Ser mãe na Bélgica
A Carol Rodrigues, colunista e editora de conteúdo aqui do BPM Kids, teve o prazer de entrevistar duas mães brasileiras que tiveram filhos na Bélgica. Elas partilham aqui um pouco de suas experiências, explicam como funciona o sistema de saúde belga e contam como conciliam a maternidade e o trabalho.
A primeira entrevista foi com Joice Souza, formada em Educação Física e com mestrado e doutorado em Educação. No próximo mês, Carla Banjai, formada em Administração e Comércio Exterior e mestrado em Marketing, vai estrear como colunista do BPM Kids falando também um pouco de sua história como mãe brasileira na Bélgica.
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(Texto escrito por Joice Souza)
Que delicia é relembrar os dois momentos mais emocionantes da minha vida, os momentos em que eu me transformei em MÃE! Moro em Bruxelas, capital da Bélgica, há quase oito anos e tenho dois filhos: um de cinco anos e quatro meses e outro de três anos e sete meses. Saí do Brasil em 2007, para fazer meu doutorado na França e, depois de dois anos em Paris, resolvi me casar. Como meu marido é belga, optamos por mudar para a Bélgica, onde nos conhecemos, e aqui estamos até hoje.
Em 2011, eu estava terminando o meu doutorado quando engravidei. Muitas perguntas sobre o sistema de saúde belga surgiram e procurei me informar.
A Bélgica tem um sistema muito interessante chamado “segurança social”, que pretende assegurar os direitos básicos dos cidadãos e a igualdade de oportunidades. No que concerne à saúde, as pessoas que possuem um trabalho devem se inscrever no seguro-saúde público e pagar uma contribuição, participando assim de maneira solidária do financiamento do sistema de saúde. Do outro lado, existem organismos que auxiliam pessoas que não têm condições econômicas de pagar por esse sistema. Assim, todos que precisam de assistência médica serão atendidos. Existem ainda planos de saúde complementares que cobrem serviços médicos que não são considerados essenciais.
A maioria das gestantes que conheço utilizou o sistema público. Elas tiveram um acompanhamento a cada dois meses com um ginecologista que, na maioria dos casos, elas não conheciam anteriormente. Elas têm direito a três ecografias gratuitas em momentos específicos da gravidez. O parto realizado na maioria das vezes é o normal. E, diga-se de passagem: é muito normal!
A cesariana ocorre principalmente em casos médicos, ou seja, quando algum fator põe em risco a vida da criança ou da mãe. Tive a oportunidade de conversar com alguns médicos aqui e eles sempre enfatizavam que o Brasil é o país onde mais se realizam cesarianas no mundo. Muitas vezes, segundo eles, sem a real necessidade, pois nem a mãe nem o bebê estão em risco.
Como o parto é normal e não programado, muitas vezes a gestante na Bélgica não conhece a equipe que fará o parto. Eu segui o meu coração e a nossa cultura brasileira foi mais forte. Preferi que meu controle pré-natal fosse realizado pela minha ginecologista, uma médica muito gentil e atenciosa, com quem tenho um ótimo contato até hoje. Uma vez por mês eu tinha uma consulta e realizava uma ecografia 2D. Nas minhas duas gestações, ela solicitou três ecografias 3D, que permitiam visualizar a existência de um grande número de patologias de maneira mais precisa.
Como eu não era imunizada contra a toxoplasmose, a ginecologista pedia todos os meses um exame de sangue. E a cada gestação fiz um exame mais completo para verificar inúmeras patologias, incluindo diabete gestacional.
Eu tinha muita confiança na minha ginecologista e queria que ela fizesse os meus partos. Mas ela só trabalhava em um hospital particular. Como o trabalho do meu marido nos oferece um plano complementar, eu tive a oportunidade de ter meus filhos com a ginecologista que eu queria. Os dois partos foram normais. O primeiro com anestesia peridural e o segundo sem anestesia, porque não deu tempo. O primeiro foi super tranquilo e o segundo achei que iria morrer de tanta dor. Mas ter meus pequenos nos braços foi a maior alegria da minha vida.
Nas duas vezes, minha médica chegou somente alguns minutos antes dos partos. O trabalho principal foi feito pelas profissionais chamadas aqui de “sábias mulheres” (tradução literal, já que não existe no Brasil). São profissionais altamente qualificadas para acompanhar as gestantes antes, durante e após o parto. Podemos compará-las com as enfermeiras obstetras ou talvez com as doulas. Aqui, as “sábias mulheres” passam por uma formação de três anos.
