Muitas pessoas tem me perguntado por que eu e meu esposo decidimos mudar de estado e trocamos a cidade grande pela vida no campo. Parece que aconteceu tudo muito rápido e que mudamos de uma hora para outra, mas na realidade já planejávamos essa mudança desde 2014. A pandemia e o isolamento social no ano passado só reforçaram ainda mais esse nosso desejo.
Mas por que essa vontade de mudar de vida?
Quando nos tornamos pai e mãe, buscamos dar o melhor para os nossos filhos, não é mesmo? Em julho de 2014, o meu primogênito estava com um ano e meio e eu estava grávida novamente. Meu marido e eu conversamos sobre a qualidade de vida que daríamos para os nossos filhos e os valores morais que queríamos ensinar para eles. Então o nosso desejo sempre foi que as nossas crianças crescessem em contato com a natureza e com os animais.
O meu marido nasceu na Califórnia, mas quando criança os pais dele tomaram essa mesma decisão: saíram da cidade grande e compraram uma fazenda em Missouri, onde o Eric e o Craig (meu cunhado) cresceram. Eles eram verdadeiros cowboys e ajudavam o pai em todas as atividades rurais, como acordar cedo, tirar leite da vaca, cuidar das plantações, dos cavalos, etc.
Eu também tive o privilégio de crescer em contato com a natureza e relembro quão feliz foi a minha infância por causa disso. Eu nasci em Sete Lagoas, Minas Gerais, mas quando eu ainda era bebê meus pais se mudaram para Contagem (cidade metropolitana). Contudo, nas férias de julho, dezembro e janeiro sempre íamos para a “fazenda do meu tio Tone”. Ele era o caseiro de uma fazenda em Sete Lagoas, mas na minha imaginação de criança, eu achava que a fazenda era do meu tio. Eu amava passar as férias lá! Só tenho boas recordações e lembro de tudo que vivi naquele lugar, que para mim era mágico.
Como as crianças da fazenda se divertiam?
Lembro que ficava observando as vacas no curral e que tinha medo do touro. Corria atrás das galinhas, carregava os pintinhos, imitava o cocoricó do galo. Também lembro da minha tia Lena cozinhando no fogão à lenha, da comida deliciosa que ela fazia e ainda faz até hoje. Naquela época, meados dos anos 1990, não existia celular nem redes sociais, por isso os bebês e as crianças não eram viciados em eletrônicos como são hoje. Bons tempos, não é mesmo? As crianças brincavam como toda criança deveria brincar!
A gente brincava de tudo um pouco: pique-esconde, pega-pega, cantigas de roda, passa anel, telefone sem fio, pular corda, amarelinha, etc. Eu amava gangorrar e nadar na cachoeira. Geralmente, nos finais de semana a casa do meu tio ficava lotada. Meus outros tios e tias iam para lá com a criançada toda e nós fazíamos a festa. Íamos para a cachoeira e passávamos o dia todo lá. Que infância maravilhosa!
As preocupações em relação à mudança
Como eu e meu marido tivemos essa experiência fantástica na nossa infância, queríamos o mesmo para as nossas crianças preciosas. Principalmente no mundo em que estamos vivendo, essa volta às origens, o contato com a natureza e com as coisas simples da vida se faz necessária.
Confesso que fiquei um pouco insegura se essa era a decisão certa. As minhas crianças nasceram no Colorado, elas nunca tinham mudado e eram acostumadas com a rotina de uma cidade grande. A escola que eles estudavam era uma das melhores e tinha receio de que numa cidade do interior a qualidade do ensino e o desempenho acadêmico deles seria inferior. As atividades extra-curriculares que eles faziam e gostavam tanto, como jiu-jítsu, balé, natação e aula de música, também era um questionamento se iria encontrar com a mesma excelência.
