Ao ser convidada para moderar um grupo de rede de apoio virtual, fui inserida no apaixonante e desafiador mundo da Disciplina Positiva. Até então, apenas tinha ouvido falar sobre este “estilo de educação” que, em momento algum, pode ser confundido com permissividade ou domínio dos filhos.
Mas o que é Disciplina Positiva (DP)?
Mais que um método de educação, a DP é uma filosofia de vida que se baseia no respeito mútuo e considera tanto as necessidades das crianças como as dos adultos.
Este modelo educativo originou-se nos anos 1920 com base na filosofia dos psicólogos Alfred Adler e Rudolf Dreikurs. A partir dos anos 1980, quando Jane Nelsen e Lynn Lott fundaram a Positive Discipline Association (Associação de Disciplina Positiva), a DP foi se aproximando de pais e professores.
Disciplina Positiva e autocuidado
Exercitar-se, comer chocolate, ir ao cinema, ler, escutar música, sair com as amigas, escrever, cozinhar…enfim, todas temos pequenos prazeres e válvulas de escape que nos fazem nos sentir bem. Atividades que por si só são muito importantes e que delas dependem nossa estabilidade emocional e saúde mental.
Existem pessoas que necessitam de pouco tempo para si mesmas, outras que, ao contrário, exigem mais. Porém, é verdade que todos precisam dedicar um tempo a si mesmos e praticar atividades que lhes façam sentir-se bem, realizados e felizes. A isto, chamamos de autocuidado.
A Disciplina Positiva também trata muito da necessidade de cultivar o autocuidado como base para educar de forma positiva nossos filhos. Ao cuidarmos de nos mesmos, melhoramos nossa qualidade de vida e, ao mesmo tempo, oferecemos a nossos filhos um exemplo de autocuidado que resultará em uma habilidade muito útil de aprendizado para a vida adulta.
Vale sempre ressaltar que a primeira regra básica do cuidador é CUIDAR-SE PARA PODER CUIDAR. Do nosso próprio bem-estar, depende nossos filhos. Portanto, o autocuidado é vital para a saúde de toda a família.
Autocuidado não é egoísmo
Pais felizes equivalem a filhos felizes e quando todos os membros da família se sentem bem consigo mesmos, a família inteira está saudável.
O cuidado com os filhos requer uma grande dose de paciência e as atividades prazerosas nos ajudam a desconectar e a interagir de forma positiva e construtiva com as pessoas a nossa volta.
Se passamos muitos dias sem poder fazer as coisas que gostamos, que nos estimulam e nos relaxam, nos tornamos pessoas menos agradáveis e menos funcionais e tendemos a nos comportar de forma negativa.
Ao contrário, realizar atividades prazerosas, voltadas para o autocuidado, e que de alguma maneira nos desconecte do caos diário, promove a harmonia e a impulsão necessária para a prática de pensamentos e atos positivos.
As crianças são como esponjas, absorvem todos os estados emocionais que captam ao seu redor. Para poder seguir com paciência e poder oferecer-lhes sempre a melhor versão de nós mesmos, necessitamos dedicar tempo para o autocuidado.
O autocuidado não é egoísmo, senão exatamente o contrário. É sinônimo de bem-estar e estabilidade emocional. Algo que nossos filhos necessitam. Conhecer bem a si mesmo e saber quais são as coisas que gostamos e que nos fazem nos sentir melhor é um sintoma de maturidade e responsabilidade.
Estar bem com a gente mesma não é só uma necessidade individual, mas também um presente que oferecemos às pessoas que nos amam e que estão ao nosso lado.
O que posso fazer para cuidar mais de mim tendo filhos pequenos?
Quando se tem crianças pequenas em casa até um banho de 5 minutos é uma vitória difícil de conseguir. Imagina então voltar à academia ou jantar em um restaurante, seja por falta de tempo ou mesmo cansaço.

