durante essa semana e transformando a dor em alegria.
Conclusão, as crianças acharam uma forma de estar presentes no velório. Na segunda-feira, pela manhã, entregaram desenhos, bilhetes e escolheram um terço para ser entregue a vovó. Levei tudo comigo e coloquei no caixão.
Leia mais sobre Tiros em escolas americanas: a reflexão de uma mãe
Logo depois, ouvi as crianças conversando do medo de perder a mamãe e o papai. A mais velha falou, para acalmar o irmão, que ainda somos jovens e que eles já serão adultos e com filhos quando Deus nos chamar. Que assim seja!
Junto com o assunto, veio também o questionamento de que isso pode acontecer com eles.
A mais velha começou a ter medo de ficar sozinha. Medo de não nós ter por perto. O menino, que é filho do meio, tem ficado apavorado quando não nos vê ou, por exemplo, quando está brincando no quintal e não consegue abrir a porta para entrar em casa.
A morte veio como uma onda de sentimentos e questionamentos para eles.
Conversamos que a morte faz parte da vida e que, infelizmente, sim, pode acontecer com qualquer um, em qualquer idade. Falamos que eles não ficarão sozinhos, que temos um testamento. Em outro post, vou falar sobre a importância de se ter um testamento, indicando nossa vontade e com quem eles ficarão.
Enfim, agora fica a falta, a saudade, o vazio de não ter mais o colo de mãe para correr e para me sentir protegida.
Uma conversa se tornou um monólogo, ficando apenas o eco. Dessa forma, não é apenas uma pessoa que se vai, mas sim todo um universo. Deixando agora um mundo feito de lembranças e de saudades.
Minha dica é: aproveite para estar presente enquanto puder e demonstrar que ama as pessoas que são importantes na sua vida. Pois quem amamos hoje, pode não estar aqui amanhã.
Aqui, no post da Juliana Alves, que reside no Japão, ela relata a experiência dela sobre contar aos filhos sobre a morte do avô no Brasil.
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