Ter o Matias sempre foi um projeto. O que não imaginava era que ele viria em um momento de tantas decisões pra nossa família. Estava grávida de cinco meses quando meu marido foi transferido do Brasil para Suíça. A notícia foi como uma bomba. Os trâmites legais levariam algum tempo, o que impediria minha mudança por conta do avanço da gestação. Depois de colocar muita coisa na balança, decidimos arriscar e saímos de toda zona de conforto, principalmente naquela fase especial.
Ainda grávida, consegui viajar para conhecer a nova cidade, escolher o apartamento e definir algumas coisas. Voltei no limite permitido para estar em um avião – 27 semanas. Pouco menos de um mês, meu marido se mudou sozinho para Zug, região central da Suíça, onde moramos atualmente.
Meu último trimestre sozinha não foi nada animador, mas me conectou ainda mais com meu bebê. Minha família ficou mais forte do que nunca. Para cada dia difícil, nascia uma nova certeza do que queríamos dali em diante. Estávamos focados.
Para não perder o parto, no meu último mês, meu marido agendou algumas viagens de trabalho pela América Latina. Uma cesárea era inevitável naquele momento. Mas com 37 semanas, quando meu marido chegou na última cidade antes de embarcar ao Brasil, minha bolsa estourou. Um susto! Ao mesmo tempo em que meu marido tentava um voo com urgência, eu sentia as contrações, sem nada de dilatação. Era o Matias esperando o papai chegar. Após toda correria, meu médico decidiu fazer a cesárea e, por sorte, meu marido chegou uma hora antes da cirurgia.
Com o bebê no colo, nossa mudança era questão de tempo. Eu precisava vê-lo forte o bastante com as primeiras vacinas, para arriscar a viagem. Afinal, 12 horas dentro de um avião com pessoas de diversos lugares, é de dar medo. Decidi que me mudaria quando ele completasse três meses, mas meu marido insistiu para que fôssemos antes. A vida fora não é fácil. Por isto, entramos em um acordo. Um mês após o parto, uma equipe de mudança estava em casa empacotando quase tudo. Correria para ver o pediatra, vender o carro e resolver minhas questões profissionais, afinal, estava de licença maternidade – algo que só resolveria mais pra frente, em uma rápida viagem ao Brasil.
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Dia 31 de agosto, nosso grande dia de mudar para a Suíça. O almoço em família foi desesperador. Até hoje, me corta o coração lembrar da minha avó dando tchau pro Matias. Eu sabia que eles perderiam muito com tudo isto, mas todos estavam focados em nos encorajar. No aeroporto, mais uma capítulo. Os avós e as tias do Matias pareciam atores do último capítulo de uma grande novela. O roteiro era perfeito: abraços, choro e as palavras mais lindas que ouvimos em todo processo.
Como mãe de primeira viagem e jornalista apaixonada por trabalho, meu medo era imenso. Será que vou dar conta? Ficar em casa sozinha com um bebê de dois meses em um país diferente? Mas e toda ajuda e suporte que tinha no Brasil? Vou ter tempo pra mim? E minha carreira? Estas e muitas outras questões me acompanharam o voo todo. O Matias, que deveria ser minha maior preocupação no trajeto, foi a maior surpresa. Quem passava por nossa fileira, não acreditava que tinha um bebê ali. Ele não chorou nem um minuto. Mamou e dormiu bem. Até brincou e fez graça para quem passava e puxava assunto.
Doze horas depois, fim da viagem e o Matias chegou sorrindo na Suíça. Ufa! Era ele respondendo todas as minhas preocupações. Assim como o voo, todo o resto ficaria bem. E ficou!
Mudar de país é realmente um longo processo de adaptação. Ser mãe também. Mas unir os dois me tornou ainda mais dona de mim. Só quando nasce um filho sabemos como somos fortes. Viver a maternidade longe de tanta influência importante pra nossa família é diariamente difícil. Mas chegar no fim de cada dia sabendo que não posso errar neste papel, é uma aventura incrivelmente gratificante!
E este desafio é só o primeiro que quero encarar ao lado da minha família.
Nos meus próximos textos, contarei aqui sobre os dilemas e curiosidades de maternar na Suíça.
4 Comentários
Eu também me mudei de país com minha bebê ainda pequena, e sei o quanto tudo isso é assustador! Mudar de país e se tornar mãe são duas mudanças super importantes na nossa vida, encara-las ao mesmo tempo só nos torna mais fortes e resilientes! Força aí! Aqui, após dois anos, posso dizer que é difícil, mas um aprendizado diário! Abraço!
Que bom ler isso, Amanda. Estou focada neste caminho de superação nestas duas etapas tão especiais.
o texto da Larissa transmite com precisão e sensibilidade
Toda a experiencia vivida
Essa impressão foi reforçada na entrevista da Larissa hoje na Band News
Parabens
Muito obrigada pelo retorno, Felix. Fico feliz que tenha gostado do texto e da entrevista. Em tempos como este, fica ainda mais especial dividir nossas experiências com o maior número de pessoas.