Depressão, imigração e superação
Existe apenas um consenso a respeito da maternidade: ela não é fácil. Não importa qual vertente você siga. Somos responsáveis por um outro ser, por ensiná-lo e moldá-lo para o mundo. Expectativas, cobranças, correria e a famigerada culpa! Tudo sempre muito presente. Quando mudamos de país, acrescentamos alguns extras nessa bagagem, e aí pode ficar um pouco mais complicado em alguns momentos.
Quando se é mãe, é bem fácil esquecermos que nós somos seres independentes daquele que precisa de nós e dos nossos cuidados. Assim que viramos mãe, todos os holofotes e energias se viram para a criança e acabamos esquecendo de nós. E aí mora um perigo silencioso: a depressão. Nesse mês, compartilho a minha experiência com a maternidade fora do Brasil e a superação da depressão.
Minha história
Convivo com a depressão desde que me conheço por gente. Aos 12 anos, comecei a me tratar e continuo até hoje. Já passei pela fase dos estigmas, da vergonha, do preconceito, até chegar à aceitação. Quando mudamos para a França, tive uma crise depressiva devido à solidão, às mudanças e ao medo do desconhecido. Não contar com uma rede de apoio, estar em um país novo, estar sozinha (meu marido viaja bastante)… tudo isso foi determinante.
Portanto a maternidade fica ainda mais desafiadora quando não se tem energia e ânimo. E sabe aquela culpa que nasce junto com nosso bebê? Para uma mãe deprimida, ela vem muito mais cruel e pesada! E aí se instala um ciclo vicioso: depressão -> aumenta a culpa -> mina sua visão própria -> aumenta a depressão.
Leia também: Decisões e mudanças no modo de maternar
O primeiro passo foi “decidir” que não iria deixar esse ciclo continuar, afinal eu estou bem, meu filho está bem, temos uma vida boa e vivemos uma grande oportunidade. Resolvi me libertar das cobranças e da culpa e, assim, comecei a melhorar.
Permita-se sentir/ Fale a respeito/Procure ajuda
Tenho a impressão de que nossa geração – tenho 34 anos – não trabalhou muito bem o desenvolvimento da inteligência emocional. Esse conceito é relativamente novo. Muitos de nós não fomos criados com esse foco. Sendo assim, aprendemos a negar, a diminuir e até a ignorar muitas emoções, principalmente as negativas. E isso em nada nos ajuda. Para que uma emoção tenha vazão, ela precisa ser sentida, sem julgamentos. Não que você tenha que viver sem fim a sua tristeza, raiva ou qualquer outra emoção negativa e, assim, ter passe livre e justificativas para qualquer atitude. Trata-se apenas de permitir-se sentir.
Permitir-se sentir é reconhecer que temos sentimentos bons e ruins e isso é normal e passageiro. Nada dura para sempre, seja bom ou ruim. Apenas olhe para dentro de si, reconheça, valide sua emoção e se acolha.
Não negue suas necessidades, suas preocupações. Fale a respeito do que sente com seu companheiro, uma amiga, um terapeuta, um grupo online. Não carregue o peso sozinha! Leia e se informe bastante, você verá que não está só!
Livre-se de regras muito rígidas
Sempre criei várias regras para mim a respeito da criação do meu filho, mas acabei percebendo que em alguns momentos elas mais me atrapalhavam do que ajudavam. Comecei a fazer pequenas concessões pelo nosso bem estar. Um exemplo? A televisão! Vários estudos apontam que telas em excesso são nocivas aos bebês (Leia aqui), mas entre uma mãe exausta emocionalmente e duas horas de filmes juntos, acho que é melhor pro bebê a segunda opção, né? Pelo menos eu penso assim.
Parei de me cobrar sobre algumas escolhas, sempre pensando no binômio mãe-bebê, e isso foi transformador! Ao reconhecer meus limites, ao me acolher e sair da posição da culpa e cobrança, comecei a curar minhas feridas e aproveitar muito mais meu filho e os momentos que passamos juntos.
Não estou falando para amolecer e deixar a educação deles de lado. Mas não se esqueça de você! Nós também precisamos de acolhimento, de reconhecimento, do tão desejado colo. Nós também temos um reservatório finito de emoções, e precisamos cuidar dele para que não se esvazie.
Valorize cada passo/Valorize as pequenas coisas
A nossa “querida” culpa de mãe vem acompanhada de uma cobrança sem fim também. E ela é carrasca demais. As vezes passamos batido por conquistas ou comportamentos dos nosso filhos porque achamos que “não são mais do que obrigação”.
Isso também é um veneno para nossa saúde mental. Pare, observe e valorize as pequenas coisas sempre! Seja em você, ou no seu filho, ou na relação de vocês. Como me emociona cada pequeno gesto que ele tem, e como isso me liberta e me cura.
Um exemplo: meu filho fica empolgado facilmente, e, quando isso acontece, ele acaba batendo em mim. Isso me deixa extremamente irritada. Não pode bater! E tento ensinar isso para ele. Ainda estamos na fase de aprender, ele ainda dá alguns tapas ocasionais, mas ele agora percebe que “machucou”, dá um beijo e faz carinho logo em seguida. Poderia apenas pensar que meu objetivo ainda não foi atingido, mas prefiro focar no fato de que ele vai chegar lá, já houve uma evolução e já reconhece o efeito no outro. É só uma questão de ponto de vista e de como encaramos as conquistas.
