Há alguns anos meu marido me fez essa pergunta: “ Você conhece Houston?”. Eu devo ter dado uma coçadinha na cabeça e respondido: “Sim.”. Mas um sim sem nenhuma convicção. O que eu não imaginava é que o assunto iria engatar em possibilidades (reais) de nos mudarmos para lá. Como chamava mesmo a cidade? Houston, né? Ok! Naquele momento realizei que quase nada eu sabia dessa grande cidade. Foi aí que eu gelei…
Imagens estereotipadas
Quando eu associei que Houston ficava no Texas, logo imaginei cowboys, cavalos e vacas para todo o canto. Veio à minha cabeça um misto de cenas de faroeste com fazendas enormes e zero, zero urbanização. Vale comentar que vivia na selva de pedra, mais conhecida como São Paulo.
Em seguida, veio à mente a corrida espacial e um certo Tom Hanks reproduzindo no cinema a célebre frase: “Houston, we have a problem.” (Assista aqui a cena.). Fato verdadeiro ocorrido quando da explosão de tanques de oxigênio da Apollo 13 em abril de 1970. Seria Houston uma cidade problemática?
Da lua para a Terra
Mas mesmo antes do “probleminha”, a lua já havia ouvido a palavra Houston. Há controvérsias, mas dizem que em 1969, primeira vez do homem na lua, o astronauta Neil Armstrong após toda a checagem mecânica, disse: “Houston, tranquility base here. The Eagle has landed.”. Dessa forma anunciou o sucesso da aterrissagem na lua, e Houston passou a ser a primeira palavra proferida em solo lunar.
E é assim que me sinto hoje aqui. Aterrissagem com sucesso, dando pequenos e grandes passos para a minha existência. Houston, nós temos um lar! E hoje você é o meu convidado para conhecer a minha cidade. Apertem os cintos!
Space City, Bayou City ou H-town
Assim como Paris é a cidade luz, São Paulo é a cidade que nunca dorme, e New York City é conhecida como The Big Apple, Houston carrega vários apelidos. Dentre eles, Space City por razões óbvias devido ao centro aeroespacial (NASA – Space Center Houston) , Bayou City por ser cortada por rios lentos (a cidade é totalmente plana), e H-town, como é mais conhecida, especialmente na área de entretenimento.
Foi fundada em 1836 por dois irmãos novaiorquinos e seu nome advém de uma homenagem ao General Sam Houston que foi considerado um dos heróis na batalha de independência do México, e ocupava a posição de presidente da República do Texas.
Conhecendo mais sobre Houston
Houston é a quarta maior cidade dos Estados Unidos, ficando atrás de New York City, Los Angeles e Chicago. Estima-se que em 2020 passará a ser a terceira em população. Diferente do que alguns possam imaginar, Houston não é a capital do Texas e sim Austin.
Dados demográficos apontam que homens e mulheres representam igualmente 50% da população, concentrando-se na faixa etária de 32,9 anos (millenials). Para saber mais sobre dados estatísticos atualizados, clique aqui.
Houston vive uma economia forte e crescente. A geração de empregos vem em uma curva ascendente e constante. Mesmo operando com médias salariais inferiores em relação a outros grandes centros urbanos americanos, a combinação oferta de emprego e baixo custo de vida torna a Grande Houston muito atrativa para migração (mudança de residência dentro do próprio país) e imigração (advindos de outros países).
A multi H-town
Houston é grande, é populosa e é multi. A diversidade é a tônica deste lugar e mais de 92 países tem representação consular na cidade. Por aqui são faladas mais de 145 línguas, sendo o espanhol o segundo idioma mais falado depois do inglês.
Duas mulheres já foram prefeitas da cidade, sendo uma delas lésbica. O atual prefeito é um político afrodescendente. É considerada uma cidade que tende a ter um alinhamento maior com os democratas, sendo uma das poucas cidades texanas não declaradamente republicana.
Em Houston está o segundo maior distrito de teatros e centros de artes e performances do país, ficando atrás apenas de New York City. O Houston’s Theater District ocupa 17 quadras e oferece 12.000 assentos em suas platéias.
Tudo é superlativo
Ainda na linha o maior, podemos citar que em Houston está o maior complexo médico-hospitalar do mundo, o Texas Medical Center, centro de referência em tratamento, estudos e pesquisa em diversas áreas, destacando-se o maior hospital infantil e o maior hospital de tratamento de câncer do mundo.
E o leitor deve estar se perguntando: “E, afinal de contas, tem vacas e cowboys?”. Tem sim! Claro que aqui acontece a maior Feira Pecuária e Rodeio do mundo. Além das exibições agropecuárias, os visitantes podem ver mais do que a vida em ranchos e fazendas, já que há concertos musicais todas as noites. Os houstonians aguardam ansiosamente, ano após ano, a divulgação das atrações musicais. Quer se programar? Então libere sua agenda de 3 a 22 de março de 2020 e acompanhe tudo sobre o Houston Livestock Show and Rodeo.
Clima e esportes
Houston é considerada uma cidade verde devido a inúmeras áreas que permitem contato direto com a natureza. O verão é quente e o inverno é ameno ao considerarmos os padrões norte-americanos. Raramente neva por aqui, entretanto é rota de tempestades tropicais, tornados e furacões.

Jardim botânico no Hermam Park
Na maior parte do tempo, podemos ver pessoas se exercitando nas calçadas e parques. Mas não se engane: nada pode ser feito a pé devido às longas distâncias e o transporte público, que é quase zero. Tudo se faz de carro na cidade.
Os moradores de Houston são apaixonados por esportes. Diferente do Brasil, aqui nos Estados Unidos cada cidade tem um time principal de cada esporte e eles competem em ligas estaduais, regionais e nacionais. Por exemplo: Houston Texans (futebol americano), Houston Rockets (basquete masculino), Houston Astros (baseball), Houston Dynamo (futebol masculino-soccer), Houston Dash (futebol feminino), além de times universitários de grande expressão.
“H-my town” (Houston, minha cidade)
Para além das críticas e descompassos, muitas coisas aprendi nestes anos. No saldo geral, gostei do que vi e vivi e resolvi ficar. A cidade permite viver a multiculturalidade em uma dimensão que eu não poderia imaginar mesmo vivendo na fervilhante São Paulo. Não me engano achando que aqui é o paraíso. Há preconceito e crises por conta das ondas imigratórias. Mas adoro esse caldeirão de gente de todo canto.
Se pudesse destacar dois pontos que especialmente me cativaram na cidade, seriam: a cordialidade e a solidariedade. Os moradores de Houston são, em sua maioria, muito cordiais. As pessoas se olham, se cumprimentam, sorriem. No início eu achava que algo de errado estava acontecendo, pois, quantos elevadores lotados e silenciosos, quantas portas largadas, quantos vizinhos desconhecidos eu já tive nesta vida. A cordialidade como rotina diária é um afago (me pego suspirando).
Também conheci a solidariedade de um povo quando passou por um furacão. Foi em agosto de 2017, o Harvey, e como resultado a cidade ficou embaixo d’água. Quão grande pode ser um ser humano para apoiar indistintamente a sua comunidade. Não se trata de nacionalidade, mas de se voluntariar. Foi lindo de se ver.
E é assim, com um certo grau de emoção que eu posso te confessar que Houston é enorme, é muito maior do que eu imaginava, mas cabe direitinho no meu coração.