Você sabia que acontece um suicídio a cada 40 segundos no mundo? Que a faixa etária mais afetada é a de 15 a 29 anos, sendo a terceira causa de morte? Que entre as idades de 10 a 14 anos, o suicídio está como sétima causa que mais mata? Dados alarmantes, não é mesmo? Por isso precisamos falar sobre o suicídio na adolescência
Este artigo não tem como intuito preocupar os pais, mas sim alertá-los sobre esse grande mal que afeta nossos jovens ao redor do mundo e também para ajudar a entender e detectar alguns sinais importantes para a prevenção.
De maneira geral, o suicídio acomete mais de 800 mil pessoas por ano em todo o mundo. No Brasil, durante os anos de 2006 e 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou um aumento de 24% no índice de suicídio entre jovens, e acredita-se que esses números devem ser maiores, pois para cada registro oficial, há ao menos quatro tentativas não registradas.
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Essa situação está tão grave que a própria OMS determinou a redução das taxas de suicídio em 10% até 2020, como imperativo global.
Outro dado importante é que jovens LGBTs são apontados, em diversas pesquisas, como grupo de risco. Em 2009, o periódico científico “Journal of Youth and Adolescence”, por exemplo, apontou que entre estudantes de 13 a 19 anos, 30% dos membros da comunidade LGBTs já haviam relatado ideação suicida, contra 6% entre os heterossexuais e não transexuais.
Ao ler manchetes nos jornais e revistas ou ver os noticiários na televisão, não é raro deparar-se com novos suicídios entre os jovens em todo o mundo. Esta crescente não é plenamente justificada, mas com certeza nos remete à sociologia prática de Zygmunt Bauman, que estabelece as relações sociais atuais como líquidas, frágeis, frouxas e tangíveis.
A adolescência é um período de desenvolvimento estressante, cheio de grandes mudanças corporais, de pensamentos e sentimentos. As confusões, medos e incertezas, bem como a pressão pela tomada de decisões importantes, influenciam a capacidade do adolescente de resolver problemas e vislumbrar soluções. Para alguns, as mudanças naturais do desenvolvimento, agregadas com outras demandas sociais, contextuais e situacionais podem parecer difíceis e embaraçosas de superar, e é quando o suicídio pode aparecer como uma solução.
Na sociedade de um modo geral, mas principalmente entre os jovens, imperam as ações de ESTAR e TER em detrimento ao SER. Não importa a sua essência, o que se apresenta ao mundo (em grande parte o virtual) é o que se gostaria de ser. Há uma massa de intolerantes a uma mínima frustração e incapazes de buscar resoluções mais custosas aos problemas.
Os jovens se camuflam e se refugiam em personagens de games (jogos), em tipos influencers (influenciadores), em destemidos e ousados consumidores de drogas ou simplesmente preferem o ostracismo.
O fato é que a sociedade literalmente está adoecendo e cada vez mais prematuramente. Embora não podemos vedar os olhos ao comportamento excêntrico e periculoso de nossos jovens e assumir que é apenas uma fase de “aborrecimentos e chatices”, um olhar e um ouvido atento é sempre o melhor recurso.
Fatores de Risco
Os fatores de risco mais importantes para a intenção suicida entre os adolescentes é a depressão, abuso de substâncias e comportamentos agressivos e perturbadores. Fatores como a desigualdade social e o desemprego também são relevantes.
Adolescentes que não têm com quem dividir experiências e tristezas têm maior probabilidade de desenvolver problemas emocionais, comportamentais e afetivos.
As chances de desenvolver ideação suicida aumentam em dez vezes para jovens envolvidos em bullying, sejam agressores, vítimas ou simultaneamente vítimas e agressores.
Associada a pouco apoio e baixa autoestima, a gravidez na adolescência pode também ser fator de risco.
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Sinais de advertência
Muitos dos sinais de possíveis sentimentos suicidas são os mesmos de sintomas depressivos. Alguns dos sinais de risco, apontados por pais e profissionais da saúde, são:
- Mudanças nos hábitos alimentares e sono;
- Perda de interesse em atividades habituais e antes prazerosas;
- Isolamento de amigos e família;
- Comportamentos inadequados e evasivos, irritabilidade ou apatia;
- Uso de álcool e drogas;
- Negligência a aparência e cuidados pessoais e baixa autoestima;
- Culpabilização excessiva;
- Assumir riscos desnecessários;
- Preocupação pela morte e o morrer, exaltando o assunto;
- Aumento de queixas físicas frequentemente associadas a angústia emocional, como dores de estômago, dores de cabeça e fadiga;
- Perda de interesse nos estudos e baixa no rendimento acadêmico;
- Sensação de tédio;
- Dificuldade de concentração;
- Desejo de morte;
- Falta de respostas a elogios;
- Mostrar planos de morte, expressar o desejo suicida, ofertar seus pertences pessoais e importantes, expressar pensamentos bizarros, alegrar-se repentinamente após um período de depressão e escrever cartas suicidas.