De novo, não é amolecer e ceder ao filho, mas reconhecer os passos dados em direção ao seu objetivo.
Curta o momento
Morando em outro país, encontrar nossos familiares torna-se raro e ao mesmo tempo muito especial. Foque na segunda parte sempre! Não atenha-se no preço emocional que se paga por morar longe, na falta de contato diário, etc.. isso irá te consumir e só alimentar a culpa existente em você.
Viva esses momentos juntos intensamente, recarregue o seu estoque emocional, seu estoque de memórias boas. Crie momentos mágicos, fotografe, filme… se apegue a essas lembranças e momentos com leveza, agradeça pela existência deles, e lembre-se: eles não seriam tão bons se a convivência fosse diária. A distância em si ja transforma os momentos juntos.
Nomeie sentimentos/Explique a seu filho
Quando sentir alguma emoção que acha que não deveria sentir, não se reprima, não se culpe, não se julgue. Reconheça o sentimento, permita-se sentir essa emoção, e dê vazão a ela. Fale com alguém: seu companheiro, uma amiga, um terapeuta, até para o seu cachorro, o que funcionar para você.
Não esconda suas emoções (e até seu choro) do seu filho. Explique as emoções e sentimentos para ele, pois assim ele terá sua inteligência emocional desenvolvida, e talvez tenha menos dificuldades que você em lidar com diferentes situações. Eu, por exemplo, já chorei algumas vezes na frente do meu filho, e quando tentava esconder, ele ficava angustiado. Quando comecei a validar meu sentimento, explicar que “mamãe estava triste mas que iria passar e melhorar”, ele ficava tranquilo, me fazia companhia e carinho. E hoje, na halte garderie (creche), vejo o resultado disso – o quão empático ele é para uma criança de dois anos: sempre que os colegas choram, ele dá um abraço apertado e fica do lado deles até pararem.
Bom, a vida fora do seu país de origem não é fácil, mas, definitivamente, pode ser leve! Espero que as minhas táticas sirvam como inspiração para você! Aproveite os momentos e livre-se da culpa! Permita-se ser feliz e ensine seu filho a buscar isso também!
Até a próxima!
12 Comentários
Monica, voce me fez desidratar com o seu relato e caminhada ate aqui. Obrigada por ter compartilhado de uma forma tao verdadeira, tao transparente. Estou tao emocionada com tudo que escreveu, ate porque me vi em cada situacao que descreveu aqui. Amei os seus conselhos de como lidar e quero sim aplica-los. Mais uma vez, obrigada!!!
Que bom que minha história pôde contribuir um pouco… o que mais precisamos é de acolhimento, e de desmistificar a depressão, afinal, é uma doença que assola grande parte da população né? Conta comigo!
Mônica, realmente teu texto é reconfortante, pois prova que há luz no fim do túnel. A depressão é uma doença difícil de lidar, difícil de superar, mas como disseste, não é uma coisa contínua. Há que se encontrar caminhos como bem apontaste, para contorna-la.
Muito obrigada Zandra! 🙂
BELISSIMO TEXTO!
Muito obrigada, Wendel!
Mônica, tudo bem? Gostaria de dizer que me sinto como você. Vim para os Estados Unidos quando meu bebê tinha 3 meses, eu não falava nada da língua inglesa, deixei minha profissão para poder viver com minha tão sonhada família mas isso me custou muito, pois eram muitos dias de depressão e sem energia. Noites em claro com um bebê novinho. Mas sempre tentei e tento ser a melhor mãe que posso ser para ele.
A vivência no frio piorava a situação mas agora graças a Deus estamos morando em um lugar mais quente onde vivem vários brasileiros e estou aprendendo o inglês.
Meu filho está crescendo e eu fico tão feliz de como ele está criando a personalidade. Ele faz 2 anos agora em setembro e já sinto falta de quando cheguei. Acho que realmente devemos filtrar nossos pensamentos olhando sempre para o lado positivo mas infelizmente o depressivo só vê escuridão. Posso dizer que meu filho, marido e família me apoiaram muito e por isso sou muito grata e feliz. Eu tenho um truque: agradeço por pelo ao menos 3 coisas todos os dias. Vivendo um dia de cada Vez. Beijos
Alexandra, a minha motivação para escrever esse texto foi justamente essa, mostrar às outras mães que não estão sozinhas… Fico muito feliz em saber que você está melhor!
Com certeza você é a melhor mãe para seu pequeno… apenas ao tentar ser a melhor todos os dias, já nos faz as melhores 😉
Adorei o truque! Vou usar também!
Beijos!
Conte comigo e com Mães Mundo Afora sempre!
[…] Leia ainda: Depressão, imigração e superação […]
[…] Leia também Depressão, imigração e superação […]
[…] compartilhei em outro texto que convivo com a depressão há um longo tempo, mas, para começar, volto nesse assunto para falar um pouco mais sobre essa condição e seu […]
[…] Leia também O adolescente expatriado e o risco de depressão e Depressão, imigração e superação […]