Fonte: pixabay.com
Porém, há muitas formas de praticar o autocuidado em casa dedicando pequenas pausas de poucos minutos ao dia. Aproveitando que o pequeno está dormindo, relaxado ou sob os cuidados de alguém, que tal:
- Preparar uma chá ou um suco natural;
- Lavar o rosto com delicadeza com aquele produto maravilhoso e que havíamos esquecido que existia no armário;
- Ver um episódio de sua série favorita;
- Ler um capítulo do livro que havia começado há meses;
- Deitar 10 minutinhos na cama ou no sofá só para escutar (sozinha) a sua música preferida;
- Dar-te 15 minutos para arrumar-se, fazer uma escova, pintar as unhas…
- Se possui mais tempo, mas não suficiente para ir a academia, pode praticar exercícios em casa;
- Se dar ao luxo de comer um pouco de chocolate (com moderação), pois é um estimulante fantástico.
As sensações olfativas e visuais também são importantes e contribuem para o nosso bem-estar. Dispor de elementos visuais bonitos e relaxantes para admirá-los durante o dia, nos ajuda a nos sentirmos melhor. Podemos, por exemplo, nos ofertar flores para decorar um espaço da casa e acender velas aromáticas.
Oferecer às crianças a possibilidade de crescer observando um exemplo saudável de autocuidado é algo extremamente positivo. Como já dizia Maria Montessori:
Não te preocupes porque seus filhos não te escutam, eles te observam todo o dia”.
Unidade Familiar
Durante os primeiros anos de vida de uma criança, deixamos de lado os planos a dois; principalmente as mães, já que em nosso caso, além do vínculo afetivo, há também uma forte dependência física (ainda mais se amamentamos).
Isso é completamente humano e natural. Mas com o passar dos meses (e dos anos), vamos perdendo o hábito e nossos planos acabam sendo a três, quatro…
Descuidar completamente de nosso parceiro a longo prazo repercute negativamente na família. Nós somos os pilares do nosso lar e o exemplo que damos aos nossos filhos é fundamental não só durante a sua infância, mas para toda a sua vida adulta. Assim como também é importante oferecê-lo um exemplo de relacionamento saudável.
Leia também Alimentação e saúde mental: como cuidar de você mesmo
Dedicar tempo, cuidado e atenção ao nosso parceiro repercute não apenas em nosso bem-estar, mas também de nossos filhos.
É importante estabelecer tempo juntos em atividades cotidianas. Às vezes, durante os primeiros anos de vida de uma criança, é muito frequente que os pais não possam, sequer, sentar-se para comer juntos.
Porém, à medida que tudo vai se normalizando, e a criança já tenha adquirido certas autonomias, é importante que o momento das refeições seja de união e comunicação familiar.
Fazer as atividades cotidianas juntos é outro recurso que serve para afinar a unidade familiar. Se a criança já tem idade para limpar a mesa, permita-o que o faça, assim se sentirá útil enquanto você faz outras atividades mais difíceis. Assim, as crianças aprenderão que as responsabilidades são importantes, começarão a se familiarizar com as tarefas domésticas, entenderão o valor do trabalho em equipe e se sentirão parte da unidade familiar ao envolver-se nas atividades diárias.
Fazer as compras do mercado em família pode ser um desgaste, mas também é uma ótima oportunidade para passar mais tempo juntos e fazer com que o pequeno aprenda novos hábitos e vocabulários.
O autocuidado e o “tempo positivo”
O tempo positivo é um conceito utilizado na DP para designar um tempo de respeito, reflexão, relaxamento e desconexão tanto para os pais quanto para os filhos. Tempo este necessário para não perder o controle das emoções e poder atuar de forma positiva quando enfrentamos um conflito.
Não se trata de uma ferramenta de evasão, pois sempre vem acompanhado de um posterior diálogo e uma comunicação respeitosa. Mas, sim, sair de uma situação que nos gera mal-estar, estresse e insegurança para podermos estar serenos e encarar os problemas de forma possível, buscando soluções construtivas e positivas (que inclui evitar os gritos, os castigos e as lutas de poder).
No próximo texto, abordarei a Disciplina Positiva na Educação. Não percam!
7 Comentários
Texto reconfortante!
Obrigada!
[…] meu texto anterior apresentei brevemente a Disciplina Positiva (DP) e a associação com o autocuidado. Este mês […]
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