Por que me mudei para Portugal com minha família
Sair do Brasil e me mudar para Portugal nunca esteve nos meus planos. Nos meus sonhos, sim, quando eu era estudante ou solteira, sem filhos.
O tempo passou e eu decidi deixar para quando me aposentasse, assim dividiria meu tempo entre o Brasil e um (ou quem sabe mais de um?) outro país.
Também sempre fui do tipo que achava que eu deveria ficar e fazer a minha parte para o Brasil dar certo. E que criaria meus filhos para ser a nova geração que conseguiria dar a volta por cima, para deixarmos de ser eternamente o país do futuro.
Até que não deu. Passou dos limites. Chegou um momento que o meu futuro e o deles é que passou a correr riscos. Então, decidimos que estava na hora de experimentar a vida em outro lugar.
Primeira parada, Toronto
O restinho de resistência que eu tinha de ir morar fora foi para o espaço depois que fomos passar as férias de final de ano em Toronto. Foram 15 dias observando o modo de vida das pessoas e, como boa jornalista, conversando com elas sempre que possível, para conhecer melhor sua realidade.
Crianças da idade do meu filho andando sozinhas na rua. Pessoas trabalhando em empregos simples, como caixa de cafeteria, indo para a universidade, tendo acesso à saúde pública. Segurança e cultura para todos.
Voltamos da viagem com uma ressaca que nos fez pensar que algo estava errado. Até que descobrimos o que era: infelizmente, o nosso país.
Portuguesa com certeza
Com a minhoquinha na cabeça, Portugal acabou sendo o caminho mais óbvio, já que eu e meus filhos temos cidadania. A situação econômica do país, que parece estar se restabelecendo, também nos animou a seguir em frente com as pesquisas e os planos.
Trazer as crianças para um novo país, que fala português e tem um clima ameno, com sol praticamente o ano inteiro também foi outro fator positivo. O passo seguinte foi começar a falar com famílias de brasileiros que viviam aqui para conhecer mais sobre a vida, os custos e o dia-a-dia.
Mudança express
Entre tomar a decisão de vir embora e chegar de mala e cuia, passaram-se somente cinco meses. O fato de eu e meu marido trabalhamos de forma remota, atendendo clientes no Brasil, nos ajudou.
Acho que eu não teria a coragem de largar um emprego fixo e vir tentar a vida em Portugal, com toda a responsabilidade e as despesas que dois filhos representam. Então, o fato de não vir contando com um emprego tirou um pouco do peso e do medo. Que não era pouco.
E agora que já estou aqui?
Oito meses se passaram desde que chegamos. E posso dizer que, em Portugal, já passamos por diversas fases: euforia, medo, preocupação, ansiedade, expectativa…
Nesse momento, estou me sentindo como se a realidade estivesse chegando e se acomodando. Já não sou mais aquela expatriada que acaba de chegar e se assusta ou se espanta com tudo.
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Confesso, ainda me surpreendo positivamente com algumas coisas que deveriam ser normais. É que sempre comparamos com a nossa realidade, com o que conhecemos. E, vindo de um lugar onde o Estado não cumpre seu papel, acaba sendo fácil disso acontecer.
Então quer dizer que Portugal é o lugar ideal para morar?
Não. Ou sim. Ou talvez. rs
Essa é uma pergunta que depende mais de você do que do lugar. As pessoas são diferentes, têm necessidades diferentes, as expectativas são variadas. As demandas também.
Se eu puder dar um conselho, a dica é: mude internamente antes de começar a procurar um novo lugar no mapa para viver. Eu acredito muito que, quando estamos bem com a gente, focados em planos e metas e com uma energia de renovação, a coisa acontece do lado de fora também.
Não quer dizer que seja fácil, mas ajuda muito. Eu sempre jogo para o Universo todas as boas energias que eu posso emitir. E sei que ele me devolve!
5 Comentários
É isso mesmo! Acho que se eu não tivesse filhos, ficaria para lutar por um Brasil melhor, mas como nem o meu voto vale nada (porque tiram e colocam quem querem no poder), sinto que não posso deixar as crianças em risco… parabéns pelo texto .
É isso, Mayra. Mas, não desisti ainda. Falo sempre para as crianças que eles têm agora a oportunidade de conhecer novas realidades e, se quiserem, voltar ao Brasil e fazerem sua parte, para que todos tenham a oportunidade de viver uma vida melhor.
Engraçado ler esses comentários, eu nunca deixei aos meus filhos a opçao para voltar. tenho um casal com 16 e 12 anos . A questao da violencia que e a que basicamente levou a maioria dos brasileiros a descobrirem Portugal foi a que me motivou a deixar o Brasil. Vivo cá há quase 2 anos mas nao tenho vontade nenhuma de voltar a nao ser a passeio como já fizemos 2 X durante esse periodo. Sinto muita falta do clima , dos que ficaram família e amigos da energia maravilhosa e alegria do carioca mas realmente o que os corruptos fizeram conosco , enfim e o nosso modo de vida…. hj nao tem mais espaco na minha vida. N\ao quero ser arrogante mas sou mae e graças a Deus temos eu e meu marido a possibilidade de mostrar uma realidade mais justa aos nossos filhos.Mas tenho a certeza de que aqui nao e o paraíso tem muita coisa errada também mas com um povo mais consciente e civilizado apesar de também haver desigualdade. Todo mundo tem o básico.
Oi, Ana Paula. Depois que eles forem maiores de idade e forem donos de suas próprias vidas, eu não tenho mais poder de decisão, certo? Enquanto crianças, eles seguem o que a família decidir.
[…] que a gente só dá valor ao que perde. Mas, depois que me mudei para Portugal com meus dois de 11 e 13 anos, aprendi (mais) uma coisa nova: a gente não sabe dar valor ao que […]