Uma experiência de Mestrado em Londres
Eu me mudei do Brasil para Londres para concluir um mestrado na area da educação. Como me formei em Geociências e Educação Ambiental, até então era envolvida com muitos projetos e programas de ensino não formal. A parte principal da minha atuação profissional se concentrava na pesquisa acadêmica e intervenções pontuais em escolas.
No Brasil, o mais comum seria alguém com uma formação similar atuar como professora de Ciências em escolas regulares. No entanto, eu fiz parte de uma equipe que trabalhava com projetos extracurriculares, em escolas, ONGs e museus. A minha experiência de sala de aula se limitava aos estágios exigidos ao longo do curso.
Quando imigrei, queria estudar. Mas não vim vinculada à minha universidade e, portanto, não tinha bolsa de estudos. Isso aconteceu por dois motivos: primeiro porque na época não eram financiados projetos de mestrado no exterior; e segundo, eu sabia que qualquer que fosse meu vínculo com órgãos brasileiros seria exigido que eu voltasse ao país, o que era algo que tinha decidido não fazer mais.
Então, no início da jornada em Londres encontrei alguns desafios para realizar o projeto pelo qual tinha vindo parar na Terra da Rainha. Eu gostaria hoje de compartilhar essa história e, quem sabe, inspirar alguém com um projeto engavetado.
Selecionar uma Universidade
Como me instalei em Londres, comecei a pesquisar as universidades na cidade para evitar me descolar ou me mudar novamente. O campo que pesquisei era o da educação e comunicação científica. Foi através do Google que encontrei as universidades que ofereciam algo relacionado com aquilo que queria fazer. É uma parte muito empolgante, mas também pode ser um pouco frustrante. Eu me deparei com dezenas de programas de mestrado, um mais interessante do que o outro, e a vontade de ficar estudando todos e para sempre era imensa. Aos poucos, o conhecimento sobre a reputação das universidades foi reduzindo bastante as minhas opções e terminei com apenas dois cursos.
Um era na Imperial College London, sobre comunicação científica. Foi uma opção que fiquei muito animada, pois era muito ligada ao que eu tinha desenvolvido até então em termos de pesquisa, sobre a importância da linguagem e mídias para a clara comunicação e aproximação das ciências com o público geral. Verificada a reputação da universidade (uma das 5 melhores listadas em Londres ainda nos dias de hoje), comecei a mandar meus e-mails pedindo informações.
Nesse aspecto, todos os contatos que fiz com as universidades foram muito tranquilos. Os responsáveis pelos cursos sempre me responderam e-mails e estavam dispostos a me receber para discutir projetos de pesquisa e oportunidades. Não foi diferente nesse caso. Recebi uma resposta bastante rápida e fui convidada a conhecer o departamento e conversar sobre o curso.
A segunda opção foi o Instituto de Educação, que oferecia o mestrado em educação científica. Verifiquei também o histórico da instituição e confesso que fiquei talvez um pouco menos encantada com as perspectivas de fazer pesquisa no ambiente de educação formal. Fui igualmente bem recebida, com comunicação fácil e pessoas acessíveis.
No fim, a decisão não foi baseada no programa que mais gostei, mas por um outro fator que não era problema enquanto pesquisadora no Brasil: o ensino superior aqui é caro! Não existem opções de universidades públicas, são todas “autofinanciadas” com taxas altas. Optei pela que eu tinha mais chances de algum dia conseguir pagar e iniciei o processo para me matricular no Instituto de Educação.
Processo para se candidatar
Na altura que me candidatei à vaga no curso, o Instituto de Educação ainda era vinculada à Universidade de Londres. Antes da minha conclusão, ele passou por uma fusão com a University College London, da qual faz parte atualmente. Desta maneira, o que posso compartilhar é sobre o processo em vigor na época, mas é provável que tenha acontecido algumas mudanças. Cada universidade tem um procedimento. O melhor é sempre checar com cuidado cada uma delas, especialmente os prazos de inscrição, que são os aspectos que mais variam entre as instituições.
A lista de documentos necessária era bastante simples. Precisava do meu histórico da universidade traduzido (que foi emitido pela minha universidade no Brasil), cópias de documentos pessoais, duas cartas de recomendação acadêmica e certificado de proficiência na língua inglesa. Como a vaga me foi oferecida diretamente pelo coordenador do curso que se interessou pelos meus projetos de pesquisa, o processo foi de formalidades de documentos. O que achei mais difícil foi o exame de proficiência, pois acabei fazendo ele meio que no susto.
