França agora possui 11 vacinas obrigatórias para bebês
Os bebês que nascerem na França a partir deste ano terão que ser vacinados contra 11 doenças. Uma mudança considerável no calendário de vacinação nacional, que antes contava com apenas três obrigatórias.
A nova lei foi bastante comentada por aqui entre os franceses. Confesso que para mim, essa questão foi difícil de entender por outro motivo: as vacinas eram/são diferentes das do Brasil em número e épocas nas quais devem ser feitas.
Enquanto lá, até os dois anos de idade, são cerca de 16 vacinas tomadas, aqui eram apenas três obrigatórias (agora 11). O início apenas aos dois meses de idade, contra já na maternidade no Brasil. É realmente confuso para quem não está habituado à questão. Abaixo, explico melhor como esse sistema funciona.
O que realmente muda?
Para começar, as novas vacinas são, na verdade, as mais comuns e conhecidas: coqueluche; sarampo, caxumba, rubéola (rougeole, oreillons, rubéole), influenzae tipo b (influenzae type b), meningocócica C (méningocoque C), hepatite B (hépatite B) e pneumocócica (pneumocoque). Essas oito eram apenas recomendadas até então. As três que já eram e continuam sendo obrigatórias são: difteria, tétano e poliomielite (Diphtérie, tétanos, poliomyélite).
Na prática, a maioria das crianças já tomava todas por indicação do pediatra. Mas os pais tinham o direito de não dá-las caso não achassem necessário. Entretanto, a DTP não era vendida separadamente. Junto a ela, vinha outras três: hepatite b, haemophilus influenzae b e coqueluche. A esse conjunto dá-se o nome de hexa. Para fazer apenas as obrigatórias, era necessário pedir ao pediatra uma receita especial para solicitar ao laboratório essa dose diferente e esperar por pelo menos três semanas.
Quanto à tríplice viral (caxumba, rubéola e sarampo), o pediatra conversava diretamente com os pais para decidir se a vacina seria feita ou não.
Quando as vacinas devem ser feitas?
A época em que são dadas as doses continua praticamente como antes, com exceção da meningocócica C. Anteriormente, o bebê recebia apenas uma dose aos 12 meses. Agora, esta passa a ser a segunda dose da vacina. A primeira é feita aos cinco meses.
A hexa + pneumocócica é dada em três doses, aos 2, 4 e 11 meses.
A tríplice viral (caxumba, rubéola e sarampo) é dada aos 12 meses e depois o reforço entre os 16 e 18 meses.
Quem paga as vacinas?
Para as crianças que possuem a cidadania francesa, as vacinas feitas nos centros de vacinação ou nas PMI (Protection Maternelle Infantile) são gratuitas para menores de 6 anos. Já quando é o médico que administra ou enfermeiros, 65% do valor é pago pela Assurance Maladie (o seguro saúde público). O restante geralmente é custeado pelos seguros complementares para quem tem.
Minha experiência
Minha filha nasceu em 2016 e, portanto, não entra nessas novas regras. Ainda assim já tomou quase todas da lista. Durante a gravidez, não me preocupei com a questão da vacinação. Para mim, seria algo automático: o pediatra iria dizer o que fazer e pronto. Mas assim que ela nasceu, percebi que o tema seria mais complicado do que imaginava.
Eu, mãe de primeira viagem, queria logo que ela tomasse todas as vacinas para não correr o risco de pegar nada. Entretanto, quando me dei conta da diferença dos calendários do Brasil e da França comecei a questionar essa posição. Foi então que passei a olhar as vacinas com mais cautela.
Para quem transita entre países tão diferentes como a França e o Brasil é ainda mais confuso. A vacina contra a tuberculose (BCG), por exemplo, aquela famosa que deixa a marquinha no braço de todos os brasileiros, não é obrigatória aqui desde 2007.
