Diagnóstico e tratamento do TDAH na Suíça.
O TDAH é um transtorno caracterizado por sintomas intensos e frequentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Se você não conhece esse termo não se assuste. Até sete anos atrás, eu também era leiga no assunto.
Lembro-me que quando a professora do meu filho me chamou para uma reunião na escola, nunca imaginei a caminhada que começaria ali. Na época, ele tinha seis anos e estava há dois anos com a mesma professora, que era uma excelente profissional e se importava com cada aluno. Naquele dia, ela me explicou o que estava acontecendo. Meu filho era muito disperso nas atividades escolares e com seus deveres, e também muito desorganizado. Era inquieto, desatento, o famoso ”cabeça nas nuvens” e agitado. Toda vez que tinha um dever para fazer havia muito choro ou ele inventava histórias mirabolantes. Sempre tinha mil desculpas pra não ter que enfrentar uma folha… Dificuldades muito grandes em terminar tarefas.
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Eu fiquei ali, escutando e tentando assimilar todas aquelas informações. Foi aí que ela me perguntou: “e em casa, como ele é?” Um filme passou na minha cabeça e respondi: “Ele não para. Muito impulsivo, age antes de pensar. Conversa sem parar.”. Mas pra mim, até então, aqueles eram comportamentos normais. Era o meu primeiro filho. Fui mãe com 20 anos e não tinha nenhum outro exemplo de criança. Lembro de uma conhecida nos perguntar uma vez: “Ele não é hiperativo?” Eu ri. “Lógico que não, ja viu alguma criança parar quieta?!?”
Exames e consultas com especialistas
A professora nos encaminhou para um centro especializado de fonoaudiólogos e psicólogos para fazer todos os testes e ver o que poderia ser feito. Durante dois meses, meu filho tinha consultas com um psicólogo e um fonoaudiólogo duas vezes por semana. Paralelamente, o pediatra nos encaminhou para um neuropediatra.
Depois de vários exames veio o diagnóstico: Déficit de Atenção com Hiperatividade e Dislexia. Foi um baque. A gente não viu nada. Eu me senti mal. Ele estava sofrendo com aquela situação. Durante muito tempo ele dizia pra si mesmo: sou péssimo em tudo que faço. Não tinha mais confiança em si mesmo.
Aos poucos fui explicando que ele era capaz de muitas coisas, só precisava de ajuda. Começamos os tratamentos. Depois do diagnóstico, ele começou a ir ao fonoaudiólogo duas vezes por semana. O fonoaudiólogo trabalha com os aspectos que envolvem a comunicação oral e escrita. No caso do meu filho, era compreensão oral e escrita com dislexia.
Eles também nos aconselharam um tratamento psicológico, mas recusamos. Era muito para assimilar de uma só vez.
Na Suíça, quando uma criança tem TDAH ela dispõe de medidas DIP (sigla do Departamento da Instrução Pública, de Genebra). Essas ”medidas” são para que uma criança com TDAH possa ter um tempo extra nas provas e para que o professor seja mais compreensivo e paciente no processo de ensino e aprendizagem. O pedido é feito diretamente pelo fonoaudiólogo ao DIP, que, por sua vez, envia diretamente as diretrizes à escola. O meu filho faz uso dessas medidas, que são validas até a faculdade, caso ele necessite. Só precisamos renovar o pedido a cada dois anos.
Redução de açúcar e tratamentos alternativos
Eu devorei livros sobre Déficit de Atenção com hiperatividade, tratamentos alternativos e Ritalina. Começamos por reduzir o açúcar que meu filho consumia. Tirei refrigerantes, doces, cereais que parecem ser inofensivos mas que escondem uma alta dose de glicose.
Nutricionistas já alertam há tempos que o açúcar pode ser associado à hiperatividade, dificuldade de concentração, irritabilidade, além de diabetes e obesidade. Estudos mostram que açúcar a longo prazo pode causar danos irreversíveis à saúde. No nosso caso, foi incrível a mudança que obtivemos com a diminuição do açúcar. Conseguimos ver uma melhora na irritabilidade e impulsividade. Uma criança mais calma em vários aspectos. Não foi fácil, ele torceu o nariz, bateu o pé, mas não deixamos opção – era para o bem dele.
Usamos florais de Bach durante dois anos, mas não vimos uma melhora significativa. Já com o ômega 3 observamos uma melhora na atenção. Faço um tratamento de três meses duas vezes ao ano. A neuropediatra do meu filho “queria morrer” quando eu contava o tratamento dele: menos açúcar, florais de Bach e ômega 3.
A hora da Ritalina
Todos os profissionais de saúde que consultamos nos indicaram um remédio chamado Ritalina, que, até então, eu não conhecia. Compramos e colocamos na gaveta. Para mim, naquele momento, era como se eu estivesse drogando o meu filho. Ele foi diagnosticado aos seis anos. Eu, como mãe, senti que deveria tentar outros alternativas.
Por sete anos, desde o diagnóstico, optamos por não medicá-lo. Para mim foi uma vitória, pois fomos até o limite. Durante esse período sem medicação ele continuou os estudos com êxito. Mas no ano passado ele começou o ”Cycle d’orientation”, que é o correspondente ao Ensino Médio no Brasil. E enfrentou várias dificuldades: são muitos professores diferentes de várias matérias e as notas começaram a cair de maneira drástica.
Procuramos uma outra neuropediatra que nos disse:
a Ritalina será somente uma ajuda durante os estudos, você fez o máximo que poderia fazer até hoje, agora ajude-o porque ele também sofre com essa situação.”
Caso não houvesse melhora, ele poderia parar o tratamento a qualquer momento. Começamos a testar o remédio há três meses e os resultados são positivos. As notas melhoraram consideravelmente e ele consegue assimilar bem melhor tudo o que aprende na escola. Temos acompanhamento médico e optamos por fazer o tratamento de segunda à sexta, quando ele tem escola. Nos finais de semana e durante o período de férias ele não toma a medicação. E continua vendo um fonoaudiólogo e um professor particular uma vez por semana. No caso do meu filho é o que está funcionando. Mas cada caso um caso.
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Dicas para crianças com TDAH
- Peça a professora(o) para colocar seu filho na primeira fileira. Melhor ainda se for perto da mesa dela, de preferência longe da porta e da janela.
- Aulas de apoio e professor particular ajudam muito.
- Reserve um espaço calmo para a realização dos deveres escolares.
- Não compare seus filhos, eles já têm uma baixa autoestima.
- Tire um tempo para ficar com seu filho. A interação é muito importante.
Digo por experiência própria, não é fácil ter um pequeno vulcão em casa. Espero que esse texto possa ajudar outras mães que tenham filho com TDAH. Além do tratamento, o fundamental é ter muita paciência e amor.
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