Há algum tempo, a artista francesa Emma criou uma história em quadrinhos sobre a “carga mental” que ganhou o mundo e ajudou na luta e divulgação de uma situação corriqueira e estressante que acontece na maioria dos lares. Seus quadrinhos mostram que o peso da gerência da casa e da criação dos filhos deixam a mulher num nível de estresse que pode causar sérios problemas emocionais e físicos (já ouviu falar da síndrome de Burnout?).
Infelizmente nós carregamos essa herança de uma sociedade machista e patriarcal. Nossa educação sobrecarrega a mulher e dá a ela a função de responsabilidade total de gerenciar e gestar todas as funções do lar e da criação e bem estar dos filhos. E nesse momento de quarentena, o que mais tenho escutado de mulheres é a reclamação sobre o quanto sentem o peso dessa carga mental aumentar
Aumento da carga mental na pandemia
A situação é revoltante, pois o que estressa não é o cansaço físico, mas sim o mental. Durante a quarentena imposta pela pandemia muitos desafios apareceram ou se acentuaram. Além de continuarmos mantendo as nossas atividades, que já faziam parte da rotina, ainda estamos acumulando outras funções, como estudar com os filhos, buscar atividades que divirtam e entretenham todos em casa, lidar com o fato de estarmos todos em casa em tempo integral, conviver com o marido em home office e por aí vai… A grande reclamação da maioria das mulheres é que essa função é solitária, porque mesmo que se tenha um parceiro, essa carga mental não é dividida. Já para muitos homens a “ajuda” vem na forma de divisão de tarefas e não na gestão destas preocupações com a rotina e detalhes do que se tem para fazer. O trabalho de gerenciar a casa e os filhos é invisível e interminável.
Costumo dizer que a quantidade de coisa que se faz dentro de uma casa parece uma narração daqueles caras de rodeio ou de jogo de futebol. É uma lista infinita, invisível e injusta, pois você passa o dia arrumando, limpando e ajeitando para tudo estar fora do lugar de novo no dia seguinte. E é acima de tudo uma função que não é reconhecida, não recebemos salário por isso, e invisível, pois se tem incutido na cabeça das pessoas que não precisa se preocupar para fazer, pois magicamente tudo vai estar no lugar.
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Fonte: Pixabay
Neste período estamos sentindo mais ainda os efeitos dessa “panela de pressão”. Com o fato de estarmos trancados dentro de casa, não temos o momento “válvula de escape” e nem a rede de apoio que acontecia na nossa rotina normal. Estamos 24 horas na função de mãe e sem descanso, sem uma voltinha na academia, sem poder fazer uma caminhada, tomar uma café com uma amiga, fazer outra coisa enquanto os filhos estão na escola, entre outras coisas.
Tem nos faltado o momento “Ufa, posso descansar ou pensar em outra coisa”. Sem falar na privacidade que desapareceu. Não se tem um canto da casa que você possa se esconder, sem ouvir um “Manhèèèè” ou uma pergunta que comece com “onde está…?”
Sim, está difícil, mas vai passar!
Como cuidar da sua saúde mental
Pensando nisso, preparei algumas dicas para te ajudar a buscar um pouco de equilíbrio para a sua saúde mental neste momento.
- Em primeiro lugar, lembre-se que estamos em um momento atípico. Essa não é a sua vida “normal”. Estamos em um momento emergencial e, em como toda emergência, estamos sendo bombeiros, apagando os focos de incêndio. Agora precisa correr e apagar o fogo que estiver mais alto. A sensação é de que tudo é prioridade, mas mantenha a calma e veja o que é necessário fazer naquela hora.
- Repita o mantra: um dia de cada vez! Agora é um excelente momento para tirar a capa da mulher maravilha e quebrar a crença de que você tem que dar conta de tudo. Você é imperfeita como todo ser humano e está tudo bem.
- Aceite esse momento e vá com calma. Dê um passo de cada vez. Estabeleça uma nova rotina e implemente-a. Vá persistindo e avaliando. Se necessário, recalcule a rota, mas não desista.
- Você precisa ver a sua família como uma comunidade. Todos fazem parte desse sistema. Faça uma reunião com todos, estabeleçam juntos essa nova rotina e delegue tarefas. Coloque a rotina escrita e visível. Assim tira de você a função de lembrá-la a cada minuto.
- Coloque pequenos momentos de lazer para você no dia. Lembre-se que você também tem vida e não nasceu só para servir. Você tem direitos, faz parte das prioridades algo para você também. Pequenos momentos de descanso podem ser milagrosos para o seu dia.
- Procure escrever seus afazeres no papel, ajuda a descarregar e fazer espaço na cabeça. Ficar tentando lembrar de tudo e não esquecer de algo é impossível! E a vida vai te apresentando outras prioridades durante o dia, então com o apoio do papel fica mais fácil.
- Continue se conectando com familiares e principalmente com as amigas, seja por telefone ou por vídeo. Falar com outras mulheres que estão passando pelo mesmo que você pode ajudar a ver que estamos todas no mesmo barco. Isso diminui a sua cobrança e ansiedade, além de ser um momento seu para desabafar.
Dessa forma a balança vai ficando mais equilibrada e você menos estressada. Assim aguentará mais a rotina cheia do dia a dia.
Obs: caso queira ver um video sobre carga mental, tenho um no meu canal do Youtube
Deixe aí nos comentários como você tem sentido essa carga mental na sua rotina. Já conseguiu diminui-la? O que tem feito por você?
12 Comentários
Esse é um assunto muito importante de ser abordado! Obrigada por falar sobre isso e pelas dicas!
obrigada. Que bom que fez sentido para você. Neste período de quarentena temos sofrido um pouco mais com essa carga mental.
O que mais me frustra nesse ótimo texto é que novamente a “solução” para esse “problema” essa evidente sobrecarga pq ngm ajuda, não é reconhecer que estamos a continuar e “normalizar” o fato continuo de sermos responsabilizadas além dos que nos cabe, que estamos suprindo a irresponsabilidade do parceiro, companheiro, marido. Atribuímos mais uma função, que é o dever tbm da mulher a iniciativa e o “concertar”/”adaptar” tudo sem perder a saúde mental, quando a discussão deveria ser até quando seremos responsabilizados pela falta e ausência dos pais no papel de pais?
Obrigada por ampliar a discussão Carolina. Acredito que a responsabilidade não pode ser colocada só nos pais ou nas mulheres. São muitas variáveis que contribuem para tudo isso e a mudança depende de vários fatores. Sem dúvida os homens também precisam começar a mudança assim como nós mulheres também o temos feito.
Deborah, descreveste exatamente a coisa como a vejo: trabalho invisível que fazemos hoje e amanhã recomeçamos igualzinho. Enfadonho e desgastante. Tenho vivido muito mal esse period o porque trabalho em casa com crianças e minha rotina é justamente super ROTINEIRA. Com minhas tres filhas em casa, sem escola para me dar uma folga é bem como disseste: manhêê o dia todo e repetiçao ininterrupta “ja fez os deveres? Lavou os dentes? Sai dessa televisão! Parem de brigar! Arrumem o quarto de vocês!
Acho que nós, mães, sem distinçao vamos pro céu direto, sem escala!
Precisamos falar mesmo. Fico feliz que fez sentido para você.
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