Um inverno chileno em cada um de nós.
Chegamos em Santiago em maio de 2017, e o vento frio já dava indícios do que podíamos esperar pelos próximos meses. Santiago é uma cidade em que as estações do ano são muito marcadas e isso se vê na paisagem, que muda e nos mostra a beleza da natureza nas folhas que ficam amareladas e caem, nas árvores peladas pelo vento frio do inverno. E, depois, essas mesmas árvores se enchendo de cor, de flores por todos os lados para, em seguida, dar passagem para o verde. E, assim, o ciclo se repetir infinitamente.
É bonito de se ver, mas é ainda mais bonito de sentir. Como disse, chegamos em maio, no começo do inverno. Um céu cinza, uma chuva fina que teimava em cair, uma manhã que nunca convidava o sol a entrar em casa. Os santiaguinos pouco saem para os parques no inverno – e são muitos deles espalhados pela cidade – talvez porque a estação parece carregar em si o silêncio oculto de cada um, suas dores, seus medos, suas desilusões. Ou talvez era assim que me sentia ao chegar em um país estranho.
Vivi dois invernos aqui: o de dentro e o de fora. Aprendi a ficar mais em silêncio, a ficar bem comigo mesma, a sentir tranquilidade na solidão, a dormir abraçada com minha filha numa tarde cinza, a sair com quatro camadas de roupa para não morrer congelada. O tempo frio tem esse poder: nos enclausura, nos deixa mais pensativos, cansados, querendo aconchego e, por que não dizer, deprimidos. O inverno me trouxe ainda mais saudade. Uma saudade do lar, do país, de sol no rosto, uma saudade de uma alegria que eu ansiava por sentir no peito e não sabia bem qual era.
Arrisco dizer que estar longe de seu país é ter um inverno oculto em cada um de nós. Um inverno que esconde tristezas, que nos faz mais silenciosos. Um inverno que nos impõe refletir sobre o que se passa conosco.
Saiba passar pelo inverno
Em Santiago, durante os meses de inverno, me redescobri. Descobri o quanto as pessoas, suas vozes, seus abraços, seus sorrisos, suas manias fazem falta. É fácil agasalhar o corpo. Difícil mesmo é agasalhar o coração. Contudo ele também me mostrou o quanto sou forte. Aprendi a viver essa nossa vida muito mais rápido do que pensava. Aprendi que a alegria que eu ansiava em sentir era só medo do desconhecido, de me arriscar, de falhar.
Como tudo na vida tem dois lados, o inverno passou, e as ruas começaram a se encher de flores, o sol começou a aparecer ainda tímido, apaziguando o vento já não tão frio. Alguma coisa dizia que tudo ia melhorar. É a natureza lembrando: saiba passar pelo inverno.
Li essa frase outro dia e nunca mais me esqueci dela: “que só quem passa pelo inverno é merecedor da primavera”. Bem, passamos, sobrevivemos. Costumo dizer que mostramos quem realmente somos quando as coisas estão difíceis, quando tudo sai da sua zona de conforto.
Mudar de país é sempre viver um pouco à margem. Há sempre algo a ser explorado, a ser melhorado, a ser aprendido, a ser vencido, a ser visto, a ser conquistado. Uma dica? Tenha metas. Ninguém muda de país por mudar. Trace planos. Tenha um plano B caso as coisas não deem certo ou você não se adapte. Não tenha preconceito. Sorria. Se encante.
Leia também: De partida para o Chile
O Chile tem feito isso comigo. Me encantado nas pequenas coisas: andar pelos parques e correr por eles com minha filha sem ter medo de um assalto; ter prazer em pegar a estrada e viajar de carro vendo a paisagem mudar; descobrir que um dia posso estar no mar e no outro na neve; aprender a comer abacate com tudo que se possa imaginar; tomar os melhores vinhos a preços populares; admirar a cordilheira.
Bem, com licença, que vou ali me encantar e “mirar” mais uma vez a cordilheira ainda coberta de neve.
4 Comentários
Olá, Evelyne! Me identifiquei com seu texto. Minha chegada no Chile Foi em Junho de 2017, e vivi este mesmo inverno interno em Santiago. Já estava acostumada com o frio do inverno, em 2017 mais longo que o normal, pois vinha de um longo inverno alemão, onde vivi nos últimos 3 anos. Mas, na minha opinião, o que pesou aqui em Santiago, é que apesar de ser uma cidade linda e cheia de parques, não tem muitos eventos no inverno e os parques ficam vazios, aliás gostaria de saber sobre eventos em Santiago e em Vina no inverno, talvez no parque Bicentenário tenha algo, se souber me conte. Na Alemanha, havia muitos eventos ao ar livre no inverno , feiras de chocolate, de vinho, de culinária francesa, de Natal, medievais, etc. Mas, enfim todos merecemos a primavera! E em maio me mudo para Viña dela Mar, mais uma mudança no inverno, espero que este seja maravilhoso pra gente. Um grande abraço! 🙂
Olá, Evelyne! Me identifiquei com seu texto. Minha chegada no Chile Foi em Junho de 2017, e vivi este mesmo inverno interno em Santiago. Já estava acostumada com o frio do inverno, em 2017 mais longo que o normal, pois vinha de um longo inverno alemão, onde vivi nos últimos 3 anos. Mas, na minha opinião, o que pesou aqui em Santiago, é que apesar de ser uma cidade linda e cheia de parques, não tem muitos eventos no inverno e os parques ficam vazios, aliás gostaria de saber sobre eventos em Santiago e em Vina no inverno, talvez no parque Bicentenário tenha algo, se souber me conte. Na Alemanha, havia muitos eventos ao ar livre no inverno , feiras de chocolate, de vinho, de culinária francesa, de Natal, medievais, etc. Mas, enfim todos merecemos a primavera! E em maio me mudo para Viña dela Mar, mais uma mudança no inverno, espero que este seja maravilhoso pra gente. Um grande abraço! 🙂
[…] também: Saudade: um inverno chileno em cada um de nós e Sentimentos de uma mãe […]
[…] Leia também: Saudade: um inverno chileno em cada um de nós […]