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O IELTS, um dos exames de proficiência possível e o exigido pela minha universidade, é um exame de inglês comum, onde são testados os níveis do candidato em compreensão, leitura, escrita e comunicação oral. Acredito que se você precisar treinar para passar em um exame como esse a melhor dica é fazer simulados. Encontre todo material possível on-line e treine muito. E como experiência pessoal, devo dizer que o meu maior erro foi subestimar o teste oral. Quando você pensar que fala inglês, lembre-se de que o teste de proficiência não tem nada a ver com isso: ele é um exame que deve ser passado, com técnica e com estratégia. Isso me impactou muito quando conversei com outro candidato ao meu lado no dia da prova, que era australiano, e estava fazendo a prova pela segunda vez, pois não tinha se preparado para o modelo de exame que seria aplicado e acabou não tendo nota suficiente. Mas, não é impossível e há bastante material disponível para se preparar.
Estudar em Inglês
Com tudo acertado e definido, fui toda feliz para o meu primeiro dia de aula. Como optei em fazer o curso em tempo parcial, durante dois anos, eu só tinha aulas uma vez por semana, à noite. Foi excelente, eu amei tudo! No entanto, no meu grupo de 12 pessoas, apenas eu e outra moça, que virou uma grande amiga depois, éramos estrangeiras. Hoje em dia já estou super acostumada com esses ambientes, mas foi a minha primeira experiência com um grupo tão grande de ingleses.
Vou contar uma coisa muito séria: ri muito de piadas que não entendi só porque estava todo mundo rindo! A gente passa em teste de proficiência pra constatar que na verdade não fala nada de inglês! Mas tudo caminhou. O conteúdo sempre se acompanha, o aprendizado é intenso e consome bastante energia, pois é quase como se o cérebro estivesse fazendo conexões dobradas juntando a língua com o conteúdo. Inevitavelmente algumas vezes foi difícil de articular algumas ideias da maneira que queria, porém acredito que foi um aprendizado fantástico.
O real desafio para mim veio quando precisei concluir a minha dissertação. Eu tenho muita dificuldade para escrever, no geral, e conseguir expressar tantos argumentos complexos em inglês foi exaustivo. Eu optei por submeter o meu trabalho a uma companhia de revisão profissional. Foi um ótimo investimento, pois a dissertação ficou enfim do jeito que eu queria e tinha certeza de estar comunicando exatamente aquilo que tinha intenção.
Pagar as taxas
Como mencionei ali em cima, os cursos em universidade aqui são caros. As taxas variam, e por isso é sempre bom pesquisar mais de uma opção. Na altura da minha aventura, a Imperial College cobrava £ 9,800 pelo mestrado. Já o Institute of Education estava nos seus modestos £ 6,000.
Uma diferença que percebi é que não são cobradas mensalidades como em instituições de ensino privado no Brasil. No meu Instituto eram cobrados os módulos. Cada um tinha um valor e um prazo para ser acertado. Coincidentemente, as cobranças sempre aconteciam em época de submeter algum trabalho importante, pois se o aluno não faz um pagamento, a conta no sistema deles é automaticamente fechada e o módulo todo tem que ser repetido, podendo atrasar o aluno em até seis meses na conclusão do curso.
Entretanto, não desanime com a questão das taxas. Eu optei por correr atrás, pois era sozinha e conseguia “dar meus pulos”. Vendi ticket de ônibus turístico na rua, cuidei de crianças e ralei muito! Portanto se estudar está na sua lista, faça desse projeto uma prioridade. Sempre é fácil de se dar desculpas: que a grana não vai dar, que o inglês ainda não está bom ou que no ano que vem haverá mais tempo. Na minha lista, está ainda o grande projeto de fazer o doutorado, agora conciliando a vida de mãe.
3 Comentários
Oi Jéssika! Adorei o seu texto. Meu sonho fazer mestrado em Londres. E tenho algumas dúvidas! Você trabalhou durante o periodo do curso? E como foi o processo do visto? E alguma dica para quem está começando esse processo de se prepara para o mestrado? Obrigada por compartilhar sua experiência. Grande beijo
Adorei Jessika. Parabens! Eu comecei o meu mestrado agora em Setembro e me identifiquei com o seu texto.
Qual foi a empresa que voce mandou a sua dissertacao para revisao? Tenho certeza que sera util para mim tambem. Muito obrigada.!
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