Quando a Mãe Expatriada Fica Doente
A maior parte das mães expatriadas tende a concordar que uma das grandes dificuldades de viver fora do Brasil é estar longe da família e não contar com uma ampla rede de apoio. Isso fica muito evidente quando ficamos doentes.
Todo mundo se sente ansioso quando descobre um probleminha de saúde. No caso das mães expatriadas, no entanto, muitas vezes essa ansiedade é agravada pelo fato de não conhecermos bem os médicos e o funcionamento do sistema de saúde do país onde estamos vivendo. Em alguns casos, há ainda a dificuldade com a língua e as diferenças culturais. Outra grande e constante preocupação é a de quem cuidará das nossas crianças se precisarmos nos ausentar por um tempo.
Primeira consulta médica nos Estados Unidos
Na minha primeira consulta médica em Nova Iorque, a doutora solicitou que eu fizesse um exame de imagem. Eu realizei o exame e para a minha surpresa, não tive acesso ao resultado diretamente. Aqui o médico é quem recebe o resultado e o repassa para o paciente. Quando a doutora me telefonou, veio a minha segunda surpresa: ela me informou o resultado e os passos que eu deveria seguir muito rapidamente pelo telefone (graças a Deus, eu não nada tinha nada grave).
A ligação da médica foi tão corrida que eu não tive nem tempo de refletir e fazer muitas perguntas. Depois que nos falamos, me peguei pensando: como assim ela me diz o resultado por telefone e eu não vejo o exame com os meus próprios olhos? Não seria melhor eu ir até o consultório pegar o exame e conversar com ela pessoalmente? Liguei para o consultório, consegui falar com ela depois de algumas horas e ela me disse que eu não precisava ir até lá. Me deu mais umas explicações e atendendo ao meu pedido, me enviou o laudo do exame por e-mail.
Sistema de saúde nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos praticamente não existe saúde pública. Esse é o pé de barro do modelo norte-americano. Felizmente, eu tenho um bom plano de saúde. De todo modo, a maioria dos planos cobram coparticipação e os valores dos procedimentos são muito altos. Os Estados Unidos têm os custos de serviços médicos mais altos do mundo. As comparações com outros países ricos mostram claramente. Pra saber mais clique aqui.
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Aos poucos, fui descobrindo que é comum os médicos atuarem como a minha médica. Muitos não pedem para que os pacientes retornem logo para uma consulta após receberem os resultados de exames. Fazem a comunicação por telefone e algumas vezes, quem liga é o assistente e não o próprio médico. Em geral, você não tem acesso direto aos seus exames, ao menos que você peça.
Problemas de saúde
Há algum tempo comecei a sentir os sintomas do crescimento dos miomas que tenho: o forte aumento do fluxo menstrual, causando hemorragia, e posteriormente, o crescimento da minha barriga (em função do aumento do útero). Como consequência, apareceram problemas físicos como a anemia, cansaço e algumas cólicas fracas.
Como forma de evitar ou retardar a necessidade de uma cirurgia maior, decidi tentar um procedimento chamado embolização de miomas. Mesmo sendo bem menos invasivo, eu sentia medo de que algo desse errado, assim como medo das dores do “pós-operatório”.
O meu emocional ficou um pouco abalado. Tive momentos de baixa autoestima, ansiedade e medo. Nós sentimos medo por nós próprias, mas também por nossos filhos. Isso acontece com mães em geral, mas acho que a ansiedade com as expatriadas é potencializada devido à distância da família e amigos. Não temos nossas mães, tias, nem nossas melhores amigas pra segurarem na nossa mão, nos darem um abraço apertado e nos garantirem que não precisamos nos preocupar com os filhos, pois elas cuidarão deles o tempo que for necessário.
Quando a burocracia administrativa não funciona bem e a ansiedade toma conta
Para poder realizar a embolização de miomas, é preciso fazer previamente uma biopsia do endométrio. Embora todos estivessem otimistas em relação ao resultado, fiquei um pouquinho ansiosa até recebê-lo. A médica ginecologista que realizou o exame, me disse que provavelmente me ligariam em até duas semanas para dar o resultado, mas se isso não ocorresse, que eu ligasse para o hospital.
