Saudade, homesickness e as festas de final de ano.
Estou certa de que uma grande parte dos nossos leitores vive longe do Brasil e, por isso, a palavra saudades é bastante ativa no repertório pessoal. Penso também que as festas de final do ano, como Natal e Réveillon, podem aguçar ainda mais esse sentimento. Mas o que é saudades? Vamos recorrer ao famoso Aurélio:
Saudade – lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que alguém se vê privado; boas lembranças ou recordações.
Ou, de forma mais poética, já dizia Gilberto Gil em “Toda Saudade”: “Toda saudade é a presença da ausência de alguém, de algum lugar, de algo enfim”…
Este texto é para te dizer que tudo bem você sentir saudades, sentir falta, ficar nostálgico, até chorar se for preciso! Tudo bem se seus filhos sentirem saudades também!
Homesickness
Quem mora fora já deve ter ouvido essa palavra em inglês, que em uma tradução livre significa saudades de casa. Trata-se de um tipo de ajuste emocional, com duração variável, experienciado por crianças, jovens ou adultos, quando afastados de casa por um período de tempo. Pode se manifestar em crianças que participam de viagens escolares ou acampamentos de verão, jovens que se mudam para cursar universidade longe da casa dos pais, famílias que se mudam para outra cidade ou país.
Por se tratar de um período de ajuste emocional, não é considerada uma doença, mas pode revelar sintomas como: tristeza excessiva, tendência ao isolamento, falta de motivação, alterações de sono, etc.
Por isso, fique atento! Não há nada de errado em sentir saudades, tristeza, sentir falta… Mas é preciso gerar mecanismos para lidar e superar essa fase de adaptação.
Especialistas sugerem que se mantenha uma vida ativa, evite o isolamento, arrisque-se a fazer novos amigos, visitar novos lugares, conhecer novas culturas e tradições. Mantenha contato com seus entes queridos, seja por telefone ou outros meios de comunicação. Quando possível, faça visitas e receba visitas de seus parentes e amigos.
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O melhor remédio: gerar mais memórias
É nesta época de festas de final de ano que para mim a saudade aperta mais. Eu, particularmente, não sofro de homesickness, mas sinto muito a falta de meus pais que já se foram e de minhas irmãs e sobrinhos que moram no Brasil. Sei que meu marido e filhos compartilham dessa falta também.
Costumo dizer que morando em hemisférios diferentes, uma visitinha rápida não é algo que possamos viabilizar com a frequência que gostaríamos. Logo, não é uma solução viável. Vale acrescentar que estamos partindo para o nosso quinto natal e Ano Novo consecutivos longe do Brasil.
O que fazer então? Como lidar com essa saudade?
Acho que o melhor remédio é curtir as boas memórias do passado, alimentá-las e trazê-las para o nosso dia a dia. E, claro, adicionar novas memórias!
No natal, por exemplo, mantemos a tradição de decorar a casa. Tarefa a ser realizada por todos da família, e como aqui é inverno, chocolate quente acompanha! O cardápio da ceia de Natal também resgata as tradições da minha família no Brasil e o famoso “quadradinhos” (uma receita de pavê de chocolate que meus filhos amam) não pode faltar!
E não celebramos o Natal como os americanos, não! Realizamos nossa ceia de Natal na noite do dia 24 de dezembro, trocamos presentes, fazemos uma oração e nos cumprimentamos à meia-noite. Quando a rede permite contatamos nossos familiares por telefone para aquele abraço virtual delicioso ( à meia-noite de lá e à meia-noite daqui!). Voltamos a nos reunir para o almoço no dia 25.
Tradicionalmente, os americanos não têm o hábito de realizar um evento especial para a véspera de Natal. Muitas famílias com crianças pequenas costumam usar pijamas alusivos à data natalina (sim, pijamas iguais para papai, mamãe, filhinhos e pets), vão cedo para a cama e abrem os presentes na manhã seguinte. A principal refeição em família é realizada no dia 25.
Caixinha das Boas Lembranças
Para a festa de Ano Novo, sempre planejamos uma celebração alegre, nos moldes brasileiros, mas, infelizmente, sem pular as sete ondinhas no mar e nem usar branco. Também sinto falta desse figurino…
E, seguindo a linha “adicione novas memórias”, fazemos aqui em casa a cerimônia da Caixinha das Boas Lembranças. Durante todo o ano, cada membro da família registra fatos e acontecimentos importantes e guardamos em uma caixa. No final do ano, sentamos perto da lareira e vamos abrindo e lendo em voz alta cada pedacinho de papel com situações de sucesso, conquista, encontros, superação, situações que nos fizeram rir. É um momento muito especial, pois relembramos tantas coisas boas que marcaram nosso ano, temos a oportunidade de nos reconectarmos com a nossa essência, valorizamos a nossa família, enaltecemos os nossos valores e exercemos a gratidão.
Ao final, queimamos todos os papéis na lareira de forma a simbolizar que devolvemos ao universo todas as coisas e energias maravilhosas que recebemos.

Caixa das boas lembranças (Arquivo Pessoal)
Uma dica para quem mora longe
Estou falando em dica, pois não sou habilitada para dar conselhos, ainda mais sem saber o histórico e a vivência de cada um. Mas gostaria de registrar que se você mora longe de sua cidade, de seu país, de seus familiares, e sente saudades, aquela que às vezes dói no peito mesmo, está tudo bem e você é um guerreiro. Não se envergonhe e não minimize a falta que seus filhos possam sentir de amigos e familiares.
O verdadeiro guerreiro também não se deixa abater. Cuidado com as armadilhas que possa criar para você mesmo. Nada de deixar rolar o CD da Simone no último volume com o “Então é Natal” e achar que o mundo não presta! Nada de despedidas dramáticas nos aeroportos da vida.
É importante e é possível ter saudades e ser feliz mesmo vivendo longe dos seus familiares e amigos brasileiros. Tente passar ou discutir isso com seus filhos. Se os sintomas e efeitos do homesickness forem aumentando ou fugindo ao seu controle, não deixe de procurar apoio de um profissional.
Um feliz novo ano, nova vida e muita memória boa para que você e sua família! Que vocês possam encher a Caixinha das Boas Lembranças em 2019 !
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