Você é uma sobrevivente de 2020? Então viva !
Uau, que ano foi 2020! Acho que isso foi o que cheguei mais perto para descrever esse ano que passou.
O ano 2020 começou como todos os outros, cheio de expectativas, novos planos, promessas, previsões otimistas e pessimistas. A vida seguia bem até março, quando explodiu a bomba. Uma bomba chamada COVID-19.
Essa pandemia veio nos tirar o chão, inverter planos, trazer insegurança, medo, quebrar bolsas de valores, mudar nossas rotinas, fechar lugares, mudar hábitos e abrir novos caminhos. Lembro-me claramente de pensar que seria somente um mês de confinamento. Muitas pessoas otimistas no começo e muita gente, inclusive eu, acreditando que tiraríamos de letra. Afinal, somos seres humanos evoluídos e temos todos os avanços tecnológicos na nossa mão.
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A gente sempre resolve tudo, brincando de ser Deus
Durante todo esse tempo vi muitos “homens” achando realmente que podiam ser Deus. Cada vez mais observando percebo que o mundo realmente gira em volta do poder. Temos necessidade de ter poder, de estar no poder, de ter o controle, de achar que somos onipotentes.
Vi outro dia uma explicação sobre o Mito da caverna de Platão com a filósofa Lúcia Helena Galvão e é engraçado como achamos que estamos evoluindo como sociedade e como ser humano, quando na verdade só colocamos novas roupagens em formas antigas de nos relacionarmos. Existe sempre a engrenagem onde os mais fortes, ou os que estão detendo o conhecimento, controlam os que estão iludidos e na ignorância.
Assim, acho que também aconteceu com essa pandemia. Houve muita especulação, complô, calunia, difamação, fake news e a velha conhecida briga pelo poder. Milhões de pessoas mortas, famílias inteiras dilaceradas, muita dor, tristeza, depressão, ataques de pânico e a incerteza que nos feriu cruelmente todos os dias.
Quando penso em todos os “jogos” que houveram, me sinto realmente um marionete assistindo ao teatro de sombras (Mito da caverna de Platão).
Eu também desanimei
Eu também deixei de acreditar por um momento, meses atrás, mas a minha profissão me ensinou a olhar para o ser humano como algo inacabado, imperfeito e sedento por aprender e evoluir. Resolvi então olhar mais a fundo e descobrir a outra face da moeda do poder.
A outra face do desejo humano é ser amado, estar com as pessoas que ama, estar em contato. Apesar do Palco me mostrar um show de horror, era melhor dar crédito ao que via nos bastidores. E mais do que a morte física, muita gente percebeu a tempo que precisávamos prevenir a morte psicológica e tratamos de obedecer a mãe terra e escutar a sua lição.
Para quem foi ao camarim viu a vida acontecer, viu muita solidariedade, amor, esforço, deu importância à vida, ressuscitou valores que estavam sendo esquecidos, ressignificou hábitos, aprendeu a usar a distância para criar possibilidades, usou do mesmo poder para fazer o bem comum, se uniu e aprendeu a lição. A lição de que estamos aqui somente para uma única coisa: aprendermos uns com os outros e evoluirmos juntos. Pois já dizia meu pai em suas sábias palavras: “caixão não tem gaveta”.
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Então, afinal, para que te serve acumular dinheiro e bens, se não vai usufruir dele na eternidade?
Foi um ano difícil, mas de muito aprendizado. E se a gente parar para refletir, as lições mais profundas são as mais demoradas e difíceis de aprender. E tenho certeza que evoluímos como sociedade.
O ano 2020 foi quando aprendemos a olhar para dentro e deveríamos comemorar, não pelas pessoas que perdemos, mas para o quanto aprendemos com esse ano, com essa crise existencial. Deveríamos agradecer por olhar de novo para o maior valor das nossas vidas: estar com o outro, aprender a SER. Aprendemos a olhar nos olhos de novo, mesmo que seja através das câmeras, aprendemos a aproveitar cada segundo de algum contato, percebemos que a calma e o dentro são muito mais valiosos que um monte de compromissos vazios e às pressas.
Logo que percebi que deveria continuar lutando, olhando para frente e tirando alguma lição de tudo isso, olhei e procurei me cercar de notícias boas, de pessoas boas e de ações que valiam a pena. Foi aí que acordei e entendi que mesmo que tudo pareça estar desmoronando, precisamos ficar atentos para aprender a lição que vem nas entrelinhas.
A vida vale a pena e você é uma sobrevivente de 2020
E eu espero que agora que você está em 2021, faça planos, promessas, crie expectativas, mas não se esconda atrás delas para fazê-las acontecer somente no palco da vida, mas principalmente dentro do seu camarim.
Seja a pessoa que vive tanto no teatro quanto na coxia o que tem que ser vivido.
Não tenha medo de viver os diferentes tipos de papéis, enfrentar cenas mais fáceis e as mais difíceis, pois todas elas são parte do seu crescimento e do seu espetáculo.
Quais são suas expectativas para 2021?