Sobre a falta que a mãe faz!
Esse mês a minha mãe veio me visitar e ficou 3 semanas aqui. Quando ela chegou eu estava no pique, 7 sólidos meses do dia a dia com o bebê. Tem consulta no médico? Vai com o bebê. Tem reunião de trabalho? Vai com o bebê. Tem congresso? Vai com o bebê. Tem aula particular? Vai com o bebê. Sempre acompanhada, mas no fundo me sentindo bastante sozinha. Acredito que outras mães se identificam com isso, como você pode ver aqui.
Claro que todo mundo a minha volta é super colaborativo, mas todos têm a sua própria vida. Eu tenho um privilégio enorme de ter praticamente toda a família do meu esposo aqui em Londres. Também tenho meu irmão, que é praticamente meu vizinho. Só que no dia a dia, todo mundo trabalha, meu irmão e cunhada também têm um bebê com apenas 3 meses a mais do que o meu e a realidade é que todo mundo adora visitar um bebê, mas o cansaço do dia a dia é privilégio apenas seu.
Ainda por cima tenho um marido super 10, que me ajudou a manter um certo ritmo de trabalho e estudo, principalmente nos primeiros meses do filhote. Como ele dormia bastante e só mamava, permaneci participando de alguns grupos de trabalho e fui até a um congresso em Liverpool com ele depois de 2 meses. Com um mês eu já estava na escolinha de português aos sábados, mas tudo isso com o bebê a tira colo.
Tarefas do dia a dia
Tudo passou a demorar mais. Um exemplo bem simples é ir ao supermercado. Coisas que fazia super rápido, pois sempre fui muito prática com as questões de casa, passaram a ser verdadeiras forças tarefa.
Com o tempo tudo acaba virando normalidade. No inverno, no entanto, sair pra comprar um leite é um tal de põe roupa no bebê, põe fralda na mochila, põe muda de roupa, não esquece a fralda de boca, o babador, põe na cadeirinha, amarra no carro, chega no mercado, estaciona, sai, pega o carrinho, tira a cadeirinha, põe a cadeirinha no carrinho, sobe de elevador (que surpreendentemente demora muito mais tempo do que quando você simplesmente adentra um recinto pela porta da frente), entra no mercado, evita o corredor lotado, tem que esperar até esvaziar pois não dá pra deixar o carrinho com o bebê e ir lá pegar o leite. Libera um espaço, entra lá e pega o bendito leite. Põe no carrinho, vai pro caixa. Aqui não tem fila preferencial. Paga o leite, desce de elevador, põe a cadeirinha no carro, amarra o cinto, devolve o carrinho, (Putz, esqueceu o leite na sacola dentro do carrinho, volta correndo….)
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Tudo beleza!? Não, o bebê tem que mamar! Tira o bebê da cadeirinha, se ajeita dentro do carro, abre as 87 camadas de blusas, pois é inverno, põe o menino pra mamar. Arrota o bebê. Aí o meu pimpolho, que tinha refluxo, gorfa em mim, em todas as 87 camadas, gorfa no carro e você, na maior normalidade, seca tudo com a fraldinha. Põe aquele pacotinho mais lindo do planeta de volta na cadeirinha, amarra o cinto e volta pra casa. Chega em casa, sai do carro, desamarra a cadeirinha, leva aquela tonelada escada à cima. Desembrulha o pacotinho, não pode ficar muito quente dentro de casa. Aí você se liga que esqueceu o leite dentro do carro! Tem que vestir o bebê de novo para poder ir lá fora buscar. Enfim…
Acho que quem passa por isso, ou já passou por isso, deixa todo esse esquema entrar e fazer parte da sua rotina. Não estou reclamando, mas é interessante que na simples descrição do que é ir ao mercado já me contam mais de 200 palavras!
Viajando sozinha
Essa é a rotina com o pimpolho. No médico, na escola, na aula, na reunião, no banco. Tudo leva mais tempo e a gente dá conta. Mas cansa. Então, tão acostumada e convencida de que a vida é assim mesmo eu me diguino a viajar sozinha. Quero apresentar o filhote para os velinhos da família que moram na Suíça. A Suíça é um país legal, ia inúmeras vezes ver meus primos, morei lá, trabalhei lá. Então toca pra Suiça!
Chego no aeroporto de Luton, não dá pra fazer check in porque o bebê é muito novo, comprei assento mas o sistema não reconhece a data de nascimento dele no bilhete. Pega a fila que vai na lua, pois só resolve no balcão. Aqui não tem fila preferencial. Chega no balcão e não é lá que resolve, é no atendimento ao cliente. Sai da fila, vai no atendimento ao cliente, pega fila (já disse que aqui não tem fila preferencial?) e o funcionário te explica que na verdade era no balcão mesmo e que o colega é que não soube fazer. Aí você não quer mais saber de fila porcaria nenhuma, fura lá na frente e torce pra niguém reclamar porque se não vai virar barraco.
Enfim, toca pro portão de embarque, passa pelo raio X, a mulher te vê tirar o bebê do carrinho, dobrá-lo sozinha e diz que não pode colocar o carrinho na maquina para você. Só com a solidariedade de outro passageiro mesmo. Aí você tá suando e pronta para passar e a moça, sem piedade, pede para vc tirar o cinto. Tira o cinto, passa no Raio X, pega a mochila, o carrinho, monta o bebê de novo. Vai pro portão de embarque: 3 lances de escadas e sem elevador! Bacana, solidariedade em ação de novo. Pede encarecidamente a alguém para ajudar. Enfim, chega na Suíça.
Os tréns grandes têm entrada para cadeirante e você consegue entrar com o carrinho, mas os dos vilarejos não. Mais complicações. Aí você visita um, dorme na mesma cama, dá banho em pia, balde e do jeito que der. Reza pro bebê não acordar enquanto você estiver tomando o seu próprio banho e finalmente se pergunta por que mesmo tinha achado que isso era uma boa ideia.
A grande chegada e a dolorosa partida
Foi depois dessa viagem que minha mãe veio me visitar. Fui buscá-la no aeroporto e parecia que eu estava vendo o prórpio Santo-Graal caminhando em minha direção. Tenho certeza de que ela estava reluzindo.
Naquela noite eu desmaiei no sofá. Minha mãe fez a janta e colocou o bebê pra dormir. De repente meu corpo desabou. De repente percebi que essa vida é uma loucura! Quando minha mãe chegou eu pude trabalhar. Fui vários dias na escola na qual estou de licença e não me preocupei em carregar o bebê, em levar, em chegar, em amarrar e nem nada disso. Fui ao mercado inúmeras vezes em menos de 5 minutos. Cozinhei refeições saudáveis. Sentei à mesa e comi. Fui ao banheiro e tomei banho pela primeira vez em 7 meses sem a preocupação do bebê acordar.
Não foi fácil para minha mãe, mas ela cuidou do meu filhote e, na verdade, cuidou muito mais de mim nessas 3 semanas. Quando levei ela de volta ao aeroporto fui pensando em como era a vida antes dela vir me visitar. Confesso que me dá um arrepio de pensar que estarei naquele dia a dia sozinha novamente, mas me alegro por saber que um dia, quem sabe, eu seja esse alívio para um filho meu num momento como esse.
Quem tem mãe por perto que valorize e cultive sua relação! Mãe não tem preço! Avó então vale ouro!
3 Comentários
Jessika, amei seu texto!!!! Me vi em muitas situações e me emocionei com suas palavras. Lindo texto.
Olá Andrea, e obrigada pelo comentário. Vamos que vamos com essa linda maternidade nossa de cada dia! bjinhos
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