Conversando com as colunistas do Mães Mundo Afora sobre ideias para o meu texto desse mês, foi sugerido um tema pela querida Talita Rouvier que logo me tocou profundamente. Sim, minhas queridas, todas as mães choram, todas as mulheres choram e necessitam chorar.
Desde que nascemos temos um ser encantado, imaculado, enorme e que resolve todos os nossos problemas: a mãe. Aprendemos desde pequenos que a mãe é invencível, super-mulher, detentora de todas as verdades, encantamentos, poções mágicas, soluções inimagináveis e que seu colo é o porto seguro que cura todas as dores.
E é assim com quem está em volta também. Todos perguntam coisas a ela: o médico, o pai, os avós, as professoras, os vizinhos, etc. Ela parece ter uma espécie de manual ou guia do filho, onde todos vêm consultar, e se ela não sabe, dá um jeito de procurar saber. Lindo né, mas cruel em algumas instâncias, principalmente para a mulher que está dentro desse papel de mãe.
Essa mulher que não pode demonstrar os seus sentimentos, que é educada para assumir esse papel com maestria sem mostrar suas fraquezas, que sofre calada, sozinha, que chora na madrugada com o filho no colo, às vezes com o peito sangrando e que está tão assustada quanto o bebê.
A autora Laura Gutman em seu livro “Maternidade e o encontro com sua própria sombra” descreve muito bem o sofrimento dessa mulher e o peso nos ombros que todas nós carregamos:
Nós, mães, estamos inundadas de conselhos e opiniões e, no entanto, dolorosamente sozinhas e isoladas.”
O sistema patriarcal aceita somente dois papéis sociais que a mulher pode exercer na sociedade: o papel de mãe e de esposa. Eu te pergunto: por que será? Porque são os dois papéis que são interessantes ao homem. Ele é servido e exaltado neste lugar, pois o homem que faz a mulher virar esposa e mãe. Ele é o macho Alpha que conquista e cuida dessa mulher. É ele que “copula” e faz o filho nessa mulher. Parece uma coisa de tempos atrás falando assim, mas não é. Ainda está entranhado em todas nós essas crenças e esse sistema. Ainda somos educadas para servir.
Mulheres são seres humanos sensíveis, sensitivas, intuitivas, criativas, produtivas e férteis. Por natureza somos o que a autora Clarissa Pinkola Estés, em “Mulheres que correm com os lobos” descreve como mulheres selvagens. Clarissa usa esse termo para descrever uma vida interna que habita em todas nós, uma vida integrativa, da essência feminina.
… segundo as leis da natureza, elas têm igual direito a crescer e vicejar (…) um relacionamento que pode ter sido soterrado pelo excesso de domesticação, proscrito pela cultura que nos cerca.”
Nós sofremos com a domesticação, com o enquadramento e sufocamento dos nossos sentimentos a um padrão que não é natural. Somos cobradas e acreditamos que esse é o nosso natural.
Ser mãe e poder chorar
Mães sofrem, choram, sentem raiva do filho, não o amam incondicionalmente logo na hora que nasce, não sabem amamentar naturalmente, ficam perdidas, se sentem frustradas, não têm todas as respostas, precisam de colo, de empatia, de compreensão, amor, afeto, descansar e tudo mais que qualquer outro ser humano precisa.
Carregamos o peso de nos moldar em padrões impostos pela sociedade e nos sentimos aprisionadas e envergonhadas cada vez que temos vontade de libertar esses instintos, essa mulher selvagem, as nossas emoções. Na maioria das vezes sofremos caladas, fingindo saber das coisas, nos culpamos, nos martirizamos, nos comparamos com outras mães.
Chorar é parte do extravasar das emoções, é natural a todos nós. É a nossa primeira forma de se expressar enquanto ser humano. Clarissa Pinkol Estés defende as lágrimas como sendo algo muito importante e vital para as mulheres, afirmando ainda:
Fico preocupada quando a vergonha ou o desábito começam a eliminar uma função natural. Ser uma árvore florida e estar cheia de seiva é essencial, se não você pode quebrar. Chorar faz bem, e é certo. “
Muitas vezes ouvi do meu marido, de muitos homens e até mesmo da minha mãe que chorar não resolveria o problema ou que não adiantava chorar para fugir da conversa. Todas essas crenças e falas são um grande absurdo, pois chorar, como já disse, é parte do desenvolvimento humano, é estruturante e necessário para aliviar a dor. Chorar não resolve problemas, mas evita o colapso emocional.
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Por isso esse tema mexeu muito comigo, quando sugerido. Porque ele é comum a todas nós. Temos uma natureza mais sensível, somos as detentoras do universo das emoções, somos nós que libertamos nossos filhos para as emoções e suas expressões. E por que não podemos nos libertar também?
Quem aqui nunca dormiu exausta de tanto chorar? E depois se sentiu muito bem e com mais força para enfrentar o problema?
Chorar abre espaço interno. Chorar é nos fazer humanas, imperfeitas, frágeis. É se perdoar e se amar.
Eu tenho o choro como o meu aliado, como a minha válvula de escape e convido você também a se libertar. Não tenha medo de ser quem você é, não tenha medo das suas emoções. Elas indicam o caminho do seu coração.