Alguns dias atrás, preenchendo uma pesquisa, me deparei com a seguinte pergunta “Qual a sua ocupação?” Respondi todas as perguntas com rapidez, mas essa me pegou de jeito. Fiquei pensando em todas as minhas ocupações atuais. Sem sucesso em obter uma resposta, resolvi escrever esse texto, sobre a mistura de sentimentos de uma mãe expatriada. Certamente esse texto será repleto de sentimentos verdadeiros, compartilhando um pouco os momentos que vivencie nessa aventura que é ser uma mãe expatriada.
Comecei a pesquisar se existe alguma definição para minha condição atual, não encontrei. Então resolvi listar tudo aquilo que me ocupa no momento e o resultado foi uma imensa lista de atividades que não se encaixam em nenhuma ocupação estipulada pela sociedade em que vivemos.
Parei e fiquei pensando em quantas vezes me deparei com olhares me julgando, seguindos da pergunta “Você trabalha ou é só mãe?”. E quantas outras vezes, escutei também “Mas você vai largar sua carreira para ficar em casa?” ou “Você mora fora do Brasil e ainda fica em casa, sua vida é tão boa!”. Foi nesse momento de reflexão, que lembrei de quando ainda não tinha filhos. Quantas vezes julguei outras pessoas dessa forma? Quantas vezes escapou o tão famoso “Se fosse eu…”. Confesso, senti vergonha de mim mesma, por um dia ter pensado dessa forma.
Sentimentos que só a maternidade proporciona
A maternidade chega em nossas vidas como um turbilhão de emoções. O primeiro contato que temos com os nossos filhos é avassalador. A ocitocina, hormônio produzido pelo corpo, está relacionado a essas emoções, porque a sua produção é ligada as nossas relações de afetivas. Não é a toa que é conhecido como o hormônio do amor. Esse hormônio e seus diversos efeitos, é capaz de nos trazer calma em vários momentos durante a maternidade. Leia um pouco mais sobre os efeitos aqui.
Todos esses sentimentos que vivenciamos com a maternidade são multiplicados mil vezes quando estamos longe do nosso país e da nossa família. Nesse meu primeiro ano longe do Brasil, posso dizer que a maternidade me ajudou a enfrentar tantos medos. No momento que me despedi dos meus pais, eu era ao mesmo tempo, a filha fragilizada por uma despedida que estava machucando meu coração, mas era principalmente, a mãe de uma pequena garotinha que precisava do meu colo e acalento, para aguentar a despedida dos avós. Não é fácil você passar de filha para mãe, você muitas vezes desejar o colo da sua mãe, mas saber que agora alguém precisa do seu colo. Foi esse o momento que precisei enxugar minhas lágrimas e colocar aquela capa, que ninguém costuma notar, mas está ali, a de super mãe.
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Imagem: arquivo pessoal
Junto com essa força, também tive que somar os desafios de ser uma mãe e esposa expatriada. Deixar meu trabalho e me tornar mãe em tempo integral, foi e muitas vezes ainda é duro. Ao mesmo tempo: a felicidade de ter tempo para me dedicar a minha filha e a vontade de exercer a profissão que escolhi, estudei e me dediquei por alguns anos. Sempre me pergunto, como lidar com essa mistura de sentimentos? Será que fizemos a escolha certa?
A verdade sobre a vida de expatriada
A verdade é que essas respostas nunca existirão. Comecei a acreditar que o certo é aquilo que me faz bem. Não só como mãe, e sim como pessoa. Muitas vezes, parece que nós, mulheres, somos obrigadas a sermos 100% felizes e radiantes. Acho que com o grande avanço da exposição nas redes sociais, parece que a maternidade e a vida de expatriada são só alegrias. Mas a realidade está longe da perfeição, se é que essa tal de perfeição existe.
Viver fora do Brasil é um grande desafio. E como todos os desafios, precisamos ter muita coragem para encarar tudo o que a mudança traz. É preciso coragem para lidar com as incertezas e encarar o recomeço de uma vida. Coragem que, por aqui, em muitos momentos dá lugar ao aperto no coração.