Passaram as duas semanas e ninguém me ligou. Liguei para o hospital e deixei o recado com tudo explicadinho para repassarem para a assistente da médica. Não recebi retorno. No dia seguinte, liguei de manhã e de tarde, reclamei, e não recebi ligação de volta. A essa altura, junto com a minha indignação, crescia o receio de que o resultado fosse ruim.
Decidi então procurar o médico radiologista intervencionista que iria realizar a embolização. Como ele trabalha no mesmo hospital e precisava do resultado da biópsia para confirmar a realização do procedimento, entrei em contato e expliquei a situação. A comunicação com ele funcionou bem desde a primeira consulta. Ele já estava com o resultado, que graças a Deus era bom.
Planejamento familiar para a cirurgia
Primeiramente, conversei com o meu marido com antecedência. Eu disse que queria que ele me acompanhasse no dia da cirurgia e que precisaria dele em casa por alguns dias para me ajudar e para assumir todas as obrigações com a nossa filha.
Conversei também com a mãe de uma amiga da minha filha e perguntei se a filhota poderia dormir na casa dela na véspera da cirurgia, pois eu e o meu marido precisaríamos ir muito cedo pro hospital. O conselho que eu dou para as outras mamães expatriadas é: não façam cerimônia nessa horas. Não se sintam envergonhadas de pedir ajuda pra uma mãe mais próxima. Quando as pessoas sabem que estamos passando por momentos complicados, em geral se mostram prestativas.
Perguntamos ao pai de outra amiguinha se ele poderia ficar com a nossa filha por algumas horas no dia do procedimento após a aula. Eu voltaria pra casa no fim da tarde e o meu marido iria buscá-la. Ele prontamente aceitou.
Dificuldade com o plano de saúde
Depois de tudo combinado, na véspera do procedimento, no fim da tarde, eu recebi uma ligação do hospital dizendo que o meu plano de saúde ainda não tinha aprovado a realização da embolização no dia seguinte. A vida de expatriado não é fácil, mas eu sou brasileira e não desisto nunca! Falei para funcionária que eu iria entrar em contato com o meu plano de saúde. Fiquei muito estressada porque ela disse que estava de saída e já queria reagendar o procedimento pra semana seguinte. Tive que argumentar que não recebi nenhum recado anterior e que não estava sabendo de nada até aquele momento. E que precisava de um tempo para resolver a situação. Liguei para o meu marido e juntos conseguimos resolver. Ele brigou com o pessoal do plano de saúde e eu com as funcionárias do hospital!
Aprendizados
Deu tudo certo na realização do procedimento médico e também com o nosso planejamento familiar. Ainda preciso aguardar mais um tempo para observar como o meu corpo vai reagir e a necessidade de uma cirurgia maior não está descartada. Durante o processo, me senti emocionalmente abalada, mas saí fortalecida e com muito mais experiência em relação ao sistema de saúde daqui. Aprendi muitas coisas que me serão úteis.
Outra coisa importante foi perceber que o meu marido foi capaz de lidar sozinho com todas as adversidades que ocorreram durante esse período. Muitas vezes, nós mães achamos que somos insubstituíveis na gestão da casa e na organização da vida dos filhos. Esses acontecimentos nos provam que estamos erradas. Também me senti muito acolhida pelo meu marido e não sofri tanto com a falta da minha rede de apoio feminina, como eu imaginava que iria acontecer.
Outro ponto a ser destacado foi a solidariedade dos novos amigos, pessoas que conhecemos não faz muito tempo, mas que se mostraram muito receptivas quando precisamos de ajuda. Nós, mães expatriadas, não temos a rede de apoio que gostaríamos, mas devemos tentar criar novas redes com as pessoas que estão por perto, por exemplo, os pais dos amigos dos nossos filhos. Algumas vezes as diferenças culturais e linguísticas dificultam as coisas, mas se nos mostrarmos abertos e acolhedores, mais cedo ou mais tarde conseguimos construir alguns laços de amizade.