Quando o “ir e vir” não é uma opção para matar a saudade
Morar fora pode ser uma experiência maravilhosa, cheia de descobertas culturais, incluindo a gastronomia que eu amo tanto. São sabores e cheiros novos, até a água pode ter um sabor diferente do que estamos acostumados.
Mas, apesar de toda essa euforia, a saudade, ah a saudade, ela chega com a gente de mala e cuia e permanece enquanto estivermos longe das pessoas que amamos. Na minha experiência de morar fora, nunca consegui dizer adeus para a saudade e também nunca conheci ninguém que o tivesse feito.
A saudade na vida da expatriada
Pelo que tenho vivido, percebi que a saudade sempre irá me acompanhar, a diferença é que o tempo tem me ensinado a lidar melhor com ela. Hoje com a tecnologia, a distância que nos separa das pessoas que amamos não parece ser assim tão longe sabe. Podemos falar e até se ver todos os dias através de uma telinha e isso ajuda muito a saudade ficar mais leve.
De qualquer maneira, nada é tão eficiente quanto a esperança de nos encontrarmos pessoalmente para matar a saudade. Nessa hora a saudade tem um significado tão gostoso. Como é bom matar a saudade né? Matar a saudade do abraço, do cangote de quem a gente ama muito, da combinação perfeita do arroz com feijão e daquele pastel com caldo de cana que só a feira brasileira tem.
Trazendo quem a gente ama para perto
Tem a outra forma também, quando matamos essa saudade trazendo essas pessoas para o país que agora chamamos de casa. A euforia é tremenda, sonhamos com a chegada, com os abraços e todas as palavras que queremos dizer olho no olho.
Os planos de passeios gastronômicos, culturais, todos os castelos e museus começam encher os pensamentos e a lista de coisas para se fazer. É uma mistura de sentimentos. A saudade que queremos matar e o novo que queremos compartilhar.
De uma forma ou de outra saber que iremos matar a saudade nos traz esperança e um sentimento de “bateria recarregada”, ou seja, posso aguentar por mais um tempo essa distância. Essa é uma estratégia que ouso dizer ser unanimidade entre todos que moram longe. Anos atrás não era tão fácil assim ir e vir, mas hoje está mais fácil e acessível também. Penso que a tendência e melhorar e ate diminuir o tempo entre um ponto e outro. E assim que eu sonho com o futuro das distâncias!
O não poder viajar
Mas e quando o ir e vir já não é uma opção? A estratégia mais usada e eficaz não pode ser usada? Como assim eu não vou conseguir matar a saudade? Acho que essas são opções que eu jamais pensei que excluiria da minha lista.
A segurança de voltar pra casa sempre acolheu a minha saudade. Voltar pra casa sempre foi uma opção que trazia esperança e força de dias melhores. Pensar e planejar férias no Brasil sempre me acolheu nos dias frios e cinzentos. Ah quando o dia estava escuro como eu pensei no sol e no calor do meu Brasil. Na feira de sexta-feira que eu acompanhava minha mãe pontualmente ao meio dia, quando ela dizia que tudo era mais barato e que na compra de dois pastéis você ganhava outro.
Esse de fato é um sentimento que eu ainda não tinha vivido, o fato de saber que o ir e vir não é possível. Percebi que é mais que uma estratégia, é um porto seguro que nos acolhe nos dias mais solitários. É um lugar cheio de memórias e planos que esperam para ser realizados.
Mas no fim o que não estamos aprendendo com essa pandemia? São desafios emocionais que nunca esperei passar. Maneiras e formas de autocuidado que tem me ensinado a ter sanidade em muitos dias e momentos solitários.
Esperando que em breve os reencontros sejam possíveis
Confesso que não tem sido fácil, tem dias que o choro vem em abundância, a solidão fica gigante e as vozes enganosas insistem em dizer que talvez eu não possa mais matar a saudade de quem amo, dos cheiros que me lembram infância e casa.
Mas na maioria do tempo tenho aprendido a calar essas vozes, e por incrível que pareça é exatamente com as lembranças do sentir o ir e vir que me encho de esperança. O dia em que estarei novamente com os meus pais, que vou comer o cuscuz nordestino quentinho com manteiga que minha mãe faz e o café fraquinho que só o meu pai sabe fazer.
Quando penso nesses momentos e nas sensações que me trazem, novamente o meu coração se enche de esperança. Tenho pensado também que os abraços serão fortes, que os sorrisos serão ainda mais largos pelo sentimento de que no fim conseguimos vencer as incertezas e cá estamos nós novamente. Acho até que esses sorrisos se misturarão com as lágrimas que talvez insistam em cair.
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Longe de mim ser capaz de controlar tudo, então o que posso fazer hoje é viver um dia de cada vez sem ignorar o que sinto. Chorando, me acolhendo e me alegrando com as lembranças lindas que tenho dos reencontros que em breve serão possíveis!
Até lá abusamos da tecnologia para a matar a nossa saudade!