Como no primeiro dia que minha filha foi para a escola. A primeira vez que ela ficou doente e precisou ficar uma semana internada. A descoberta da minha segunda gravidez, agora longe da minha família. Quando precisei ir ao médico sozinha, com um inglês intermediário. A primeira festa de aniversário que minha filha foi convidada. Os encontros com as mães dos colegas de escola da minha filha. Nesses e em tantos outros momentos, mesmo sem um indicativo que não sou polonesa, parece que todos estão me observando e que sabem que estou tão insegura que se pudesse saía correndo.
Aceitando os sentimentos
A notícia boa é que tudo isso passa! Quando nos adaptamos e encaramos de peito aberto as novas experiências tudo vai ficando mais leve. Para mim, a palavra chave é VIVER. Precisamos aceitar tudo o que estamos vivendo da maneira mais leve que pudermos. Nesse primeiro ano longe, se tem uma coisa que posso dizer que aprendi, foi não me cobrar e nem aceitar as cobranças que a sociedade nos impõe de forma tão cruel.
No meio de tantos sentimentos, não podemos esquecer, que além de mãe, somos mulheres. Ter um bom relacionamento com nós mesmas é mais um dos desafios que vivemos. Ao morar longe do Brasil, em muitos momentos, me senti sozinha. Chorei, levantei a cabeça e continuei. Desses momentos tirei uma força que não sabia que existia, passei a me conhecer melhor e virei minha melhor amiga.
A verdade é que nem sempre consigo encontrar o meio termo entre aquilo que aprendi ou acredito e aquilo que a nova cultura que estou vivenciando me apresenta. Mas sei que tudo bem, pois não somos máquinas, somos pessoas cheias de sentimentos. Quando abraçamos esses sentimentos e deixamos de lutar contra eles, acredito que somos muito mais felizes. E tudo bem, se por acaso, isso não acontecer. Podemos nos sentir inseguras e tristes. A vida é essa grande mistura de sentimentos. E a vida de mãe expatriada é uma montanha russa daquelas que durante o percurso parece que não vamos aguentar, mas no final estamos extasiadas!
16 Comentários
O sentimento que toma meu ser neste exato momento é ORGULHO e AMOR…amiga, vc é uma mulher incrível… te amo! Sinto saudades.
Excelente texto!!! Descreve exatamente minha vida vivendo fora (estamos no México) desde fev ‘16
Não é fácil mas a gente consegue! Também sou curitibana!!!! Ábraco e sorte aí na empreitada diária de ser mãe!
Obrigada, Celia! Realmente não é fácil, mas o importante é estarmos felizes! E que bom que temos esse meio para nos apoiarmos nessa jornada! Abraços!
Lindo seu texto! Percebi que não importa aonde estamos morando(fora do Brasil) os medos, insegurança, receio, tristeza algumas vezes e exatamente tudo igual! Moro na Austrália.
Verdade, Simone! Fico feliz que de alguma forma o texto seja uma rede de apoio para mães como nós! Abraços!
Obrigada Simone! É sempre bom nos ajudarmos compartilhando nossos sentimentos! Um dia quero conhecer a Austrália! Abraços!
Exatamente como me sinto! Bom saber que não estou sozinha! Obrigada, ótimo texto!
Obrigada Cristina! Fico feliz que tenha se identificado! Abraços!
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Que beleza texto! Exatamente o que passo aqui no Japão. Abraço 🤗
Olá, Let! É o que muitas de nós passamos não é mesmo?! Que possamos enfrentar tudo com leveza, alegria e apoio! Abraço!!
Demais! Me identifiquei muito… estou há 10
Meses na Índia, vim com a minha pequena de 1 ano… eu sempre preencho como ocupação:
Dona de casa… as pessoas me perguntam e eu digo; mãe e dona de casa… e esperam, assim como
nós esperamos, aquela pergunta: “e o que mais?”, “só isso?” … é um abismo sim… parabéns! E muita força!
Olá, Roberta!
Que possamos viver essa “ocupação” com leveza e felicidade! Fico feliz que se identificou! Um abraço!
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