A gestante, a partir de quando se apropria da gravidez, preenche sua vida de informações e sonhos. Busca leituras e relatos sobre parto, sobre amamentação, sobre criação, ao mesmo instante em que idealiza o bebê em seus braços, as trocas afetuosas de olhares e o nascimento de um amor incondicional.
Porém, nem sempre tudo o que se imagina e se espera, tudo o que se leu, viu nos livros e nas redes sociais, acontece. E daí nasce a frustração, a culpa e uma série de indagações sobre o maternar.
A construção do vínculo
Um destes grandes questionamentos, carregados de angústias, é o vínculo com o bebê. Após tanta espera, tantos planos e aquela vontade de ficar juntinhos, a mãe sente uma falta de conexão com o bebê. E não estamos falando em reações naturais do puerpério, tampouco de baby blues e depressão pós-parto. E sim de algo que não é instintivo, mas que esqueceram de dizer.
O vínculo mãe e filho não é nato e sim construído, como qualquer relação. É claro que pode existir amor à primeira vista, mas um encontro contínuo entre duas pessoas requer tempo, prática e mais um turbilhão de convivência e emoções.
A preferência da criança
Mas e quando o vínculo flui muito bem e a criança demonstra um maior apego a outra figura de representação, como o pai? A preferência da criança por alguém que não seja a mãe também acontece e não significa falta de vínculo, afeto e que seja permanente.
Remetendo à minha infância, foi inegável a minha preferência pelo meu pai. Minhas maiores recordações quando muito pequena era dele se despertando durante a noite quando eu chorava, dele me levando para encontrar os ovos na época da Páscoa, dele sempre elogiando as minhas roupas e o meu cabelo. Enfim, meu pai sempre estava presente nestes doces e confortáveis momentos. E onde estava a minha mãe?
Hoje, adulta e também mãe, me recordo dela como a que sempre se levantava primeiro e deixava a mesa do café da manhã posta, da que saía para trabalhar às 7h e voltava depois das 18h e ainda preparava o jantar, lavava a louça e arrumava a nossa cama.
Cada um diante de suas rotinas, acabou por apropriar-se de algumas funções e essa divisão foi necessária. Ambos foram importantes. E mesmo eu sendo apegadíssima ao meu pai, hoje me vejo sendo para o meu filho a mãe que eu tive e sinto muito orgulho disso.
Frequentemente, a criança desenvolve certa preferência por um dos seus progenitores, independentemente de “o privilegiado” ter feito muito, pouco ou nada para ganhar esse afeto. Essa realidade pode resultar em muito ciúmes e ressentimento. A mãe rala, morre de culpa por dar bronca, e o filho não pode ver o pai que sai correndo para abraçá-lo.
Em famílias cujos pais saem para trabalhar e as mães trabalham em casa e ficam mais tempo com os filhos, a figura da mãe é a de quem briga, coloca as regras, enfim, “a mãe função”. Por mais que também haja diversão e partilha de tarefas entre os genitores, as “chatices” normalmente partem da mãe.
As crianças sempre buscam no pai aquilo que falta na mãe e vice-versa. O ideal é encontrar um equilíbrio: os dois cuidam, dão banho, estabelecem as regras, educam e brincam também. É importante também propor algumas brincadeiras e atividades que a criança faça só com a mãe e outras que só faça com o pai.
Um ato de amor e respeito
Os vínculos dos filhos com os pais precisam de respeito, de paciência e de muito carinho. Conversar com os pequenos, transmitindo-os paz e tranquilidade pra estreitar o reconhecimento do contato, da pele e da voz e promover, pouco a pouco, um ambiente confortável para ambos.
Prestar atenção a todos os comportamentos do bebê, aprender a reconhecer os sinais que os filhos dão por meio de gestos e expressões corporais é uma habilidade que fortalece a relação. Para se tornar um mestre nessa arte só existe um caminho: prestar atenção. Algo que parece óbvio, mas que pode ser deixado de lado na correria.
O contato físico é muito importante: os carinhos, os beijos e os abraços são a expressão do nosso afeto. Além disso, fazer massagens nos pequenos pode proporcionar segurança e tranquilidade.
A amamentação materna é um dos momentos mais importantes de conexão com os filhos, assim como a hora do banho, do brincar, do contar histórias. Não economizem na expressão verbal; falas com troca de olhares, cantos e contos, qualquer troca de afetos é sempre importante.
Aproveite os momentos das refeições, do banho ou da troca da fralda para olhar diretamente nos olhos dos pequenos, para o mimar, o sorrir e o falar.
Abrace, dê colo, mime e toque o bebê sempre que lhe apetecer. Tenha perto de si. O contato pele a pele favorece a confiança, o carinho e a cumplicidade.
Esteja presente nos momentos de medo, de dor, de cuidado. Pegue-os nos braços e converse com eles, diga que entende a sua dor e as suas emoções, e que você irá sempre confortá-lo.
As crianças são pessoas independentes e como pais devemos ajudá-las a serem livres e a agir conforme suas motivações, desejos, necessidades, gostos. As crianças são pequenas, mas não por isso têm menos direitos em decidir o que queiram ou não fazer. Devemos respeitar seus critérios, sua forma de se expressar, de se relacionar com o meio e, é claro, entender que não são nossas propriedades, e que desde o seu nascimento são pessoas livres.
Lembre-se sempre que cada pequena conquista diária, cada aproximação, cada troca serão importantes, mas que também haverá dias de regressão e tristezas. Essa oscilação faz parte do processo parental!
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