Vacinação na Itália
O tema vacinação é um assunto que vem sendo muito discutido no último ano aqui na Itália. Através da lei 119 de julho de 2017 foi reintroduzido no país a obrigatoriedade de 10 vacinas para crianças e adolescentes em idade escolar (0-16 anos), antes somente quatro eram obrigatórias.
Isso foi e ainda é alvo de muita polêmica por aqui, especialmente pelas consequências impostas para quem não vacina: não poder matricular crianças de 0 a 6 anos em creches e escolas públicas infantis, e multa de 100 a 500 euros a famílias com crianças e adolescentes não vacinados que frequentem a escola obrigatória (a partir de 6 anos).
Essa modificação na lei de vacinação foi implantada para combater a tendência cada vez maior no país de não vacinar as crianças. A média de vacinação no país está abaixo dos 95% considerado ideal pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir a “imunidade de grupo”, ou seja, a proteção indireta daqueles que, por algum motivo de saúde, não possam ser vacinados. Para se ter uma ideia, em 2017 houve um aumento de 4 vezes no número de casos de sarampo na Europa, comparado ao ano anterior, sendo a Itália o segundo país mais afetado, com 5006 pessoas infectadas pela doença (para ver o comunicado emitido pela OMS em inglês sobre o assunto clique aqui).
No Brasil o sarampo é considerado erradicado desde 2015, mas esse ano voltaram a aparecer casos no norte do país, na fronteira com a Venezuela, que desde 2017 enfrenta um surto da doença. Por ser uma doença altamente contagiosa, a melhor maneira de prevenir esses surtos é aumentando a imunização da população, ou seja, com a vacinação.
Com o decreto lei da vacinação são obrigatórias as vacinas contra as seguintes doenças: poliomielite, difteria; tétano; hepatite B; coqueluche; Haemophilus influenzae tipo b; sarampo; rubéola; parotidite (caxumba) e varicela (catapora). A obrigatoriedade das últimas quatro será revista a cada três anos e poderá ser removida de acordo com dados epidemiológicos ou a porcentagem de cobertura atingida.
Além destas obrigatórias são recomendadas as vacinas contra meningite tipos B e C, pneumococo e rotavírus. É importante dizer que, como no Brasil, todas as vacinas, obrigatórias e recomendadas, são oferecidas de forma gratuita pelo sistema público de saúde.
O calendário italiano de vacinação 2017-2019
No primeiro ano de vida o bebê recebe três doses (aos 2, 4 e 10 meses de vida) de DTPa (contra difteria, tétano e coqueluche – acelular), IPV (contra poliomielite – vírus inativo), EpB (contra hepatite B), Hib (contra infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b), PCV (anti-pneumocócica), além de duas ou três doses de Rotavírus (o número de doses depende do tipo de vacina – aqui em Verona são duas). Uma quarta dose de DTPa e de IPVé administrada aos 5 anos, e uma quinta entre 11 e 17 anos. Após os 19 anos deve-se tomar o reforço da DTPa a cada 10 anos.
Três doses da vacina contra a meningite B são administradas também no primeiro ano de vida, mas não em conjunto com as mencionadas acima. A quarta dose é aplicada aos 12 meses. A tetravalente MPRV (sarampo, rubéola, caxumba e catapora) é administrada entre 12 e 14 meses, assim como a vacina contra a meningite C. O reforço da tetravalente acontece no sexto ano de vida e o da meningite na adolescência.
Claro que as datas para as vacinas são relativamente flexíveis, é importante respeitar o estado de saúde da criança no momento e os intervalos entre as doses. Minha filha, por exemplo, pegou catapora aos dois meses. A recomendação foi de esperar ao menos 4 semanas após sua recuperação para administrar a primeira dose das vacinas. E assim todas as outras estão em “atraso”. Existem pais também que optam por começar a imunização de seus filhos mais tarde.
As vacinas aqui são dadas no “distretto sanitario”, que é algo similar aos nossos postos de saúde. Esses postos são regionalizados, ou seja, cada um vai no posto responsável pelo bairro onde mora. Aqui em Verona deve-se agendar um horário para a vacinação e, alguns dias antes recebo, inclusive, um SMS me recordando do horário para
a minha pequena. No nosso posto os horários não são exatamente respeitados, acaba sempre atrasando e sempre vejo pessoas sem horário agendado serem atendidas.
