Nossa horta caseira na França
Um dos maiores desejos do meu marido era ter um espaço onde pudesse fazer uma horta. Ele, parisiense. Eu, paulistana. Não de nascimento, pois ele nasceu no centro-oeste da França, próximo à cidade natal de sua mãe, onde os avós moravam. Eu nasci no interior de São Paulo, mas vivi praticamente toda a minha vida na capital do estado. Ou seja, experiência zero com o cultivo da terra.
Pulamos para 2018, grávida do meu segundo bebê, procurávamos uma casa maior para dar mais conforto a nossa família. Morávamos em Nantes, próximo a uma estação do bonde. com as vantagens de morar em uma cidade com um transporte público excelente. porém com as desvantagens também, como o aluguel caro.
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Para conseguirmos conciliar espaço e orçamento, foi preciso nos distanciarmos. A casa que moramos hoje foi escolhida por mim por ter todos os cômodos no mesmo andar e ser super bem iluminada (invernos aqui são longos), e pelo meu marido por tem um terreno onde poderíamos plantar.
Além desse espaço, existem árvores frutíferas plantadas. Me lembro que quando chegamos, havia pêssegos no pé e eu nao sabia que eles poderiam ser tão aveludados, ao ponto de ser horrível comê-los diretamente do pé de tantos pelinhos. Também me lembro que vários tinham bichos e eu morria de nojo.
No ano passado, foi a cerejeira que deu muitos frutos e que maravilha poder comê-las direto da árvore. Além de termos feitos uns três clafoutis com elas.
Testando a terra
Foi também no ano passado que meu marido começou a plantação: apenas tomates. Ele havia me prometido tantos que teríamos que congelar em molho. Mas não foi bem assim. Tivemos sim, vários, mas apenas o suficiente para fazermos nossas saladas durante o verão.
Eu ainda não estava entusiasmada com essa história de horta. Tinha um bebê em casa e uma criança de dois anos. mas adorei ter tomates orgânicos e com um sabor delicioso à disposição.
Resultado: este ano, na primavera, quando ele começou a plantar sementes, eu super apoiei. Além do que, era uma atividade para as crianças.
Consumir local
A consumação de produtos locais é super discutida aqui na França. Sabemos de onde vem as frutas, legumes e carnes. Há muita propaganda em cima dos produtos produzidos no próprio país, e mesmo grandes redes de mercado têm produtos originados de produtores da região.
Com a epidemia de covid-19 e o confinamento, a discussão ficou ainda mais forte. E, claro, que isso vai entrando na nossa mente e a gente começa a ficar super orgulhosa de consumir os produtos que estão ao nosso lado, causando menos impacto ao meio-ambiente e incentivando pequenos produtores.
Investimento e resultado
Fizemos um pequeno investimento para podermos ampliar nossa plantação em relação ao ano passado. Compramos uma máquina para preparar a terra, que custou cerca de 150 euros. É possível alugar esse equipamento, mas como estávamos em pleno confinamento, não achamos seguro fazê-lo. Enfim, se todos os anos plantarmos, em pouco tempo teremos pago a ferramenta.
Além disso, compramos sementes e alguns pés já maiorzinhos. Plantamos no início de junho, entretanto, estamos passando por um verão ameno e tivemos semanas frias, o que ajudou as abóboras, mas prejudicou meu quiabos (sim, eu trouxe do Brasil? pois eu amo).
Então tivemos que replantar alguns. Todos os dias que não chove, nós regamos a plantação e esta dando super certo.

Colheita da semana; arquivo pessoal
Eu, que não sei nem subir em árvore, vou todos os dias olhar nossos legumes crescendo. faço a contagem do que já está nascendo, e, claro, mostro para as crianças. Também aproveitamos para comer frutas como ameixa e morangos dos pés. Esse ano teremos também peras!
Tudo com muito sabor, nada de agrotóxico e com uma participação enorme da nossa família. Tem recompensa melhor?
Erros e aprendizados
Como nem tudo são flores (ou legumes), cometemos alguns erros como plantar as abóboras muito próximas. Elas têm folhas enormes que vão se alastrando. Para tentar reparar o erro, meu marido cortou parte de algumas delas e elas morreram. Uma pena, mas outras estão crescendo.
Aprendemos ainda a usar a grama que cortamos como palha para ajudar a terra a manter a umidade. E a não deixar galhos próximos a plantação pois os caracóis e lesmas adoram esses lugares e comem todas as folhas.
Em uma semana muito chuvosa, vi abobrinhas que já estavam crescendo morrerem e fui pesquisar sobre elas. Acabei encontrando um vídeo que falava sobre como aumentar a produção fazendo a polinização artificial. Com isso, descobri o maravilhoso trabalho das abelhas, a identificar as flores macho e as flores fêmeas (desculpe, mas não sei o termo correto) e pude explicar para a minha sobrinha que ficou encantada (assim como eu) com essas especificidades tão perfeitas da natureza.
Para os próximos verões
A experiência está sendo tão maravilhosa, que para o próximo ano temos planos de trabalharmos a terra com a nossa compostagem na primavera, ampliando a nossa plantação e diversificando as culturas.
Temos atualmente: morangos, framboesas, ervas aromáticas, abobrinha, berinjela, tomate, abóbora, pepino, couve, couve-flor e quiabo (torcendo para dar certo). Ano que vem, queremos investir também nas cenouras, vagem, brócolis, ervilha. E, em galinhas! Sim, estamos estudando a possibilidade de termos nossas galinhas e, consequentemente, nossos próprios ovos.
Para terminar o texto, quero deixar uma reflexão, pois embora tenha vivido em São Paulo, capital, a família inteira é do interior, onde há muito espaço para plantar, mas pouquíssimo interesse, e onde os quintais são de piso frio ou cimento em vez de grama. Se temos um clima tão propício para o cultivo de alimentos, por que estamos tão distanciados da ideia de fazê-lo?
Sugestão de livro para ajudar a entender melhor os ciclos das plantas: Des légumes toute l’année
2 Comentários
Nossa Mari amei sua experiência e aventura em ter uma horta, pois assim como você não sei nada disso e confesso que nem de plantas eu conseguia cuidar. Hoje, morando na Itália, aprendi algumas coisas e até orquideas mantenho vivas há dois anos….olha que legal!!! Inclusive me identifiquei muito com a decisão de voces em procurar uma casa e tal.
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