Quinta-feira de manhã, acordo com meu filho de um ano e meio pulando na minha cabeça.
“Mamamamãe” ele diz, e eu olho no relógio e são 6h30min. “Hum, não tão cedo, que bom”. Me cubro e deixo ele brincando no quarto tentando descansar um pouco mais o que dura muito pouco.
Enquanto ele está com seus livros, (única coisa que tem no quarto são aquelas garrafas com glíter para acalmar já que tentamos ser Montessori) eu pego o celular. 120 mensagens no whatsapp, nove mensagens no messenger do Facebook e três mensagens no celular. Leio e respondo o que consigo (de clientes principalmente pois tenho dois negócios, o Livros for Kids Australia o qual coordeno três outras pessoas e sou Consultora da doTERRA). Dou um alô para minha irmã prometendo tentar falar no Facetime hoje, sabendo que provavelmente não conseguirei cumprir.
Ele vem de novo, deita do meu lado e sei que é hora de trocá-lo. Troco a fralda dele sob protestos, e ouço meu marido e minha filha acordando no outro quarto. Fecho os olhos pensando quando vamos conseguir colocar as crianças no quarto delas e dormir juntos? Nem lembro qual a última vez que dormimos na mesma cama, só nós então…
Eles entram no quarto e aquele caos delicioso se instaura. Meu filho sorri e vai com meu marido, minha filha deita comigo, meu marido me dá bom dia, trocamos informações de como foi a noite das crianças e eu vou tomar banho.
O banho para mim é o único momento que tenho sozinha, para respirar, relaxar e pensar no dia. Coloco meus óleos essenciais no banho e respiro fundo. Logo vem minha filha chorando que quer colocar a tal saia que está lavando.
Tento chamar meu marido que está dando leite para o pequeno e acabo saindo do banho para lidar com ela. Achamos a saia, volto pro quarto de toalha para passar creme e ouvir alguns dos áudios que recebi. Começo a ouvir e vem meu marido perguntando o que tomamos de café. Na sequência vem milha filha e desencano dos áudios. Dou uma olhada rápida no meu corpo pós parto no espelho e suspiro lembrando como ele era e o que se tornou sem tempo para me sentir mal. Passo meus cremes e vou para sala.
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Minha filha, ainda de pijama, quer que eu a ajude a escolher o resto da roupa. Quando volto, meu marido e filho quase terminaram de tomar café. Sento com minha filha, que quer sentar no meu colo. Converso e consigo tomar café com ela do meu lado, não no meu colo. UFA!
Meu marido vai arrumando a cozinha enquanto conversamos sobre o dia, noticias, planos e o que cabe entre as mil interrupções das crianças.
Meu marido sai para trabalhar e levanto para arrumar a cozinha enquanto termino o café e já ligando “Frozen” para ouvirmos no rádio pela primeira vez no dia. Enquanto isso ouço alguns áudios e respondo algumas mensagens. Ligo para minha irmã que não atende, lavo a louça, organizo a cozinha e abro computador para trabalhar enquanto os dois estão de boa.
Respondo mensagens, vejo os pedidos de livros, começo a fazer o jornalzinho para meu negócio que comecei sábado e ainda não progredi. Olho para meu mural e penso no Diploma Avançado em Serviços Comunitários, que preciso terminar pois são só mais sete unidades. Penso: “vou tentar hoje, espero que consiga ficar acordada”. Na sequência penso: “preciso organizar o playgroup (grupo de crianças que se encontram para brincar) do ano que vem, vou ligar hoje para alguns lugares.” Meta ousada fazer ligações, mas minto para mim e sigo o dia.
Uma amiga me manda uma mensagem dizendo que está vindo pegar um óleo e corro para arrumar o que consigo, olhando a pilha de roupas para dobrar no sofá. Minha amiga chega e eu continuo ajeitando a cozinha enquanto conversamos.
Temos dez minutos de conversa quando minha filha começa a causar. Deve ser fome, penso, e ai começa “quero isso” e não tem e “quero aquilo” que não tem também. Por que criança só quer o que não tem e nada que ofereço é suficiente?
Enfim, achei algo que os dois queriam e sento para tomar meu café. Aí que está meu erro, não posso sentar. Minha filha já vem e quer sentar no meu colo, fica interrompendo a cada minuto, quer atenção e eu só estou tentando tomar um café dentro de casa com minha amiga.
