A maternidade estimulando o autoconhecimento
Eu desejei ser mãe por muito tempo. Como pediatra, eu cuidava de muitas crianças e sempre me perguntava quando seria a minha vez de cuidar dos meus filhos. Os anos se passaram e finalmente eu pude ver o rosto da minha filha e sentí-la em meus braços. Eu me lembro até hoje do misto de alegria, gratidão e plenitude que invadiu o meu coração com a maternidade. E naquele momento eu disse para ela: “mamãe está aqui e fará tudo o que puder por você”!
E foi da mesma forma quando o meu filho chegou. A gravidez foi conturbada, tive muito trabalho e estresse e ele veio prematuro. Senti um pouco de culpa por isso e quando ele estava em meus braços falei: “Filho, eu vou cuidar muito bem de você, eu vou fazer tudo o que puder para que você fique bem!”
O que essas frases significavam para mim?
Acho que muitas mães devem falar mais ou menos a mesma coisa, mas, para mim, essas frases são algo que levo muito à sério. Afinal, eu desejei tanto ter filhos! Tive que passar por tratamentos e cirurgia para poder engravidar. Do ponto de vista biológico, a minha chance de ter filhos era tão pequena! E eu me sinto abençoada por hoje ter duas crianças em meus braços. Então o meu sentimento íntimo é: eu não posso fazer menos do que o meu melhor!
Quando eu digo fazer o meu melhor eu não quero dizer fazer tudo por eles. Não, de forma alguma! Eu sei da importância de não ser superprotetora.
Eu também nunca tive a ilusão de que seria perfeita. Afinal, eu não sei tudo. É obvio que errei e vou errar muitas vezes. Mas o que eu sempre pensei foi: dentro das minhas possibilidades, do meu conhecimento, eu quero dar o meu melhor para que meus filhos tenham saúde do corpo e da alma, para que consigam aprender e desenvolver as suas potencialidades e, é claro, para que sejam felizes.
Desafios da vida
No entanto, a vida é cheia de desafios. E embora eu queira sempre dar o meu melhor para os meus filhos, eu sei que nem sempre consegui. E eu digo isso sem nenhuma culpa excessiva. Eu já aprendi com os meus pacientes e com a minha própria história de vida o quão nocivo é para a saúde quando alimentamos culpas.
Não! Eu digo isso simplesmente porque é verdade. Teve momentos em que eu simplesmente não consegui expressar o meu melhor e eu acredito que isso acontece com todos os pais e mães. Mas eu confesso que isso sempre me incomodou. Afinal, era uma incoerência muito grande. Como eu poderia passar anos desejando e pedindo pelos meus filhos e, quando eles chegam, eu não dou o meu melhor? Como eu poderia falar para eles que faria tudo o que eu pudesse e, algum tempo depois, agir de forma tão distante do meu propósito? Então ficou muito claro para mim que eu precisava mudar.
Isso aconteceu em um momento muito particular da minha vida. Eu havia acabado de mudar de país. Nova cultura, novo idioma, nova rotina, duas crianças pequenas para cuidar com pouca rede de apoio. Enfim, é compreensível que eu tenha tido dias muito difíceis. Que eu tenha tido momentos de muita tristeza, de muita raiva. Mas as crianças não mereciam receber as consequências do meu descontrole emocional.
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E eu poderia me justificar de várias formas. Poderia repetir para mim mesma o quanto estava sendo difícil essa adaptação. Poderia lamentar por tudo o que eu havia deixado no Brasil. Mas nada disso me ajudaria, muito menos aos meus filhos. Então eu precisava tomar uma atitude no caminho do autoconhecimento e resolvi colocar em prática tudo o que eu sabia sobre centramento.
Mas o que é centramento?
Centramento é a nossa capacidade de nos sentirmos serenos e seguros diante de desafios. É a nossa capacidade de ter clareza mental e de acessar as nossas forças íntimas, para que tenhamos atitudes assertivas em qualquer situação. Para uma mãe pode ser, por exemplo, conseguir manter a calma quando o filho faz uma birra.
A maioria de nós não consegue ficar centrado o tempo todo. E eu não tinha essa ilusão ou pretensão. Mas eu sabia que poderia utilizar recursos para recuperar mais rapidamente o meu estado de centramento. E foi o que eu fiz.
Colocando em prática
O meu primeiro passo na trilha do autoconhecimento foi me conectar aos meus propósitos. Eu sabia que um dos principais propósitos da minha vida era cuidar bem dos meus filhos. O outro era ajudar pessoas a trilharem caminhos de mais saúde. Bom, nesse momento da minha vida eu não estava fazendo bem nem um nem outro.
Então eu precisava de uma estratégia. E a primeira que utilizei foi colocar lembretes visuais que me reconectassem aos meus ideais. Um deles foi uma fita amarrada em meu dedo (como um anel). Ela significava para mim todo o meu amor pelos meus filhos. Então toda hora que eu percebia que estava perdendo o controle de mim mesma eu olhava para essa fita. E essa pequena atitude me ajudou muitas vezes a controlar as minhas atitudes e a regular as minhas emoções.
Uma imersão em mim mesma
Outra estratégia muito importante foi perceber (e anotar) outros fatores que me dificultavam manter o autocontrole. Foi uma imersão interna de autoconhecimento. Descobri alguns medos, algumas revoltas que nem eu tinha coragem de contar para mim mesma. Mas elas estavam ali e influenciavam as minhas atitudes. Então, aos poucos, eu fui trabalhando todos esses aspectos em mim. Deixando partir o que não pertencia mais à minha realidade. E me abrindo para o novo, para tudo o que a vida me proporcionaria a partir dali. E eu posso mais uma vez atestar como a vida é abundante, quando nos abrimos para ela!
Praticando o meu propósito
O meu próximo passo no caminho de autoconhecimento e mudança foi me reconectar ao outro propósito fundamental da minha vida, mas de uma forma diferente.
Passar o dia atendendo pacientes em consultório não cabia mais na minha nova realidade. Afinal, os meus filhos preenchiam o meu dia. Mas eu sentia que precisava dedicar algum tempo a esse propósito. Eu descobri que isso é fundamental para que eu me sinta bem, para que inclusive eu fique mais inteira para os meus filhos. E uma das coisas que aprendi nessa caminhada é que existem várias formas de praticar o nosso propósito. No meu caso, eu encontrei outras maneiras de ajudar pessoas a trilharem caminhos de mais saúde, seja através da escrita, das aulas ou das mentorias. Um novo mundo de possibilidades foi se abrindo aos poucos diante dos meus olhos.
De lá para cá, aprendi muito mais. Percebi outros aspetos do autoconhecimento e centramento, que eu vou compartilhar no próximo texto. E eu posso dizer que me sinto cada vez mais centrada. É claro que não fico centrada o tempo todo. Mas eu estou determinada a seguir essa trilha! Por mim, pelos meus filhos, pela minha família! E eu quero compartilhar isso com vocês, porque eu acredito que todos nós podemos e merecemos conseguir expressar o nosso melhor para os nossos filhos!