Ao planejar um processo imigratório, há muitas expectativas frente ao que iremos conhecer e ganhar com esta mudança de país, mas também há o sofrimento e luto das perdas e despedidas. O imigrante perde amizades, família, sua rede de suporte, sua cultura, língua, o sentimento de pertencimento e o status social. São tantas perdas e mudanças que agora já sabemos que o imigrante passa por sete tipos de luto, segundo Achotegui, professor da Universidade de Barcelona que estuda a fundo imigrantes e saúde mental.
1. Luto da família e dos entes queridos
Ficamos tristes em deixar nossa família e amigos, e esta despedida fica ainda mais sofrida quando a imigração não é um desejo próprio e foi resultante do desejo do outro (ou por uma oferta de trabalho irrecusável ou por necessidade de refúgio). Quando o sofrimento é muito intenso, não há espaço mental para conhecer novas pessoas, uma nova cultura ou aprender uma nova língua.
2. Luto da língua
A língua continua sendo um grande obstáculo até para pessoas que já estão há anos morando no novo país. Muitos imigrantes preferem manter sua língua e cultura e acabam fazendo amizades apenas com brasileiros, o que diminui a necessidade de investir em uma nova língua ou amizades. Lembre-se que o aprendizado de uma nova língua é bom para seu cérebro, mas também gera ganhos na socialização e em sua liberdade para fazer o que deseja no novo país.
3. Luto dos riscos para a integridade física
Imigrar gera medo e insegurança sobre nossa integridade física, ainda mais para os refugiados. Ficamos apreensivos em como nossa saúde mental e física se manterá durante este processo, pois temos medo de ficarmos sozinhos e sem suporte, medo de não conseguirmos nos adaptar, medo de não darmos conta e termos que voltar ao país de origem, além do medo de perdermos nossa individualidade e nossa percepção de quem somos. Estes medos atrapalham o processo de luto e podem até impossibilitar que o mesmo se realize.
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4. Luto da terra
Para conhecer o novo país, devemos aprender a andar pela cidade, conhecer o que o país e o governo nos proporcionam, conhecer projetos sociais de suporte ao imigrante, conhecer o sistema de saúde, conhecer os lugares turísticos e as práticas de lazer. Se permitir ficar triste pelas perdas mas também curioso para explorar o novo país pode ajudar neste processo de luto.
5. Luto do status social
Muitos imigrantes perdem seu status social ao imigrar, seja porque não conseguiram exercer a mesma profissão e tiveram que começar algo novo, ou porque tiveram que aceitar uma posição abaixo da que tinham no país de origem. É também preciso levar em conta que o status social também muda conforme o país. Por exemplo, no Brasil trabalhar de entregador pode significar que a pessoa tem um baixo status social, mas em países da América do Norte pessoas de classe médica trabalham fazendo entregas e não são mal vistos por isso. De qualquer forma, é preciso paciência e esperança de que no futuro você pode conseguir alcançar o status social desejado.
6. Luto do contato com o grupo de pertencimento
Muitos brasileiros comentam que ao chegarem ao novo país a ansiedade por conhecer pessoas e achar um grupo para fazer parte é tão grande, que eles acabam fazendo amizades com muitos brasileiros, mas com o tempo, percebem que a única similaridade que possuem é a língua e o país de onde vêm. Não há opiniões ou gostos semelhantes, o que faz com que a amizade termine ou seja desprazerosa.
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A cultura brasileira é muito focada na socialização, então devemos levar em conta que ficaremos ansiosos e aflitos para suprir esta necessidade o mais rápido possível. Lembre-se de que amizades devem levar em consideração trocas e afinidades, por isso permita-se levar tempo para escolher relacionamentos com pessoas que fazem mais sentido para você.
7. Luto da cultura
Ao mudarmos de país somos mergulhados em uma nova cultura e a adaptação nem sempre é fácil. Existem quatro formas na qual podemos realizar este processo de adaptação à nova cultura, segundo Berry e Portinga (pesquisadores sobre psicologia entre culturas).
1. Integração: o indivíduo mantém aspectos da cultura de origem e também adquire traços da cultura atual. Esta estratégia só é possível em sociedades explicitamente multiculturais, baseadas em valores de aceitação da diversidade cultural e baixo nível de preconceitos, isto é, um nível mínimo de racismo, etnocentrismo e discriminação.
2. Assimilação: o indivíduo não deseja manter a cultura de origem e adquire totalmente os traços da cultura de inserção. A valorização recai no relacionamento com a nova realidade.
3. Separação: o indivíduo valoriza apenas os aspectos de sua cultura originária, negando a inserção no país de recepção e desvalorizando as relações com os nativos. As pessoas podem demonstrar estados depressivos, de irritabilidade e isolamento.
4. Marginalização: as duas respostas são negativas. O indivíduo não mantém traços da cultura originária, e também não se identifica com os valores da cultura de inserção. Mantém-se à margem. Pode caracterizar-se por um alto nível de ansiedade, uma sensação de alienação e uma perda de contato com os dois grupos.
Qual tipo de luto faz parte do seu processo imigratório?
Por fim, reflita sobre os seus processos de luto: qual deles é o mais difícil para você? Em qual você precisa de maior suporte e para quem você pode pedir ajuda?
Reflita também sobre sua adaptação à nova cultura: você está aberta ou fechada à nova cultura? Como você pode se oferecer suporte? Pesquisar sobre a nova cultura pode ajudar e gerar mais curiosidade para vivencia-la.
Se você identificar que os seus tipos de lutos e o processo adaptação à nova cultura está sendo muito sofrido, a ponto de dificultar o seu dia-a-dia, talvez seja o momento de buscar ajuda de um profissional da saúde.
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Bibliografia:
BERRY, John; POORTINGA, Ype. Cultural Psychology: Research and Applications. Cambridge: University Press, 2002.