Em Meu filho ficou doente: o que fazer? – Parte 1, falei sobre os aspectos mais subjetivos de ter uma criança doente em casa, como a necessidade de acolhimento, amor, escuta, respeito ao repouso e às necessidades do corpo. Agora, veremos os aspectos mais práticos das doenças infantis: as mais comuns, os riscos, os fatores de atenção e como deve ser feito o manejo inicial da doença, em particular quando somos imigrantes.
Doenças mais comuns na infância
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as doenças infecciosas são as mais comuns em todo mundo. Doenças que são respostas dos indivíduos às infecções causadas por algum outro organismo vivo, que podem ser vírus, bactérias, parasitas, protozoários ou fungos. A maior parte das doenças infecciosas é causada por vírus, como as gripes e as diarreias. O segundo maior grupo é de infecções causadas por bactérias como amigdalites, otites, sinusites e pneumonias.
É importante saber que as doenças não se distribuem de modo homogêneo por todo o planeta. Cada país tem suas doenças mais específicas e frequentes. Tomamos como exemplo o caso da dengue no Brasil. Há vários anos e por diversos motivos, a dengue vem aumentando de frequência na época mais quente de primavera e verão. Mas outros países da América Latina não apresentam esse aumento, mesmo com condições climáticas semelhantes ao Brasil.
Por outro lado, uma mesma doença pode aparecer em vários países do mundo, mas em épocas distintas. O maior exemplo é a gripe. Em geral, o vírus da gripe de mesma família é mais frequente (prevalentes é o termo científico mais adequado) no outono/inverno. Assim, os casos de gripe aumentam em países do hemisfério norte no outono e inverno. Depois, ocorre uma “migração” deste aumento de casos para países do hemisfério sul quando as estações de frio começam por lá.
Em resumo, as doenças causadas por vírus e bactérias são as mais comuns na infância. Mas as doenças mudam tanto de frequência (prevalência) em países diferentes quanto mesmo na forma de manifestação da mesma doença.
Febre, prostração e desidratação
De modo muito simplificado, podemos dividir os riscos destas doenças em dois: para o próprio paciente e para o grupo social em que este paciente se encontra.
No primeiro caso, lembramos que a maior parte das doenças infecciosas apresenta uma boa evolução clínica. São aquelas doenças com começo, meio e fim. Tomando como exemplo a gripe: nos primeiros dias temos sintomas mais amplos como febre e dor no corpo. Depois, a virose evolui e os sintomas específicos se evidenciam, como coriza, espirros e dores de cabeça. Por fim, mesmo que o paciente não tome nenhuma medicação, a doença vai embora e o paciente se recupera progressiva e lentamente até que os sintomas desapareçam por completo.
Em alguns casos, no entanto, a depender do agente que causa a doença e do estado imunológico do paciente, as doenças podem apresentar certas complicações e colocar a vida do doente em risco. Por isso, os profissionais de saúde sempre avaliam os sinais de alarme (para saber mais, clique aqui) que o corpo dá.
Um dos sinais de alarme que mais assusta é a febre. Mas é importante saber que as doenças infecciosas invariavelmente vêm acompanhadas de febre e esta apresenta alterações esperadas no corpo, como aumento da temperatura, sensação de frio, mãos geladas, partes mais centrais do corpo quentes (como testa, axilas e pescoço), além de aumento da frequência respiratória (o doente respira mais rápido) e cardíaca (o coraçãozinho da criança bate mais rápido). Além disso, a febre causa prostração e, no caso das crianças, elas perdem a vontade de brincar e comer, ficam mais quietas e chorosas. Bem fácil de reconhecer essas reações se pensarmos em nós mesmos quando estamos febris: só dá vontade de ficar deitado, cheio de cobertores e bem quietinhos. Quando a febre diminui, esses sintomas vão embora.
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Mas um dos sinais de alarme que deve ser observado é a prostração. Criança não pára quieta, graças a Deus! Porém, na hora da febre, a criança estará mais prostrada. Mas criança é uma delícia! Logo que a febre baixa a vivacidade volta e ela começa a brincar, volta a comer um pouquinho e bebe bastante água. Um grande sinal de alerta é a criança que fica muito prostrada mesmo sem sinal de febre. Aquela criança que só fica deitada, dormindo, não brinca, não come e não bebe nenhum líquido.
Aliás, não beber líquidos é outro sinal de alarme. Criança doente não come bem (nós mesmos quando doentes não temos fome para nada). Isso não tem importância. Quando a doença passar, ela vai comer muito e recuperar tudo! Mas criança que não toma líquidos assusta. A febre traz um estado de desidratação ao organismo, perdemos muito líquido ao aumentar e diminuir a temperatura corpórea. Então dá muita sede e precisamos repor todo esse líquido. Se a criança não bebe muito líquido (de preferência água), ela desidrata com mais facilidade e a doença pode piorar.
Resumindo: criança prostrada, mesmo sem febre, e que não bebe quase nenhum líquido requer atenção redobrada. Procure um médico para avaliar o seu filho (a) se ele apresentar esses sintomas, seja o médico de família, pediatra ou o médico do pronto-socorro.
Repouso e risco de contágio
Por fim, existe o risco para as pessoas que convivem com o doente. Aí eu entro no ponto das escolinhas e creches. Criança doente tem que ficar em casa, por dois motivos. O primeiro é que ela precisa descansar e se recuperar, precisa ficar em sua zona de conforto, em repouso, e precisa ser acolhida (se ainda não leu, leia a parte 1 deste texto. O link está lá no início). A casa é o seu lugar quando doente.
O segundo grande motivo é que criança doente pode transmitir a doença para outras crianças e adultos que convivem com ela. Todos sabemos, sem precisar estudar, que gripe passa como rastilho de pólvora! Em escolinhas, hoje temos um bebê doente, amanhã são quatro, depois de amanhã oito e, na semana seguinte, a escola está tomada pela gripe. São raros os bebês e os professores que se safarão dessa. Imagine então o que pode acontecer com doenças menos comuns, como sarampo, caxumba, escarlatina?
É imperativo procurar o médico. Ele vai saber se a criança está respondendo adequadamente à própria doença e às medicações e ele saberá enxergar os sinais de alarme. Além disso, ele também consegue elaborar um julgamento melhor se o paciente necessita de isolamento, se a criança pode frequentar a escolinha ou se há ou não risco de contágio para os outros membros da família. A orientação inicial e final sempre deve ser dele. Assim, voltamos à primeira parte do texto publicado: ter um médico no sistema de saúde local, quando imigramos, é fundamental!