Menores devem ser acompanhados pelos pais ou um responsável munido de autorização por escrito. No dia é preciso levar a carteira de vacinação e a “tessera sanitaria”, que é a carteirinha do sistema de saúde público. Para saber como fazer a “tessera sanitaria” e outros documentos importantes após o nascimento, clique aqui.
Quando chegamos em Verona no início do ano minha filha estava com quase quatro meses e já tinha tomado a primeira dose das vacinas na Alemanha, onde morávamos. Precisei ir pessoalmente ao posto com sua carteira de vacinação internacional para ver como prosseguir com o calendário italiano. Eles checaram quais vacinas e quando havia tomado e já saímos com horário marcado para a segunda dose de DTPa, IPV, Hib, EpB, PCV (hexavalente e pneumocócica – duas picadinhas) e com a segunda dose de rotavírus tomada. Portanto, para quem vem do Brasil ou outro país com criança em idade escolar, recomendo trazer a carteira de vacinação internacional e consultar o posto da sua região.
Principais diferenças com o calendário brasileiro
No geral acho os dois calendários bastante parecidos, sendo a grande dessemelhança a ausência da BCG e da hepatite A na Itália e da meningocócica B no Brasil, além da diferença de administração da meningocócica C e da hepatite B. No Brasil a meningocócica C é administrada em 3 doses, já no primeiro ano de vida, com reforço na adolescência, enquanto aqui é somente uma dose aos 12-14 meses, seguida de reforço na adolescência. Já a meningocócica B aqui é recomendada em 4 doses no primeiro ano de vida.
Quanto à hepatite B, toma-se no Brasil uma dose ao nascer e três doses na adolescência, já aqui na Itália toma-se ao nascer somente se a mãe tiver hepatite B e as outras doses acontecem já no primeiro ano de vida.
Perguntei no posto de saúde sobre a possibilidade de tomar a BCG por aqui, visto que no Brasil é uma vacina obrigatória já ao nascimento e nós vamos com frequência visitar a família, mas me disseram que aqui não tem. Fui aconselhada a dar na pequena assim que formos ao Brasil, para que ela esteja também imune às doenças do
nosso país. Como eu sou do time que prefere prevenir do que remediar, antes da primeira viagem ao Brasil da bebê vamos nos informar direitinho sobre o que fazer e o que tomar antes de ir ou mesmo por lá.
Como mãe dá sempre um aperto no coração ver a cria sofrendo com as picadinhas e possíveis reações, mas fico muito mais tranquila sabendo que ela está se protegendo de inúmeras doenças, que podem inclusive ser fatais para bebês e pessoas com imunidade baixa.
6 Comentários
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Amanda, você chegou a dar a BCG na sua filha no Brasil? Vamos para lá esse mês e tenho esse dúvida, se é bom dar ou não.
Ola Amanda, e no final das contas. Vai ter mesmo que esperar ate chegar no brasil pra dar a BCG? Eu estou no mesmo barco que você. Minha pequena nasceu em Janeiro’18 em Londres, e nos mudamos pra Lucca em março.
Abraço
Oi Pamela! Desculpa a demora para te responder, estava no Brasil com pouco acesso ao computador! Conversei com o médico do centro de doencas tropicais daqui e ele disse que na Itália só dao em casos muito específicos, tipo a crianca ter contato direto com um tuberculoso ou ir viajar para um local onde a incidência seja muito alta (pelo visto o Brasil nao entra nessa lista), pois a BCG nao é considerada tao eficaz… Como eu fui para o Brasil com a minha filha já com 15 meses (e com uma mania de cutucar qualquer machucadinho), optei por nao dar nem lá… O mesmo médico disse que ele aconselharia em bebês menores, mas estando já acima de um ano ele via menos necessidade, porém quem deveria tomar a decisao era eu, né? E conversando com meu marido optamos por nao dar…Boa mudanca para voces! Se vier a Verona, manda uma mensagem!
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