Burnout materno. Este é um assunto muito sério e me veio por dois motivos: primeiro, já sofri de um esgotamento fisico e emocional e, segundo, lembrando de quando fui à biblioteca com uma amiga e ela me deu um livro e disse: “assunto pra você!”. E era.
O livro foi escrito por uma psicóloga e psicanalista francesa, Etty Buzyn, que já escreveu vários títulos, entre eles esse que estou lendo: ”Quand les mères craquent” (ainda sem edição em português), que eu traduziria por “Quando as mães surtam”. Coloquei ‘surtam’ porque já passei por essa mesma situação e sei bem como é. Esse livro veio em uma boa hora, pois se fosse há um ano, eu seria incapaz de lê-lo. Eu não conseguia nem me concentrar. Enfim, é assunto para meses…
Minha experiência pessoal
Ser mãe é extremamente prazeroso, apesar de muito cansativo. O amor que sentimos pelos nossos filhos é imensurável e a carga cotidiana que temos é árdua.
Sou mãe de três filhos e quando engravidei do terceiro não imaginava o quanto minha vida mudaria, em todos os sentidos. Diria que o trabalho triplicou. Mudou totalmente a organização – da casa ao carro, tudo foi revisto e reorganizado. Éramos quatro, viramos cinco.
Na gravidez, a nossa única preocupação foi que tudo estivesse pronto para o nascimento do nosso bebê. Eu organizei tudo, parece que já pressentindo o cansaço que estava por vir.
Pensando no meu bem-estar e no dos meus filhos, 15 dias antes do nascimento da minha caçula, eles viajaram para passar férias no Brasil. Eles estavam acostumados e era o período de férias. Eu e meu marido pensamos que o bebê nasceria, eu descansaria, os meninos estariam de férias e bem cuidados, sem estresse para a organização de atividades e 15 dias depois do parto eles voltariam. Bom para eles e bom para nós. Ótimo, pensei. Mal sabia o que estava por vir.
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Quando a minha filha nasceu, eu fiquei em um quarto com outra mãe, que gemia dia e noite. Deus sabe o porquê, eu não. Quando não era ela, era o filho. Resultado: depois de cinco dias na maternidade o que eu mais queria era voltar para casa e descansar.
Quinze dias depois, os meus filhos voltaram como havíamos previsto e foi uma fase bem complicada. Tínhamos que nos adaptar com mais um integrante na família. Cada um reencontrar o seu espaço.”
Eu amamentei meus três filhos e sempre tive muito leite, mas tinha que acordar a minha caçula com frequência pra mamar. No primeiro mês eram compressas quentes, argila e muita massagem para o peito não empedrar. Amamentar cansa, e muito. Mas não abriria mão desse momento único que enriquece a relação entre mãe e filho. Estava exausta, com leite para dar e vender e não encontrava posição para dormir.
Minha caçula foi muito apegada a mim no dois primeiros anos de vida. Até um ano, dormia somente se fosse comigo, mamava de três em três horas e o sling virou o meu maior aliado. Nos primeiros meses você empurra com a barriga e tem sempre a esperança de que tudo volte ao normal.
Mas, além da caçula recém-nascida, meu filho mais velho, com 10 anos na época, tem TDAH e parece um robozinho ligado no 220W dia e noite. Ele necessita de bastante atenção e não pára. Mais um fator estressante. O do meio, com 5 anos nesse período, não fica para trás e precisava de outro tipo de atenção já que, até então, ele era o caçula. Aos poucos, ele foi aceitando a irmãzinha. Com tempo e paciência tudo entrou nos eixos.
Cansaço + cobrança pessoal + ansiedade = esgotamento
Durante o dia uma correria sem fim. À noite, sono intercalado de duas em duas horas. Aos poucos, eu fui acumulando um cansaço que eu desconhecia a existência. Privação de sono leva à loucura. Minha vida virou um caos!
Como eu sempre desejei uma grande família, não me via no direito de reclamar. Eu havia desejado aquela ”situação”. A pressão que eu colocava sobre mim mesma era terrível. Virou uma bola de neve. Eu mentia pra mim dizendo que tudo ia ficar bem, mentia aos próximos também dizendo que tudo estava bem.
Medo de ser julgada? Talvez. Ou então de escutar aquele famoso: “Eu te avisei!”
Eu tinha ansiedade quando ia dormir, pensando quanto tempo de sono teria, quanto tempo minha filha me deixaria dormir… Acordava nervosa e sem um pingo de energia, vivia extremamente cansada. Chorava horrores e via minha filha como um sanguessuga. Contava as horas para o meu marido chegar e me ajudar com o nosso bebê.
Claro que em meio ao caos, tinham aqueles momentos de imensa gratidão pela minha família. Uma mistura de sentimentos, tantos hormônios, choros e surtos.
Quando eu cheguei ao meu limite físico e emocional, disse para o meu médico que não aguentava mais aquela tristeza, aquele cansaço e que o choro incessante não poderia continuar. Ele me mandou para uma clínica a 300 km da minha casa. Durante 15 dias eu simplesmente descansei, não fiz mais nada. Desconectei. Dormia, comia e comecei a terapia com uma psicóloga.
Quinze dias depois eu voltei com mais consciência do que eu estava vivendo – um burnout. Comecei a impor limites no meu dia a dia. Comecei a falar abertamente, sem medo de julgamentos e críticas. Respeitando meus limites físicos. E hoje em dia não tento ”mostrar” uma perfeição que não existe. Sou mãe, mas acima de tudo sou humana.
Prevenção
Meu conselho para as mães que sentem que estão caminhando para o esgotamento é: fale! Coloque para fora as suas preocupações e inquietudes, não espere atingir o seu limite.
Peça ajuda ao seu companheiro, sogra, amigas, ou de um profissional habilitado. Burnout é coisa séria. Não fique sofrendo sozinha!
Organize o seu dia, faça somente o necessário, não se pressione para fazer coisas que podem esperar.
Tire um tempo para você. Que seja para um café, ler um livro, um jantar com as amigas. Não se culpe – você precisa recarregar para doar o seu melhor para a sua família.
Muitas se preocupam em cuidar do corpo, deixando de lado o aspecto mental e emocional. Mas, só vale um corpo são se a mente estiver sã.
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Até o mês que vem!
4 Comentários
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Renata querida, muito obrigada por compartilhar sua história. Há4 anos atrás eu pensei que iria surtar, foi bem difícil. Tem muita gente que pensa que mãe tem que aguentar tudo e sabemos que não é assim.
Grata pela oportunidade de conhecer sua história.🙏🏾
Lê aos prantos nossa, sem palavras estou nem sei como e olha que são só duas aqui, acho que estou tipo nesta situação me sinto até indigna de pensar que estou assim .
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