O desafio de conciliar prós e contras
A licença maternidade na Bélgica dura 15 semanas. A licença antes do parto pode durar até 6 semanas e a que começa no dia do parto tem que durar no mínimo nove semanas. O mais difícil pra mim foi e ainda é encontrar o equilíbrio entre o trabalho, as tarefas de casa e o tempo que eu gostaria de dedicar à minha família. Não é muito comum por aqui pedir uma ajudinha para o vizinho ou para outros pais. As relações humanas são diferentes, as pessoas são mais distantes.
A educação, pelo menos das pessoas que estão à minha volta, é bem mais rígida que aquela que eu recebi e daquela que eu acredito ser a melhor. Isso tudo sem falar no clima que não ajuda muito.
Educar meus filhos longe do meu país e, principalmente, longe da minha família não é fácil. Além de não ter nenhum parente aqui, também não posso contar com uma pessoa para me ajudar todos os dias nas tarefas da casa. As empregadas domésticas na maior parte da Europa trabalham por hora e é um serviço bem caro, então o costume de ter uma empregada doméstica todos os dias, como várias famílias no Brasil têm, não se repete por aqui.
Mas se por um lado há desafios e dificuldades, por outro há inúmeras vantagens de criar meus filhos na Bélgica e, não por acaso, a gente continua por aqui. A principal delas é a escola das crianças. Eles estudam em uma escola gratuita e de qualidade. Esse é o meu sonho para todos os brasileirinhos. Todas as escolas são em tempo integral e temos a possibilidade de deixar as crianças brincando na escola antes e depois da aula. A escola dos meus filhos abre às 7 e fecha às 18 horas.
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O sistema de saúde também é completamente gratuito para crianças até 12 anos, até os óculos do meu filho são de graça! O acesso à cultura é também mais democrático. Acredito que os belgas sejam mais preocupados com uma alimentação saudável – com pouco açúcar, pouco sal e água como a principal bebida das crianças. Elas dormem também bem mais cedo do que as crianças brasileiras, normalmente entre as 19 e 20 horas. Uma outra vantagem é que, caso as crianças não possam ir à escola por motivo de doença, podemos solicitar ao “seguro-saúde” uma pessoa qualificada para ficar com elas enquanto os pais vão trabalhar. O serviço é gratuito 10 vezes por ano por família, e não é caro se precisarmos mais de 10 vezes.
E finalmente a flexibilidade no trabalho. Muitos setores aceitam que os empregados escolham sua carga de trabalho. Eu por exemplo, escolhi trabalhar 70% de uma carga total, o que me proporciona sair um pouco mais cedo do trabalho diariamente e às quartas-feiras tenho livres para ficar com meus filhos, já que nesse dia da semana as aulas terminam ao meio-dia.
Acho que as partir do momento que você escolhe morar em outro país sempre ficará a dúvida: onde é melhor, aqui ou lá? Lá ou aqui? Eu não tenho a resposta para esse questionamento, e acho que nunca terei. Minha escolha é seguir meu coração de mãe, que tem como maior objetivo de vida me esforçar sempre para que meus filhos sejam felizes!
10 Comentários
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Bom estou buscando uma ginecologista aqui na holanda ou na belgica aeturipe que falei portugues
Carol,
A perspectiva × realidade em retornar à vida profissional…o dilema e as dificuldades enfrentadas. Que maravilha persister e buscar novos rumos e acima de tudo acreditar que é possível. Estamos de mudança à Bruxelas em julho…
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Joice,
Importantes informações para quem pretende ter filho na Bélgica.
Você poderia me passar o contato da sua ginecologista/ obstetra, que fez os seus partos? Ou informar onde ela atende!
Ela falava português?
Abraços
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[…] Conversei sobre isso com minha amiga belga. Ela disse que aqui os médicos incentivam bastante a amamentação. Mas as mães não costumam amamentar mais do que um ano. Os dois principais motivos são: por aqui, a pressão em amamentar não é tão forte quanto no Brasil e a licença-maternidade daqui é extremamente curta – apenas 3 meses. Vale explicar que aqui na Bélgica há ainda a opção da licença parental de 4 meses, por meio da qual a mãe e o pai podem dividir esse tempo da forma que lhes convêm até a criança completar 12 anos. Muitos casais preferem tirar ao longo dos anos do que complementar os 3 meses de licença maternidade, principalmente, por motivos profissionais. Além do mais, amamentar a criança muito além de 1 ano não é muito bem visto por aqui. Mais sobre “ser mãe na Bélgica” nesse texto aqui! […]
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