O que NÃO dizer a uma mulher que sofreu aborto
Muitas mulheres testemunham a sua gestação ser interrompida de forma espontânea ou devido aos riscos da gravidez. Por ser sempre uma situação repentina e extremamente dolorosa, as pessoas ao seu entorno tentam consolá-las. Contudo, por não saberem bem o que falar, dizem coisas que não ajudam em nada e que, certamente, elas prefeririam não ouvir (apesar de saberem que quem o fez tinha as melhores das intenções).
Por esse motivo, neste texto, comento um pouco como se sente uma mãe que perde um filho que ainda estava em seu ventre e começo logo revelando as razões do que não dizer a uma mulher que sofreu aborto.
“Logo você terá outro filho”
Nunca diga para que fique tranquila que logo ela terá outro filho. Quem é mãe sabe, cada filho é único. Um não substitui o outro. Isso não atenua o seu sofrimento.
“Melhor agora que depois”
Muito menos fale que foi melhor que acontecesse agora. Tendo meses ou anos, ela sempre terá perdido um filho. Com enterro ou não, ela está de luto e doída pela sua perda.
“Sabe, fulana também…”
Não conte outros casos. Não minimize e compare a sua angústia. Cada um vive a morte de um jeito. Cada situação é sui generis, ímpar. Saber que outro alguém passou por uma situação semelhante, mais complicada ou mais simples, não ameniza a sua dor. Pior, dada a fragilidade em que se encontra, pode entristecê-la ainda mais.
“A natureza é sabia; Deus sabe o que faz; É seleção natural”
Falar essas frases batidas pode até ser que ajude, porém, não necessariamente. Muitas vezes esses clichês as fazem enfurecer.
A perda de um filho
Quando uma mulher sofre um aborto, o que ela mais gostaria é de ter mais um tempo para compreender tudo antes que o pior acontecesse. Essa mãe carrega consigo a culpa mais visceral e velada que se possa imaginar. O bebê estava dentro dela: “O meu corpo não foi capaz de gerar aquela vida…”, “Será que foi algo que fiz?”, “Ou, que não fiz?!”, “Por que isso foi acontecer conosco?”, entre outras coisas mais.
Ela padece de uma dor tão indescritível, como a de qualquer mãe que perde um filho. Sim, para ela significa a morte de um filho. A despeito da idade gestacional em que se encontrava, trata-se sempre, repito sempre, de um filho.
Por conta disso, tenderá a enfrentar as mesmas nuances emocionais e cognitivas de um luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação (5 fases do luto de Elisabeth Kubler-Ross).
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A purificação do choro
Então, chora para ter as certezas que não tem. Para aprender a lidar com os fatos da vida. Para retomar os seus passos e para reencontrar a paz que não existe mais.
O silêncio presente também conforta
Consequentemente, ter você por perto é importante. Ela precisa se sentir acolhida.
Caso não tenha nada de diferente para falar, abrace, olhe, chore junto, mas, cale-se. Ela sentirá todo o teu apoio e carinho mesmo que você não diga absolutamente uma palavra. Mostre-se presente. Pode ser com um simples telefonema ou com uma mensagem dizendo algo, como: “Oi, estou aqui, se precisar…”
Até mesmo o silêncio acolhe e, em geral, é mais respeitoso, desde que, se faça presente. Abandonar uma mulher em um momento como este pode fazer com que se sinta ainda mais penalizada pela vida.
Ao compreender a delicadeza e a complexidade de tal acontecimento, fica mais fácil de se entender as razões pelas quais essas frases não deveriam ser ditas a uma mulher que sofreu aborto.
Todavia, com o passar do tempo ela melhorará, recomeçará. Enquanto os dias passam e os sentimentos mudam, fique junto dando conforto, com a tua mão estendida e o ombro amigo. De modo que ela realmente se sinta escutada e consolada.
Posteriormente, talvez, de verdade, chegue outra vida. Entretanto, aquela que se foi sempre existiu e eternamente existirá dentro dela, como uma cicatriz marcada pelo fogo.
A presto.