Abuso de substâncias e depressão
Muitos artigos científicos já foram publicados onde vinculam o uso da maconha à saúde mental, porém em fevereiro último a renomada JAMA Psychiatry divulgou uma conclusão alarmante: quem usa maconha na adolescência tem um risco maior de desenvolver depressão ou comportamento suicida na vida adulta.
Os pesquisadores acompanharam quase 24.000 adolescentes até a sua fase adulta e constataram que usar maconha na adolescência aumenta em 37% o risco de ter depressão na fase adulta da vida, além de ter 50% mais chances de apresentarem pensamentos suicidas e um risco de tentativa de suicídio três vezes maior do que aquelas pessoas que não usaram maconha.
Tal análise pode estar inclusive relacionada a vários estudos que demonstraram a vulnerabilidade do cérebro em sua fase de desenvolvimento que, quando exposto às drogas e ao álcool, seus efeitos são ainda mais nocivos, com um impacto maior sobre a tomada de decisões e autocontrole.

Fonte: pixabay.com
Prevenção ao suicídio
A forma mais eficaz de prevenção é o reconhecimento e a intervenção precoce aos transtornos mentais, sobretudo depressão, ansiedade e abuso de substâncias. Manter uma comunicação aberta com o filho adolescente e com o círculo de amizade dele também são essenciais.
Outros passos que os pais podem tomar:
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- Não permita que a depressão ou a ansiedade de um adolescente aumente sem controle: talvez seu filho apenas tenha tido um mal dia, porém se isso durar algumas semanas, acompanhado de um isolamento, muitas vezes para chorar em segredo, toque na porta, sente ao seu lado e questione;
- Escute seu filho mesmo quando ele não estiver falando: a não ou má comunicação familiar é um dos fatores circunstanciais que pode levar à ideação suicida;
- Nunca ignore as ameaças de suicídio ou a considere apenas como um melodrama típico de adolescente: embora as pessoas que ameaçam abertamente o cometimento de suicídio, na realidade não tentam, a ameaça por si já é um sinal desesperado e pedido de socorro. Sendo assim, não o ignore ou deboche. Ouça-o com empatia, diga que o entende e ofereça ajuda;
- Busque ajuda profissional de imediato.
- Compartilhe os sentimentos: diga ao seu filho que não está só e que todos temos momentos de tristeza, inclusive os pais. Ninguém é uma fortaleza e buscar ajuda não é, nunca, um sinal de fraqueza;
- Anime-o a não isolar-se e estar sempre que possível em grupo de amigos ou familiares. Apresente atividades sociais e, se necessário, o acompanhe;
- Recomende e incentive sempre a prática de exercício físico: fazer atividades físicas libera endorfina e reduz a quantidade de cortisona que está vinculado a depressão, além de distrair as pessoas de seus problemas;
- Adolescentes são habitualmente ansiosos, então incentive-o a desacelerar e assumir menos responsabilidades até que as coisas se restabeleçam, isso fará com que o adolescente volte a fomentar a confiança e a autoestima;
- Se o adolescente já se encontra em tratamento, lembre-o de que os resultados não são imediatos, mas que eles virão, mesmo que haja momentos de piora e desilusão;
- Manter medicamentos e armas de fogo fora do alcance, pois também pesquisas apontam que a maioria dos adolescentes utilizam estas vias para tirar a vida.
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Até a próxima!
3 Comentários
Eu sabia que o número de suicídios tem aumentado, a ponto de ter pessoas próximas passando por essa perda. Antes eu só escutava em noticiários. O que me deixou mais surpresa com esse texto é saber que esse número tem aumentado entre os adolescentes. Que triste saber disso.
Lembro que as mudanças mexeram bastante comigo, mas apesar de tudo não me lembro de ter ficado deprimida e não conhecia ninguém que tivesse passado por isso. Talvez a nossa expectativa em agradar ou ser aceito não era tão alta quanto hoje. Atualmente vejo muitas pessoas sendo “avaliadas” pelo número de seguidores e de likes que recebem. Triste mesmo.
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