Eu achei que minha filha não precisaria tomá-la. Mas logo na primeira visita pós-parto feita por uma enfermeira, sabendo que eu era brasileira, ela me questionou se tínhamos viagem ao Brasil programadora. Com a minha confirmação, logo me disse que seria preciso fazer a vacina, e o ideal é que ela fosse feita até o 2º mês de vida do bebê. De outra forma, seria necessário fazer, além da vacina, um teste, o que significaria duas picadas. Ela mesma ficou de verificar a disponibilidade da dose, já que se tratava de uma vacina opcional, e me ligar para agendar a aplicação. Nesse meio tempo, conversei com minha pediatra que disse que eles não faziam mais a BCG e que se eu quisesse deveria me informar num centro de vacinação. Foi realmente uma sorte a enfermeira ter tocado no assunto antes, pois com um recém-nascido em casa e sozinha, teria sido bem complicado ir atrás disso. Dias depois, ela me ligou e marcamos a vacina para a consulta de um mês da minha filha.
Aos dois meses, chegou o momento de fazer a primeira dose da Hexa e a pneumocócica, ou seja, duas aplicações, uma em cada coxinha. Questionei a pediatra sobre fazê-las separadas por conta da reação. Ela disse que se achássemos melhor, poderíamos dar uma de cada vez, porém que em 20 anos vacinando, ela não via diferença de reação em tomar junto ou não. Além disso, significaria que em toda consulta até os 5 meses, minha bebê levaria uma picada e isso poderia fazê-la ter medo da consulta. Acabamos optando por fazê-las juntas, mesmo ela tendo se mostrado aberta para escolhermos a forma que quiséssemos. Apenas na 3ª dose, aos 11 meses, ela teve reação. Como a meningocócica ainda era feita apenas com uma dose aos 12 meses, ela só tomou com essa idade junto com a tríplice.
Embora ela já tenha tomado quase todas as doses das vacinas recomendadas, que agora são também obrigatórias, ainda é preciso fazer outras importantes para o Brasil como a da febre amarela. Essa última só pode ser feita em um centro de vacinação credenciado. Quando questionei minha pediatra, ela pediu para eu entrar em contato com o centro de viajantes internacional da cidade. Lá eles me passariam a um médico cadastrado, que faria a solicitação da vacina e entraria em contato comigo para fazê-la caso não houvesse em estoque. Como a vacina é apenas para quem viaja, ela é paga integralmente por quem solicita. O governo não reembolsa. O preço fica em torno de 60 euros.
A vacina do rotavírus, obrigatória no Brasil, também foi tirada da lista de vacinas recomendadas em 2015 na França. A nossa pediatra nem mencionou a possibilidade de fazê-la e eu tive medo das reações adversas tão comuns. Mas os pais que quiserem, podem solicitá-la, com a condição de pagá-la.
Leia também: Creches francesas: adaptação e diferenças
Hepatite A também é opcional e particular. Ainda não sabemos se vamos fazê-la ou não.
A vacinação pode ser um assunto bem complicado quando se transita por países de climas e condições de saúde tão diferentes. Por isso, é sempre importante conversar com o médico sobre essa questão e, caso ele não esteja acostumado com essa particularidade, vale a pena procurar os centros de viajantes e ler bastante. Eu já passei por três pediatras diferentes e sempre falo das viagens e questiono sobre essas e outras vacinas. Para quem tem planos de retornar ao Brasil, também é legal conversar sobre as diferenças logo no nascimento para que o bebê não fique com muitas vacinas atrasadas e depois tenha que tomar de uma vez.
Links úteis
O calendário de vacinação brasileiro pode ser encontrado aqui
O governo francês disponibiliza as informações sobre as novas vacinas neste link
Existe também um site para localizar o centro PMI mais próximo de você. Mesmo para quem não tem a cidadania francesa, os centros dão informação e suporte para as mães e bebês.
2 Comentários
[…] Leia também: França agora possui 11 vacinas obrigatórias para bebês […]
[…] mais sobre Vacinação no Canadá , em Portugal , na Itália , na França , na Espanha , na Polônia e em Moçambique […]