A mulher aos 40: quem ela é ? Essa é a idade da loba, já ouviu essa expressão?
Desde que subi para o 4º andar (esses dias vi esse comentário de uma mãe mundo afora que se referia à essa fase assim e resolvi adotar essa analogia), a fase dos 40, venho pensando em escrever sobre a série de mudanças que uma mulher passa neste período.
Carl Jung, famoso psiquiatra pai da psicologia analítica, já anunciava que a nossa trilha do autoconhecimento começava na meia idade, ou seja, aos 40 anos. E sabe por quê? Porque essa é a idade em que estamos maduras, já colhemos todas as informações e experiências de vida necessárias para tomarmos as nossas próprias decisões, estamos mais corajosas para colocar limites e avaliar o que vale ou não carregar para a nossa outra metade da vida.
Muitos falam da crise dos 30 anos, mas essa é diferente. A crise dos 30 ainda está muito relacionada a chegar ao topo da montanha, ainda estamos em ascensão pessoal ou profissional. E se ainda relacionarmos ao fim da adolescência, que hoje é considerada até os 24 anos, ainda estamos fazendo a transição para idade adulta.
A crise dos 40
Na crise dos 40 a mudança é mais profunda e vem carregada de propósitos e mudança de vida. Confesso que quando os 40 chegaram eu não acreditei e hoje, há três anos nesse andar, vejo como ele é intenso a cada ano, quiçá a cada mês.
Percebi que depois dos 40 precisava levar a vida mais a sério, não dava mais para ficar desperdiçando tempo. As relações tinham que valer mais a pena, o meu sossego e a minha paz de espírito valiam muito mais a pena do que um ganho em uma discussão. A qualidade das coisas ganhavam em disparada no páreo da quantidade, fiquei mais seletiva, juntando menos coisas, guardando só o essencial. Os momentos com minha família eram sagrados, os amigos começaram a ter um destaque ainda mais especial. A curiosidade com outras formas de viver e de conhecer o mundo também aumentou, os cuidados com o corpo mudaram de paradigma.
Há muito ensaiava ler o livro que é considerado a bíblia da psique da mulher: “Mulheres que correm com lobos” da Clarissa Pinkola Estés. Fiz uma relação com o que ela traz no livro sobre a comparação da mulher com as lobas.
É isso: a idade da loba para mim é esse resgate da força da mulher, da sua essência, do seu instinto selvagem, da intuição e de todos os poderes que são nossos e que ficam adormecidos com a nossa “civilização”.
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Em uma matéria sobre esse assunto, a psicóloga Regina Beatriz Silva Simões, especialista em sexologia clínica e autora do livro “A Mulher de 40” (Editora Gutenberg), coloca que a comparação ainda é válida. Partindo dessa analogia, Regina acredita que o lobo transmite a imagem de um animal forte, vigoroso e desenvolvido:
A mulher nessa idade é como uma loba, está pronta, atenta, já sabe o que não lhe faz bem”.
Sinto que cada vez mais a mulher vem ganhando espaço e as constantes lutas pela liberdade e o empoderamento dos tempos atuais contribuem para essa mulher fazer escolhas cada vez mais conscientes e baseadas na sua essência.
Os especialistas concordam que, de maneira geral, nessa faixa etária, há um desejo de não perder tempo e realizar sonhos e vontades, sem tanta preocupação com o julgamento alheio. “A mulher aos 40 tem uma urgência maior de vida, que vai se refletir na sexualidade. Porque ela quer vivenciar a vida com mais intensidade”, diz Lígia Guerra.
Para falar um pouquinho mais dessas mudanças, podemos nos apoiar na teoria dos setênios criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner. Ele estabelece uma espécie de “pedagogia do viver”, abrangendo neste conceito setores da vida humana como a saúde, a educação, a agronomia, entre tantos outros. Ela faz parte da linha de pensamento antroposófico e foi elaborada a partir da observação dos ritmos da natureza.
A teoria dos setênios e os 40 anos
A teoria dos setênios baseia-se em dividir a vida em fases de sete em sete anos. O número sete é um número cabalístico e místico em diferentes culturas. Faz uma analogia com relação às fases da vida e a subdivide em sete etapas de evolução distintas, considerando portanto seus sete ciclos:

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De 0 a 7 anos: a fase da individuação.
7 a 14 anos – Sentido de si, autoridade do outro, autoridade amada.
14 a 21 anos – puberdade/adolescência – crise de identidade.
21 a 28 anos – O “Eu” – a independência e a crise do talento
28 a 35 anos – fase organizacional e crises existenciais.
35 a 42 anos – crise de autenticidade.
Nesta fase a mulher já percebe os cabelos brancos, se estão caindo, se pergunta sobre a sua missão de vida, se foram adquiridos valores importantes, a preocupação com o futuro é mais real, surgem dúvidas e questionamentos se ainda conseguirá fazer algo novo e interessante. Temos, aqui, mais capacidade de julgamento, gozamos de mais maturidade psíquica e emocional. Em geral, já acumulamos alguns bens materiais ou ao menos conseguimos uma renda que seja suficiente para as questões básicas de consumo. E é exatamente aqui que eu me encontro. Olhando para trás, recalculando a rota e escolhendo melhor onde pisar e quem levar na minha bagagem da vida.
São muitas mudanças nessa fase, mas sem dúvida a que baseia todas é o aprofundamento das relações e o seu posicionamento no mundo.
Eu sempre ouvia dizer quando era adolescente que as pessoas depois dos 40 anos queriam ter a idade de 20 com a cabeça de 40 ou mais, e hoje eu entendo perfeitamente isso. Até não estou descontente com a minha idade, ainda não desejo voltar atrás. Acho que faria tudo de novo, mas a experiência que se ganha com o passar dos anos, o entendimento das coisas e o quanto se ampliam os horizontes, não tem como acontecer antes de se acumular muitas experiências vividas.
Posso dizer que a fase dos 40 para mim tem sido realmente um encontro com essa mulher selvagem, com o instinto da loba.
E você aí, tem gostado da fase do 4º andar? O que mudou em você?
6 Comentários
Deborah estou com 48 e quando penso no meu eu dos 20 e dos 30 , simplesmente nao me reconheço!!
Imagino, porque eu também não me reconheço. a gente sobe de andar e o degrau de baixo parece ficar tão longe.
Estamos no mesmo andar, Déborah. Me identifiquei muito com o texto
Que maravilha!! E você aí o que tem sentido nas mudanças?
Texto excelente, Deborah. Obrigada. Cada palavra com muito significado.
Obrigada você. Que bom que fez sentido para você. Estamos juntas. bjs