Relação pai e filha: Pai, obrigada
Quem me acompanha sabe que desde 2017 escrevo aqui no Mães Mundo Afora como colunista a respeito de maternidade. E já devem ter percebido que a minha preferência é escrever sobre assuntos do nosso dia a dia, nossas experiências reais.
Assuntos que muitas vezes me remetem ao meu lado filha, me levam a recordar de quando eu estava no lugar dos meus filhos e, consequentemente, acabo contando muita coisa para vocês sobre a minha mãe. Ela tem uma tremenda influência na mãe que me tornei.
Mas, hoje, o assunto vai escorregar um pouquinho para outro lado e gostaria de contar a vocês sobre uma outra pessoa que foi tão importante quanto a minha mãe para eu me tornar quem eu sou: o meu amado PAI! Falarei sobre ele e sobre a nossa relação pai e filha.
Já li em diversos artigos que nosso vínculo com nossas mães é visceral, visto que nascemos de dentro do útero delas. E o nosso vínculo com nossos pais é algo que precisa ser construído e ele vem desde quando ainda estamos dentro da barriga de nossas mães, no escutar a voz, nas conversas, no carinho com a mãe e etc.
Memórias de uma infância feliz
Desde que me entendo por gente, me lembro do meu pai nos tratar sempre com muito carinho e estar sempre muito presente nas nossas vidas de crianças.
Lembro de quando ele me pegava no colo e cantava “o coisinha tão bonitinha do pai, o coisinha tão bonitinha do pai” para me embalar e fazer dormir. De quando levava eu e minha irmã (3 e 2 anos, santa paciência!) para o Estádio Serra Dourada em Goiânia para nos ensinar a soltar pipa. De quando a galera da vila militar que eu morava vinha toda para minha casa jogar queimada ou taco com ele. E ele era terrível, viu? Não dava mole pra criançada e ainda zoava, instigava aquela competição e dava gargalhadas.
E quando ele dava uma de jogar capoeira?! Nossos amigos ficavam doidos lá em casa quando ele ia para grama do jardim e começava a querer nos ensinar a “dar macaco” (um pulo que dá para trás agachado e cai de pé!). Segurava nossas pernas para nos ensinar a fazer parada de três apoios, depois dois, ponte… Batia corda para gente pular e ainda dava um jeito de nos “zoar”.
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Na época de férias, primos e amigos vinham para nossa casa em Resende e ele nos levava para fazer treinamentos na Aman, jogar bola, deixava a gente andar na mala do carro, pular do trampolim de 10 metros. Era um tio muito maneiro e querido por todos.
Meu pai apesar de sempre trabalhar muito, sair de casa às 7h e voltar às 18h todos os dias, sempre brincou conosco. Amante do esporte, sempre nos levava para o clube aos finais de semana, nos ensinava a jogar vôlei, nadar e assisti-lo nos torneios. Jogava tudo! Até de peteca ele tem troféu.
Mudanças pelo Brasil
Eu, meus irmãos e meus pais sempre fomos muito unidos. Acredito que por estarmos sempre mudando de cidades, fazendo novos amigos e estudando em colégios diferentes e só tínhamos a nós mesmo. Nossa base familiar era muito forte! Sempre moramos longe da família. Avós, tios, primos eram só nas férias. Então nossas referências diárias eram apenas minha mãe e meu pai mesmo.
Quantas vezes meu pai sentou comigo para me ensinar matemática, trigonometria, geografia e eu o fiz perder a paciência! Cada colégio novo era um “terror” diferente. Aquela primeira semana que nós chorávamos dizendo que queríamos voltar para cidade anterior (depois de duas semanas passávamos a amar a nova e sempre era uma tragédia na hora de ir embora) e eles sempre com muita sabedoria e tato lidando conosco.
Hoje que tenho filhos, que passei por adaptação escolar em um país diferente, língua diferente, ensino à distância, posso dizer que tiro o chapéu para os meus pais. O que eles passaram com três filhos a cada ano que mudávamos só me serve como exemplo para ter força para seguir o meu caminho em frente.
Zero machismo
Minha mãe não dirigia até eu ter mais ou menos uns 8 anos de idade. Então contava com meu pai para fazer mercado, feira, nos levar ao pediatra, escola. Aliás, meu pai nunca teve problemas em ajudar nas tarefas domésticas. Sempre cozinhou, lavou louças, pendurou roupas, faz o que for necessário, mesmo minha mãe sendo do lar e se dedicando exclusivamente a nós e ele trabalhando em período integral. Um exemplo para qualquer homem da minha geração. Um companheiro de verdade.
Inclusive, uma vez ouvi de um professor meu de faculdade, que era amigo do meu pai, que seria difícil eu escolher um homem para casar, pois alguém igual ao meu pai era difícil de se encontrar. Lembro-me de inflar igual um balão de gás de tanto orgulho naquele momento.
Relação pai e filha na adolescência
Confesso para vocês que eu não fui uma adolescente fácil. Fui a filha mais velha, que enfrentava os pais abrindo caminho para os irmãos mais novos, sabe como? O problema é que fui extremamente respondona e atrevida. E foi exatamente nessa época que meus pais me pegaram “firme de jeito”! Me lembro como se fosse hoje de cada palavra que meu pai me dizia. Os ensinamentos dele sobre respeito, honestidade, caráter.
Os alertas que ele me dava sobre amizades, namoros. Sempre abrindo meus olhos, mas sem se meter. Respeitava as minhas escolhas e estava sempre ao meu lado. Foi o meu melhor amigo quando precisei. Mas estava sempre lá para me dizer
“passarinho que acompanha morcego, dorme de cabeça para baixo”.
Ele era nosso amigo ao ponto de sairmos para as festas com as amigas (que depois sempre vinham dormir na nossa casa, nossa casa vivia cheia) e no dia seguinte no café da manhã, ou melhor, almoço, sentar-se com a gente e rir de todas as fofocas da festa.
Era linha dura, não me deixou encostar no carro para aprender a dirigir antes que eu fizesse 18 anos e tirasse a minha carteira na auto-escola. Após isso, me emprestava o carro para levar as amigas para festa, para ir para faculdade. O estilo dele era liberdade com responsabilidade. Nos incentivava a estudar e ser independentes e sempre nos dizia quando via que deixávamos uma oportunidade passar: “O cavalo só passa encilhado uma vez.”
O avô
E hoje, só posso dizer que se tornou um avô querido, chameguento, que os netos amam de paixão. Como sentimos falta de estar do lado dele. Ele nos faz rir o tempo todo. Um vovô alegre, que dá sempre um show nas pistas de dança. Arrasou aqui na minha festa de 40 anos. Deixou a italianada toda de queixo caído.
Pai, que saudades do teu abraço gostoso! Do teu carinho, do seu amor, dos seus conselhos. Só gostaria de te dizer muito obrigada pelos teus ensinamentos, pela minha formação de caráter, pela sua amizade. Te amo infinitamente e não vejo a hora de sentarmos juntos para tomar aquela cerveja!
Se hoje sou feliz com minha família, devo muito a você! Você influenciou diretamente na minha escolha de vida, na pessoa que me tornei e no caminho que resolvi seguir. Sou eternamente grata a você! Meu orgulho, meu herói.
3 Comentários
Oi Tatiana, li seu texto e adoreiiii. Gostaria muito de ter tido um pai assim.
Que lindo filha! Seu pai é tudo isso mesmo. Bom pai, bom avô, bom marido e um companheiro maravilhoso, parceirasso! Merece sua homenagem. Te amamos muito.
Ótima reflexão! Super texto! Temos histórias parecidas. 💫💫