Eu morava no Colorado há 11 anos. Nunca tinha mudado de estado, portanto eu já estava acostumada com o lugar onde eu vivia. Eu conhecia muita gente, sabia praticamente tudo sobre o lugar, onde encontrar as coisas que eu precisava, minhas lojas e supermercados favoritos; eu dirigia até de olhos fechados. Mas a minha maior preocupação era como seria a reação, o sentimento das crianças em deixar os amiguinhos deles, a escola que eles tanto amavam, a igreja (Littleton Adventist Church) que era uma família para nós e que viram meus filhos nascerem.
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Eu também não queria ficar longe das minhas amigas sinceras, sabia que iria sentir muita falta. E para o meu marido também seria muito difícil começar como um médico desconhecido em um outro hospital, pois ele trabalhava há 25 anos no mesmo grupo de anestesiologistas em Denver. Ele é muito querido e prestigiado nos hospitais em que trabalhava e tem amigos que se tornaram irmãos.
Mas estávamos decididos a fazer essa mudança radical, pois já estávamos cansados da vida, da agitação, do trânsito do lugar onde morávamos. Sabíamos que os verdadeiros amigos sempre estariam conosco e que faríamos novas amizades. Então, em outubro de 2020, viajamos para Missouri e compramos uma casa na cidade para ficar mais fácil de levar as crianças para a escola e para as atividades extracurriculares. Por ser uma cidade do interior, a casa fica num bairro tranquilo e em meio à natureza, nem parece que estamos em uma cidade. E o mais legal, a nova casa fica apenas a 50 minutos da fazenda da família (o Eric comprou a fazenda do pai em 2013). Nosso objetivo era ficar na cidade durante a semana e nos finais de semana ficarmos na fazenda para as crianças terem contato com a natureza e com os animais.

Acervo pessoal
A mudança
O tão sonhado dia chegou! Queríamos começar o ano de 2021 com essa nova mudança. Então saímos do Colorado no dia 30 de dezembro e chegamos em Missouri no dia 31. São doze horas de viagem de carro, mas nós paramos no hotel para dormirmos e no outro dia seguimos viagem. Graças a Deus fizemos uma boa viagem e, quando estávamos chegando, começou a nevar muito. Foi emocionante ver a neve caindo. As crianças e a nossa cachorra Niki, que é uma husky siberiana, amaram e já saíram do carro celebrando o nosso novo lar-doce-lar. Começamos o ano de 2021 em um novo estado, nova casa, novos ares, vida nova, enfim, tudo novo!
E o tempo voa, né? Já faz dois meses que moramos aqui e posso dizer que essa mudança de estilo de vida foi muito benéfica! Como é bom viver num lugar tranquilo, sem trânsito, agitação, barulho e a violência das cidades grandes. Acordar todos os dias, respirar ar puro, ter contato com a natureza e os animais é restaurador! Todas as manhãs na janela do meu quarto, eu vejo um deslumbrante nascer do sol e quando vou dormir, um céu cheio de estrelas.
Não imaginava que iríamos nos adaptar tão rápido e que gostaríamos tanto de morar aqui. Não estamos sentindo falta do Colorado como pensávamos que sentiríamos. A vida no interior tem sido bem mais fácil e tranquila. Realmente temos qualidade de vida aqui! As crianças estão amando a nova escola, já estão fazendo as atividades que faziam anteriormente, fomos bem recebidos na igreja e, o melhor de tudo, não tem trânsito. O local mais longe é a escola de dança das meninas que fica a 12 minutos da nossa casa de carro. Os demais locais ficam a cinco, oito minutos de distância. Isso é maravilhoso.
Posso dizer que foi a melhor decisão que eu e meu marido tomamos. Nossas crianças vão crescer nesse ambiente harmonioso e aprenderão o verdadeiro sentido da vida, a valorizar a simplicidade e a importância de ser e não ter. Isso sim é felicidade. Valeu a pena trocarmos a cidade pelo campo! E você, teria coragem de fazer essa mudança?