Um ano em Portugal
Há um ano eu e meu marido desembarcamos no Porto para viver o novo. E que ano! Sendo assim, resolvi compartilhar com vocês minha percepção pessoal desse ano de novidades. Tenho certeza de que, muitas pessoas que vislumbram uma mudança, gostam de saber como brasileiras e mães, pelo mundo, estão vivenciando essa experiência.
O nosso destino final era Viseu, onde vivemos hoje, mas chegamos no aeroporto do Porto e tiramos umas férias por Portugal antes de seguirmos. Porto, Aveiro, Coimbra, Braga, Guimarães… Enfim, depois de quase um mês, nos instalamos finalmente em Viseu!
Mudança de vida
Bom, não foi só uma mudança de país (e “SÓ” é modo de dizer, pois mudar de país já é muita coisa! Mas para nós foi muito mais que isso!), foi uma mudança de vida! E foi complicado? Claro que foi! Como toda e qualquer mudança!
No meu caso foram 36 anos de Brasil (Rio de Janeiro), 12 anos de mercado de trabalho e, por vezes, 12 horas por dia de dedicação profissional (até mais!). E sei que muitas pessoas que pensam em mudar de país vão se identificar com isso…
Hoje vivo no distrito (equivale ao “estado” no Brasil) do meu pai e conhecer as origens é fantástico mas exige adaptação. Além disso, atualmente meu trabalho é maternar, 24 horas por dia! Outra adaptação! Que não foi programada quando decidimos mudar para Portugal!
E, no meio do caminho, a gravidez
Adaptação, e ainda por cima com hormônios da gravidez (engravidei um mês antes da mudança), não foi fácil!
Quis voltar para o Brasil? Claro! Algumas vezes. E imagino que todos que mudam passam por isso. Mas por hora, aqui é o meu lugar, no concelho (equivale à cidade no Brasil) de Viseu.
Viseu é um concelho pequeno, onde encontramos a mesma pessoa na rua, mais de uma vez, no mesmo dia (um choque pra quem saiu do RJ!) mas a infraestrutura é ótima. Shoppings, cinemas, restaurantes, grandes supermercados, muitas atividades etc.
Muitas pessoas têm um jeito que nos parece grosseiro e vivenciamos algum preconceito sim, mas insegurança e violência, por exemplo, não há. Nem sabem o que é isso! Para quem veio do Brasil, nos soa até ingênuo demais.
Tudo na vida tem prós e contras
A saúde pública me parece melhor que a privada no Brasil (sempre tive plano de saúde). Fiz todo o acompanhamento da minha gestação por aqui e meu filho é atendido pelo sistema público. Estou muito bem impressionada (papo para um próximo texto!).
Mas o clima, por exemplo, para uma carioca da gema, me parece pior. Na verdade tenho essa sensação de pior pois temos que aprender a viver cada estação do ano e não um eterno verão. Aqui (ou “por cá”, como dizem!), todas as estações do ano são muito bem definidas. Além disso, aprendi que não podemos deixar de aproveitar um dia de sol pois talvez o próximo não chegue tão cedo. Já no Rio de Janeiro o próximo é, quase sempre, no dia seguinte!
Não há muita diferença entre emprego e subemprego. Aqui em Viseu todo trabalho é emprego! Estranhamos, mas essas diferenças sociais praticamente inexistentes nos garantem a segurança que não conhecemos no Brasil. Aqui, por exemplo, um gerente de fast food e um médico do centro de saúde auferem, mais o menos, a mesma coisa (digo isso com base no que os próprios profissionais me contaram). Acho isso fantástico pois as profissões são escolhidas, de fato, por vocação, e no Brasil, de um modo geral, escolhemos por remuneração!
Além disso, você não precisa de nível superior para pagar as suas contas, logo, o faz se realmente tiver interesse na formação. Realidade também diferente da brasileira.
Algumas diferenças entre Brasil e Portugal
No geral, a população aqui não é consumista. Nesse ponto, considero que temos no Brasil um modelo bem americano (digo “temos” pois apesar de ser também portuguesa no papel, sou brasileira de coração!). Vemos muitos carros antigos, e IPhones e marcas famosas quase não usam. Eles visam ter uma boa casa (ou apartamento) para morar, pois gostam de grandes espaços, comer bem e barato, viajar pela Europa (pois para eles é como conhecer o Brasil para nós), e qualidade de vida (não se matam de trabalhar).
É a mesma língua portuguesa, mas não é…cuidado! Já passei algumas vergonhas devido a isso, mas o importante é rir no final!
Leia também: Chegada a Portugal – adaptação e saudade
E a organização…Nesses tempos complicados de coronavírus, que vivemos atualmente, vemos a clara diferença de um país desenvolvido e de um subdesenvolvido. Estruturas de testes, de atendimento, diversos tipos de suporte ao cidadão, linhas de telefone para esclarecimento e ajuda, informações constantes e claras da situação em que estamos, conscientização da população, tantas coisas inimagináveis no Brasil. Pela primeira vez na vida, me senti uma cidadã, senti que a minha vida importa, o que nunca senti no Brasil.
Enfim…se ficasse mais tempo pensando, enumeraria outras tantas coisas. Diferenças e semelhanças, prós e contras… e uma escolha. Como diz minha mãe: “cada escolha uma renúncia”!
Cá estamos…vivendo um dia de cada vez… há um ano!
1 Comentário
Muito bom Nathalia!
É bom isso, estou aqui a quase dois anos e adoro.