A maternidade é a experiência mais intensa que já vivi na vida. É uma verdadeira montanha russa de emoções. Começa com a gravidez. Uma vez uma amiga disse que assim que o exame dá positivo, nunca mais somos as mesmas. Durante a gravidez fazemos planos, idealizamos como será nossa vida com filhos. Aí vem o parto, o pós-parto e o puerpério e percebemos como não temos mais controle de nada.
E amamentação? Socorro! Para mim foi um grande choque a amamentação não ter fluído naturalmente e cheguei a me sentir traída pelo meu corpo. Tive um parto natural, tudo de acordo com a natureza, sem intervenção, nem remédios, nada. E meu leite demorou cinco dias para descer. Cinco dias!
Colostro veio direto, mas aí no segundo dia nada e no terceiro dia ela recusou meu peito. Chorei tanto e tive medo, pela primeira vez de não dar conta, de não ser uma boa mãe e a ansiedade me sufocou. No dia seguinte ela pegou, meu leite desceu e fomos liberados para ir para casa.
Mas a grande cereja no bolo vem quando chegamos em casa sozinhos com o bebê e daí para frente é um Deus nos acuda.
O pós-parto em casa
Cheguei em casa com minha filha no colo e a primeira coisa que fiz foi apresentar a casa, o cachorro e subir para o quarto dela. Aquele quarto que passei meses preparando, e arrumando cada detalhe. Quantas noites passei sentada naquela mesma cadeira, sentindo-a mexer na minha barriga e imaginando como seria a vida com ela.
Surreal imaginar que ela estava no meu colo, mamando no meu peito e logo mais, deitada no berço dela que era imenso perto daquele bebê tão minúsculo. O primeiro dia foi bom, ela mamou, arrotou, dormiu no berço e eu achei que estava tudo sob controle. Mas e aí veio a noite.
Fiz tudo como manda o figurino: banho, peito, cama. Ela dormiu e eu fui me deitar, mas quem disse que eu conseguia dormir? E se algo acontece e eu estou dormindo? E se eu não acordo com o choro dela? Se ela se sufoca, se ela não acorda ou se precisa de mim e eu não estou ali? Eu então, peguei meu travesseiro e me deitei do lado do berço no chão e lá passei a noite.
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No dia seguinte meu marido foi atrás de um moisés para colocá-la no nosso quarto. E eu, a mãe que sempre pensava que o bebê dormiria no quarto e nós teríamos nossa privacidade, vivenciei o primeiro “cuspiu para cima e cai na cara”. E entendi porque a recomendação era bebês dormirem no quarto dos pais, e aqui na Austrália dizem que por um ano.
Como eu não estava nem de perto preparada para o que estava por vir. Como sou Educadora Infantil, achei que a experiência iria me ajudar. Só não tinha parado para pensar que meu bebê mais novo tinha quatro meses e que eu era professora mas não mãe e existe um abismo entre os dois.
Crises de ansiedade
Bem, mas voltaremos para minha filha. Gente, como recém-nascido geme. Como nunca soube disso? Minhas noites eram assim: ela gemia, eu acordava para ver se estava tudo bem. E se ela estava muito quieta eu acordava para ver se ela estava respirando. Por sinal, não sei quantas e quantas vezes eu chequei se ela estava respirando por estar tão quieta.
Foi aqui que comecei a ter pensamentos negativos e muito medo. Medo de acidentes bizarros, de ela morrer dormindo, de cair da escada com ela, de escorregar, de tropeçar e cair com ela, em cima dela. Medo dela engasgar, e tanto medo que parecia a Chapeuzinho Amarelo que tinha medo do medo do medo de acontecer algo que tinha probabilidade bem baixa de acontecer.
O medo era tanto que as vezes perdia o sono e me sentia como se estivesse sufocando e afogando. Batia um desespero e eu chorava de soluçar. Depois descobri que isso se chamava ansiedade.
Os dias foram passando, e por dois meses acabamos criando a nossa rotina que consistia, basicamente, em amamentar o dia inteiro na frente da tv, meu marido chegava em casa, eu estava na porta esperando-o, dávamos banho, peito e cama de novo. Tudo parecia mais ou menos sob controle, até chegarmos no primeiro salto de desenvolvimento. Aí tudo foi por água abaixo.
Peça ajuda
Ela começou a “cluster feed” (concentração de mamada) e daí não queria mais dormir sozinha no moisés, nem no berço. Eu me mudei para outro quarto e começamos a dormir juntas para ela ficar no peito e eu conseguir dormir um pouco. Nos grupos de mães (abençoados sejam eles), descobri os cariers (cangurus) e Amanda se adaptou bem a ele. A soneca dela então era ali, e a noite, ela dormir em mim (você leu direito sim: em mim).
Aqui em Perth, onde moro, tem um órgão do governo de ajuda aos pais. Liguei lá e fui passar algumas horas para elas me ajudarem com o sono dela. O que era para ser uma vez foram três e sai de lá a última vez com respostas. A primeira, minha filha sofria de refluxo silencioso e por isso ela não gostava de dormir deitada.
Em uma conversa com a psicóloga, dois diagnósticos mudaram nossa vida: eu fui diagnosticada com ansiedade e minha filha, o que ela chamou de “baby velcro” (muito apegada), uma criança muito apegada. E ela ainda disse: “ela é muito apegada. Você tem duas alternativas: lutar contra a personalidade dela e vocês duas serão infelizes ou aceita e aprendam a conviver”.
Assim, passei a me ouvir mais e a conviver com a personalidade super apegada da minha filha. Quando aceitei, tudo mudou. A questão é que por ser apegada e eu insistir nela fazer as coisas sozinha, ela ficava mais insegura e mais apegada e eu mais frustrada e mais sobrecarregada.
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Quando eu aceitei que ela é assim (e meu Deus como nós pais temos dificuldade em aceitar que nossos filhos são pessoas não?), nossa vida ficou mais leve. Eu parei de sofrer e ela desabrochou. Com seis meses, mudou completamente e aos poucos, no tempo dela, começou a ter um pouco de independência.
Quando ela completou seis meses eu resolvi voltar para o trabalho pois me sentia muito sozinha. Sempre ouvi falar em depressão pós-parto, mas não em ansiedade. Esse medo de que algo aconteça de ruim, esse sentimento de estar completamente sozinha, sobrecarregada e sem ar. Quantas vezes me faltava o ar.
Ainda sofro de ansiedade. E ainda, para ajudar, meu segundo filho nasceu prematuro extremo de 29 semanas (seis meses). Pensa nessa ansiedade! Mas isso é papo para outro texto que já já vem por aí!
E você? Já passou por isso? Conte nos comentários a sua experiência e vamos conversar.
1 Comentário
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