Viajar para aproveitar as férias de 2020 já parecia ousado para muitas pessoas. Isto por se tratar do ano da pandemia do COVID-19. Acrescente a este cenário ser as primeiras férias de uma profissional autônoma. Tudo para ser inovador, intenso e profundo… e assim foi. Trago neste texto relatos dessa experiência que expandiu minha consciência sobre mim e sobre o minha relação com o trabalho.
Férias e o paradigma do trabalho
Por mais de dez anos eu trabalhei nos moldes laborais tradicionais. Ou seja, profissional contratada no regime da CLT brasileira. Somado a isto, eu não estava na área que realmente desejava atuar, mas as condições financeiras eram mais favoráveis lá. Então facilmente me vi repetindo os padrões comuns da população. Passar os dias idealizando o que fazer nos finais de semana. E também passar os meses na contagem regressiva para as tão sonhadas férias que eram sinônimo de liberdade.
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Nas entrelinhas e no padrão de comportamento trazido pelos empregadores havia a tal cultura de inverter as prioridades. Tinha hora para iniciar as atividades laborais e recebia olhares de reprovação quando cumpria exatamente o horário e entregas que eram acordados. O trabalho acaba por ocupava o dia inteiro. E as poucas horas vagas que sobraram eu tinha que ser mágica para dividir tentando multiplicar o tempo para mim e minha família. Na prática era exigido sempre mais. Tornava-se constante ter que superar metas que já eram altas e com isso vinha sensação de estar sempre em dívida. Ah, que mal isso faz no longo prazo!
Tive momentos felizes lá? Sim, muitos! Entretanto o ônus dessa modalidade me distanciaram dos meus reais desejos, da minha essência.
Profissional autonôma tira férias?
Veio a oportunidade de migrar para o outro modelo: trabalhar com o que eu realmente gostava e por conta própria. Isto é, trabalhadora independente, autônoma, profissional liberal, minha própria gestora! Um formato que eu julgava ser mais livre e leve. E poderia realmente ser assim. Contudo eu caí na minha própria armadilha. Saí de uma matrix e quase entrei em outra!
Antes presa no paradigma da alta performance ditada pelos empregadores. Depois presa na alta produtividade cobrada por mim mesma para minimizar o medo diante do novo. Insegurança diante da imprevisibilidade de quantos clientes eu teria ativaram antigos traumas atrelados à escassez.
Primeiramente as férias eram fuga da realidade pesada do trabalho tradicional. Depois férias estavam se tornando uma ousadia para a profissional liberal.
Férias e COVID-19
Eu estava fazendo o que eu queria, mas isso ainda não me trazia paz. Porque eu estava errando na forma de fazer. Devido às incertezas e inseguranças eu continuava acelerada e confusa. É desafiador mudar o nosso padrão mental. Principalmente medos oriundos de heranças familiares ou do nosso inconsciente coletivo, por isso mesmo, muito profundos. Cenário que foi potencializado porque atuo como terapeuta auxiliando as pessoas a lidarem com conteúdos densos. Ou seja, estava tudo elevado à máxima potência.
Eis que surgiu a pandemia trazendo uma grande pausa/lacuna e fez todos repensarem o real sentido da vida. E o que ela me ensinou foi que: Recomeçar exige humildade! Reaprender a lidar conosco e com o mundo. Valorizar o que nos é verdadeiramente essencial.
Quanto mais nos distanciamos do essencial, tanto mais irrequietos, desatentos e confusos nos tornamos.” (Bert Hellinger)
Sabe quando você desperta e finalmente enxerga algo que estava lhe fazendo mal? Então, eu praticamente ouvi o barulho do caça níquel diante de tantas fichas que foram caindo. O desejo de férias que estava adormecido voltou a ganhar forças.
Percebi que as férias são importantes para que eu esteja bem e possa retornar com as melhores condições de ajudar os que me procuram. Algo que todos nós devemos nos conscientizar e agir: aprender a cuidar de si para então estar em boas condições para cuidar do outro.
Férias em família na Alemanha
Primeiramente chegaram as confirmações de que as fronteiras entre os países da união européia estavam liberadas e as passagens entraram em promoção. Logo optei para ir até a Alemanha visitar minha prima que também é minha madrinha. Unindo a pausa em família para também nutrir a alma.
Realmente foram férias nutritivas! Como haviam muitas restrições com relação aos passeios em virtude da pandemia nossas programações foram adaptadas para atividades na natureza e reunião da família em casa. Resgatamos o prazer de desfrutar do simples com qualidade. Iniciamos a montagem da árvore genealógica da família. Conhecemos parques naturais encantadores. Experimentamos novos sabores e texturas. Desenvolvi e despertei talentos como aprender a costurar e fazer pães. Desenferrujei o inglês para poder me comunicar com os alemães. E ainda voltei cheia de ideias para novos projetos. Enfim, foram ótimos momentos que valeram muito!
Férias são sinônimo de autocuidado! Deixo aqui um recado especial para nossas leitoras que são profissionais autônomas: Se permitam ter pausas e momentos de reconstrução. Essas etapas são importantíssimas para você desenvolver seu produto de maior sucesso: você mesma!
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