Neste texto contarei um pouco como tem sido minha experiência com o sistema de saúde na Catalunha. Vinda de outro país da Europa, onde o Sistema de saúde me decepcionou um bocado, chego em Barcelona e tenho uma grata surpresa. E isso me faz lembrar o que minha mãe sempre diz, que é de onde não esperamos que muitas vezes vem as coisas boas. E eu concordo com ela!
Vou detalhar a parte burocrática e o que se faz necessário para ter acesso ao sistema público de saúde.
Como o sistema público de saúde está organizado?
O Sistema de saúde é mantido e financiado através da arrecadação de impostos e administrado por cada comunidade autônoma. Entendemos as comunidades autônomas como nossos “estados brasileiros”, como por exemplo Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, entre outros.
Hoje este Sistema é definido como um modelo de organização centrado e voltado ao cidadão.
No que se refere a saúde privada, assim como no Brasil, aqui na Espanha também é possível contratar um plano de saúde particular. Mas, quando falamos sobre a preferência da grande maioria, cerca de 90% da população faz uso mesmo é da assistência sanitária pública do país, muitas vezes por opção.
As comunidades autônomas são divididas em Áreas Básicas de Saúde (ABS). Em cada uma tem uma Equipe de Atenção Básica (EAB) e os Centros de Atenção Primária (CAP). É o CAP quem determina o hospital de referência mais próximo da residência dos pacientes, proporcionando uma excelente integração e compartilhamento de dados, diagnósticos e histórico, o que agiliza o atendimento.
O atendimento inicial pluridisciplinar, somado à competência do profissional especializado, resulta no rápido acesso ao diagnóstico e eficácia no tratamento. A atenção primária é a pilastra para a qualidade no atendimento na emergência.
Ainda que a Constituição Espanhola respalde o direito à saúde pública universal, para ter acesso a mesma, se faz necessário realizar alguns procedimentos.
Como se registrar?
Para um Brasileiro (a), com dupla cidadania recém-chegado na Catalunha, o primeiro passo vai depender de sua situação no país. Até alguns anos atrás, os processos para um cidadão da comunidade europeia que decidia vir morar na Espanha eram bem mais simples. Atualmente, as exigências aumentaram. E não é mais tão fácil vir, viver e usufruir de todos os serviços, como por exemplo da saúde pública. Mesmo sendo casada com um Ítalo- Brasileiro e aguardando receber meu passaporte Italiano, adquirido através do matrimônio, tive que seguir o seguinte processo:
– Solicitar a tarjeta de residência (TIE): permissão para residência permanente ou “Reagrupación Familiar”, como é conhecido aqui. Deve-se fazer a solicitação de cita previa na oficina de extanjeria através deste site.
– Requerer o documento acreditativo de direito à saúde: fiz o registro na Seguridade Social, sendo que no meu caso (e do meu filho), obtivemos o registro como dependentes de meu esposo, já que não exerço atividade remunerada. Clique aqui para acessar o site da Seguridade Social e fazer o registro. A seguridade Social Espanhola é o mesmo que o nosso INSS ou número do PIS no Brasil.
Já para quem vem morar e ainda não está trabalhando, se faz necessário adquirir um seguro de saúde privado equivalente ao seguro social público. Lembrando que o seguro de saúde somente será aceito após cumprir os 6 meses de carência. Custosamente, você encontrará um seguro com carência zero. Por isso, vale a pena se programar com antecedência antes de sua chegada na Espanha.
– Registro de Empadronamento: trata-se do registro municipal que comprova onde você reside. Marquei uma cita e fui até o “Ajuntamento” do meu bairro munida do passaporte e contrato de aluguel. Lembrando que qualquer pessoa, independente da nacionalidade, pode se empadronar. O agendamento de uma cita prévia pode ser feito aqui.
– Cadastro no CAP: O próximo passo foi ir até o centro de saúde de meu bairro e fazer a carteirinha conhecida como tarjeta sanitária. Um documento provisório foi emitido na hora, e a carteirinha definitiva chegou pelo correio alguns dias depois. Para agendar uma consulta com o médico, basta apresentar a tarjeta sanitária ou através da Internet, evitando filas.
Como ele funciona na prática?
Agora falando na questão do dia a dia, a rotina em si é muito tranquila. Aqui, nós temos o médico de cabeceira, que é responsável pela triagem inicial de seu atendimento. É ele quem te encaminha a especialistas caso seja necessário. Aqui ele é considerado o médico da família.
Seguindo a linha do europeu, onde não se encontra a chamada perfumaria que temos no Brasil, fiquei impressionada com a qualidade do processo. Os agendamentos e atendimentos são rápidos. Nas consultas com o pediatra do meu filho, não me recordo de ter esperado mais de 10 minutos para entrar na sala.
Estou muito satisfeita com a qualidade e a agilidade do serviço, pois tudo é registrado no sistema. Por exemplo, levei meu filho à emergência do hospital pois estava com febre. Lá chegando, a médica pôde ver todo o histórico de meu pequeno, suas últimas consultas, vacinas, etc. E, claro, isso me trouxe mais segurança e credibilidade. Os hospitais são organizados e limpos.
Diferente do Brasil, a saúde pública é muito bem vista pelos espanhóis. Hoje, não mantenho uma saúde privada por escolha nossa. Algo muito interessante e que funciona muito bem, é que os remédios são subsidiados pelo governo. Então, se você comprar um remédio com uma receita médica, o valor sairá bem mais barato.
Respeitável ver como o dinheiro arrecadado do cidadão através dos impostos, retorna a ele de várias formas, seja na saúde, educação ou transporte. Atualmente, me sinto bem confortável tendo minha família assistida pela saúde pública da Catalunha, que na minha opinião é excelente.
2 Comentários
Adorei, texto claro, muito bem explicado.
[…] mais sobre a saúde pública na Catalunha, França, Reino Unido e […]