Aproveitando que o Dia dos Pais está chegando, o Mães Mundo Afora convidou algumas pessoas para refletir sobre a data em diferentes perspectivas. E quem abre esse especial é a psicóloga perinatal/parental Marcella Sandim*, que levanta a pergunta: qual é o papel do avô na construção da paternidade?
“Não é tão simples como parece. Aquele frio na barriga, medo de ser substituído, insegurança sobre esse novo papel e incerteza em como desempenhar a avosidade. Ser avô, não é mesmo fácil! Se eles e as famílias entendessem a sua importância, possivelmente haveria mais participações parentais no desenvolvimento das crianças, mais estímulos sobre assegurar os papéis maternos e, principalmente, o auxílio na construção do papel do novo pai.
Alguns autores acreditam que o status de avô está ligado ao desejo de serem participantes privilegiados da vida dos netos e será esse o ponto de início, o olhar para sua participação, única e significativa. Sobre o desenvolvimento infantil, apontam que o convívio com a figura do avô auxilia bebês e crianças no processo de vínculo afetivo e no senso de pertencimento. Mas para além desse caminhar há dois outros pontos imprescindíveis, que dependerá inicialmente se este avô é pai da mãe ou pai do pai.
Quem é o pai da mãe?
Este avô continua exercendo seu papel de pai. Ao preocupar-se com as necessidades da filha, ele encontra algumas possibilidades para auxiliá-la. Há o desejo de que a filha continue sendo feliz e realizada. Muitas vezes desempenhará o papel do avô ao ponto de promover maior segurança e tranquilidade na relação filha e neto. Atualmente, esses avôs participam das reuniões escolares, levam e buscam o neto(a) na escola, no ballet, no pediatra enquanto suas filhas agregam à função materna, a pessoal e profissional.
Quem é o pai desse pai?
Talvez aqui esse papel tenha grande influência . Enquanto a avó olha pra filha que acabou de se tornar mãe, quem olha para o novo pai?!
O futuro pai, por necessitar também de apoio e atenção, pode recorrer às experiências vivenciadas com seu próprio pai, e este ponto é decisivo na construção desse novo lugar e na relação de vínculo com o bebê. Ao perceber-se “excluído”, podem desenvolver de forma inconsciente ciúmes do filho(a), distanciamento de suas atividades parentais e interferir na sua relação com o bebê e a mãe.
Aqui, a importância do papel do avô também é a participação no estabelecimento dessa nova família.
Quem é esse avô?
Materno ou paterno, esse avô tem histórias pra contar, lembranças pra compartilhar e muita experiência de vida.
Já foi criança, jovem, pai, vivenciou ansiedades e angústias, teve medo de errar com o filho(a), errou muitas vezes, acertou em outras e rompeu expectativas.
Com a experiência adquirida, aprendeu que o início pode ser assustador, mas com o passar do tempo a vida se torna mais simples. Ele é o que pode ser e desempenhar a avosidade dependerá da capacidade de se apropriar deste novo lugar na família, cedendo o lugar de novo pai, ao seu filho e assumindo seu lugar e seu papel de avô. E ainda que não esteja aqui pra contar, há de ter uma avó, um filho ou uma filha, que não deixará sua história se apagar. Apresentarão ao neto um avô de grande importância e é esse o seu papel nessa nova família.
Aos avôs ausentes
Fábio Ancona Lopez – pediatra, nutrólogo, autor de diversos livros e avô – explica:
“Quem se dá, se envolve, participa, faz o papel de avô ou avó. Quem se afasta, por qualquer motivo, também é avô ou avó, mas perde a oportunidade de ter uma fonte de felicidade perene, linda e pura como são as crianças”
E neste dia de comemoração, desejo a vocês construções de lembranças com seus netos, para que eles possam contar as suas e as próprias histórias e falar de suas origens. Feliz dia dos pais!!!”
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*Marcella Sandim, psicóloga Perinatal/Parental. Especialista em Maternidade. Carioca , mãe da Anna Luiza e da Giovanna. Fundadora do projeto do “Aprimorar Materno” (@aprimorar.materno) do Colo pra Mãe (Facebook: colopramae e Instagram @colopramae.campanha). Co-fundadora da roda “Papo pra Mães”e colaboradora na roda Coletivo Acolher. Apaixonada pelas transformações das mães e defensora de uma maternidade mais leve e com mais saúde mental.