Emergência pediátrica na França
Emergência é uma daquelas coisas que a gente prefere nem pensar, não é? Mas conhecer o funcionamento dela evita estresse extra e até surpresas numa situação já recheada de tensão e imprevistos.
Por incrível que pareça, emergência não é tudo igual. Descobri diferenças importantes entre a do Brasil e a da França. E nem vou falar sobre a qualidade aqui, mas de diferenças de procedimento e cultura mesmo.
Na França, há hospitais que têm emergência pediátrica para atender crianças e adolescentes. Nela, tudo é voltado para a criança: desde a decoração até a temperatura (como na maternidade). Por falar em temperatura, na emergência em que a gente foi, os bebês desfilavam de fralda ou body de manga curta lá dentro, enquanto o frio pegava lá fora . Por isso, aconselho levar roupas leves na bolsa. Os pequenos doentes têm entretenimento de sobra. Há brinquedos, livros e área de jogos (como nas creches). No entanto, sem televisão na sala de espera.
O cadastro
O meu marido e eu já conhecíamos a emergência geral. Basicamente, o procedimento administrativo é o mesmo para a pediátrica. Ao chegar, a gente é atendido por um(a) enfermeiro(a). Não, não há recepcionistas como nos hospitais brasileiros. O profissional de enfermagem é quem faz o dossiê administrativo do paciente. Para o cadastro, pede-se a cédula de identidade e o cartão de saúde (indispensável). Além disso, para as crianças, é necessário a caderneta de saúde, em que constam todas as informações do bebê desde o dia do nascimento (desenvolvimento, tratamentos, vacinas, etc.). E se o bebê ainda não tem cédula de identidade? Deve-se apresentar o “livret de famille”, o livrinho oficial que reúne dados do casamento dos pais e nascimento dos filhos. E se eu esquecer esse documento? Não entre em pânico! Na recepção, a gente recebe um papel com o endereço postal e eletrônico do hospital para enviar uma cópia depois. Uma vez entregue a documentação, a gente recebe uma folha cheia de etiquetas com o nome, a data de nascimento do paciente e a data da entrada na emergência. Para cada procedimento (consulta, exame etc), o profissional de saúde usará uma etiqueta.
A consulta
Terminada essa parte administrativa, que demora poucos minutos, é hora de contar o motivo da “visita”. Aqui, emergência é algo que deve ser levado muito a sério e não se aceita o uso dela de forma desnecessária. Pode parecer chato, porém é solicitado (às vezes, bem duramente) justificar a ida. Por exemplo: pediatra ausente, impossibilidade de consulta numa “maison médicale de l’enfant” (que oferece consultas em caráter de urgência para alguns casos), dentre outros.
Em seguida, ali, no balcão mesmo, começa o primeiro atendimento. Num espaço reservado para bebês, a enfermeira pode tirar a temperatura, a pressão e até medicar. Tudo sem longas esperas. No entanto, a etapa seguinte requer paciência. A gente é dirigido à sala de espera e a espera pode ser longa. O atendimento não é por ordem de chegada, mas de acordo com a gravidade da doença e a idade da criança. O que é normal e justo. Quem vem buscar a criança na sala de espera é um(a) enfermeiro(a). Ele(a) examina, mede e pesa o bebê. E ouve, ouve muito e atentamente todos os detalhes que fizeram a gente ir à emergência e também faz várias perguntas, inclusive sobre outras vezes em que o bebê ficou doente. Após essa primeira parte da consulta, vem a segunda, com o médico-pediatra, que igualmente ouve com atenção e faz muitas perguntas, além de ler a caderneta de saúde do bebê. Depois de examinar com cuidado, solicita ou não exames e dá o diagnóstico com o tratamento, se necessário. O exame é feito na emergência mesmo e o resultado sai na hora. Chegamos às 20h e saímos às 23h de uma sexta-feira. Pode ser demorado, porém saímos aliviados e satisfeitos!
Cuidado com a surpresa!
Apesar de o sistema de saúde francês ser gratuito ou quase gratuito, dependendo da renda e de outros fatores (como a “mutuelle”), há outras diferenças complexas em relação ao Brasil. Nas consultas e exames normais, o paciente paga um valor na hora e é reembolsado depois. E na emergência? De nossa experiência, nunca pagamos nada no dia em que damos entrada. Maaaaaaas, a surpresa pode chegar alguns dias mais tarde, pelos correios. Digo “pode” porque depende da situação de cada um. O paciente recebe a conta com o valor referente ao atendimento (consulta, exame etc) na emergência, que deve ser paga no prazo estipulado. Por isso, não se assuste se receber uma cartinha dessas.
E a qualidade?
Apesar de ter falado um pouco a respeito da qualidade, não entrei em detalhes. Aqui em casa, todo mundo passou por diferentes emergências em diferentes lugares e o atendimento foi de qualidade em todas elas até agora. O único ponto negativo foi a demora – e, mesmo assim, não aconteceu todas as vezes. Entretanto, essa é nossa experiência. Já li e ouvi sobre experiências ruins de outras pessoas nos hospitais franceses. Infelizmente, nada neste mundo é perfeito. Só acho importante levar em conta um problema enfrentado pelo país já há alguns anos: a grande escassez de profissionais de saúde, principalmente médicos. Esse fator tem um impacto direto na qualidade do atendimento. Hospitais cheios, demora no atendimento, funcionários estressados por causa das condições de trabalho, tudo isso existe, além dos maus profissionais.
Continuamos no planeta Terra.
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