Quando completei um ano em Portugal, escrevi sobre as minhas percepções neste texto. O segundo ano foi igualmente desafiador, talvez até mais! De fato, como dizem, leva tempo para atingirmos o ritmo de cruzeiro em uma mudança de país. E será que depois que aprendemos a mudar atingimos esse tal ritmo?
Claro que o segundo ano foi atípico, afinal quem imaginaria uma pandemia?!
Completei um ano aqui em março de 2020, mês em que iniciamos o primeiro confinamento em Portugal. Fui do puerpério para o lockdown, que loucura! Não foi fácil. Mas como digo, tudo na vida tem prós e contras e tive o privilégio de acompanhar, bem de pertinho, cada detalhe do desenvolvimento do meu pacotinho de amor, meu filho, em meio ao triste caos pelo mundo.
Assim ficamos até maio e aqui em Viseu, onde vivo, até que tudo foi bem organizado e a população respeitou bastante as regras. Em maio, pudemos sair para respirar um pouco!
Segurança e qualidade de vida
A segurança passou a fazer parte da nossa vida. Aliás, nem sei como seria ter medo de andar à noite ou falando no celular, por exemplo. Medos esses cotidianos de quem mora no Rio de Janeiro, onde vivi por 36 anos. Hoje entendo a razão pela qual muitos que voltam, pela saudade, acabam aqui novamente devido à segurança.
O excesso de trabalho ficou para trás, mas não o costume, típico dos grandes centros, de estar sempre ocupada! Parece que “caço” o que fazer e estou sempre envolvida em mil atividades. O ritmo das pessoas daqui, uma cidade relativamente pequena, muitas vezes incomoda.
Entretanto, ouvi um amigo enfatizar, recentemente, que talvez sejamos nós os “errados”, e ele pode estar certo! Afinal, a tal qualidade de vida engloba não somente a segurança como também outros fatores. Ter mais tempo livre faz parte disso, mas confesso que ainda estranho quem não pode falar no celular durante as refeições, coisa comum nas grandes cidades. Ou, ainda, um gerente de banco não te atender no horário de almoço, pois nunca vivi essa situação no Rio de Janeiro. Também acho bonito o almoçar e jantar em família, todos juntos na mesa, o que nem sempre fazemos na minha casa, mas já melhoramos muito e acho importante para o meu filho!
Novos ares
Conseguimos aproveitar um pouco o verão, ao fim do primeiro confinamento, mas nem tanto quanto uma carioca gostaria! Tenho a impressão de que o clima sempre será um desafio para quem deixou o Rio de Janeiro, os dias frios são muito sofridos e um tanto quanto tristes!
Enfrentei, assim como muitos na pandemia, uma separação matrimonial, o que em outro país e com um bebê não é simples. Requer coragem, mas esses desafios fazem parte da vida. Quem sabe um dia escrevo sobre isso para ajudar outras mamães mundo afora que passem pela mesma situação!
Comecei uma faculdade aqui em Portugal, em setembro de 2020 (aqui o período letivo começa em setembro e não no início do ano como no Brasil!). Sempre amei comer e viajar e aqui encontrei o curso de “Gastronomia, Turismo e Bem-Estar”. Não poderia ter encontrado algo mais a minha cara! A faculdade (Escola Superior Agrária de Viseu) me lembra muito a UFF (Universidade Federal Fluminense), onde estudei Direito no Brasil, e também é pública. Lembrando que, como já expliquei em outros textos, o público, aqui em Portugal, não é de graça! O mesmo vale para o sistema de saúde.
Tenho a impressão de que o preconceito ficará para trás! Hoje, fazendo faculdade aqui, vejo que ele não existe entre os mais jovens, o que muito me alegra pois ficar para trás é uma questão de tempo!
Ainda não tenho experiência com escolas infantis para passar para vocês pois conto com a ajuda da minha mãe, que fica com meu bebê, de um ano e meio, enquanto estudo e me dedico a outros projetos. Hoje estou em um projeto de pesquisa e inovação da faculdade com um grupo finlandês, por exemplo, e já participei de alguns concursos voltados para empreendedorismo, pois gosto bastante!
“Baloicemos!”
Continuo achando as diferenças culturais desafiadoras. O “jeito português” um pouco mais distante, um pouco mais frio, um tanto quanto misterioso e que muitas vezes nos soa grosseiro.
No final de janeiro de 2021 veio o novo lockdown. Meu aniversário, em fevereiro, foi em casa. Migrei para aulas online. Eu e meu filho encerramos o ciclo da amamentação (que foi tão simples que nem tenho texto para escrever!) e, em março, fiz dois anos em Portugal!
Em maio retomamos as aulas presenciais, o plano de desconfinamento está acontecendo, minha mãe foi vacinada e eu devo ser em breve. E assim seguimos!
Por fim, queria contar que achei meus primeiros fios brancos na cabeça! Será que foram as mudanças, as adaptações, a pandemia, a maturidade, um pouco de cada e outras razões mais?!
A vida é um constante movimentar, como os “baloiços” (balanços) que vemos muito por cá!
O Nemo (todos viram o filme “Procurando Nemo”, certo?) diria: “continue a nadar”. Eu digo…continue a baloiçar!
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