Essa é a primeira vez que sinto vontade de chorar no dia. São 9h30min da manhã. Abro lá fora, eles estão mais tranquilos, e minha filha quer andar de bicicleta e começa a miar (sabe aquele som que as crianças fazem choramingando e falando que não dá para entender nada?). Quero bater minha cabeça na parede, então ela vem e me abraça e me dá o amor que preciso para seguir em frente.
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Minha amiga querida, que a essa altura já estava até com dor de cabeça e me olhou com empatia mas uma vontade de correr daquele manicômio, se despede, me abraça e diz :“puxa, agora te entendo bem”,! E segue sua vida de mãe de filhos mais velhos com problemas diferentes.
Penso: “meu Deus como consigo cultivar amizades com essa vida louca?”Não é a toa que me sinto tão sozinha. Não consigo terminar nenhuma conversa, fica tudo no ar. Faço uma oração e pego um óleo essencial para me dar equilíbrio emocional. Me sinto culpada. Meu filho chora.
Tinha comentado com minha filha que queria ir na biblioteca, e ela me cobra (que memória criança tem!). Na verdade, a visita na biblioteca é uma desculpa para tentar vender meus livros para eles. 25 minutos para sair de casa entre trocas de roupa, sapato e a fralda do mais novo. Saímos de casa e na esquina ela reclama que está cansada. Penso seriamente em voltar e verbalizo. Ela chora. Continuamos.
O pequeno dorme no meio do caminho e eu respiro. Uma subida, ela quer colo e reclama que está com fome. Eu não consigo e ela chora. Eu coloco ela nas costas e seguimos. Chegamos lá, e está tendo uma sessão de cantigas que são músicas cantadas por uma bibliotecária e o pequeno acorda. Quer sair do carrinho. Tiro ele do carrinho ele começa a tirar todos os livros da prateleira. Pego ele no colo, ele chora.
Distraio ele com um livro, acho um funcionário e pergunto sobre com quem poderia conversar sobre livros infantis em português e enquanto explico meu filho começa a berrar. O funcionário rapidamente me passa um telefone e foge de mim. Sinto vontade de chorar de novo. Como meu negócio vai crescer assim?
Acho um canto para crianças e coloco os dois um minuto para eu respirar. Minha filha está frustrada porque a biblioteca “não tem nada para fazer”, meu filho começa a querer pegar todos os livros e eu tentando conter os dois. Ela acha uma saia que gosta, coloca. Ele começa a ficar muito irritado.
Dou aviso a ela que vamos para casa em cinco minutos e começa o chororô que continua até chegarmos em casa. Uma mãe puxa assunto, eu que queria tanto conhecer mais mães respondo rápido e peço desculpas pois sei que é hora de ir. Ela sai da biblioteca aos berros e vai assim pelas ruas do meu bairro. No caminho eu me arrependo de ter saído de casa, mas me sinto bem respirando ar puro. Quero chorar de novo, e até acho que uma lágrima escorre.
Pequeno dorme no caminho. Chegamos em casa. Ele acorda. Ela não quer comer nada, ele come qualquer coisa. Dou três opções e resto, ela não quer nada, esquento um para mim, ele comendo macarrão. Me sinto culpada por não ter legumes. Dou legumes. Ele chora joga no chão e come macarrão. Ela quer minha comida. Eu dou e como uma maçã.
Ela pede TV e eu, que era contra, agradeço a Deus a hora de sossego que terei enquanto ela vê o desenho dela. Ligo a TV e sento pela primeira vez. Ela vem correndo, pula no meu colo me dá um beijo e diz que me ama. Choro. Abraço ela, ele vem correndo, ela agarra ele no caminho e dá um beijo e eu agradeço a Deus por esse caos que é minha vida.
Olho no relógio 12h15min! Tomo um café e sento para trabalhar um pouco rezando para nossa tarde ser de boa.
Assim é a maternidade. Louca, intensa, exaustiva, maravilhosa e contraditória. No mesmo dia, vivo sentimentos antagônicos e quero chorar. Na verdade acho que choro todos os dias, mas sinto um amor que me faz ter forças e acreditar que tudo vale a pena. Você se sente assim?
12 Comentários
Aline, você não está sozinha! A cada choro sinta-se abraçada por milhares de mulheres que passam por situações parecidas com a sua! Ser mãe é duro, cansativo, mas como você mesma falou cada sorriso, cada abraço fazem tudo valer a pena!
Maravilhoso saber que não estamos sozinhas. Eu achei a maternidade muito solitária. POr mais rodeado de pessoas que estamos, me sinto isolada, sabe? Mas é esse antagonismo louco de sentimentos: a gratidão e um “o que fiz da minha vida?” haha
Obrigada pelo comentário 🙂
Aline, acho que sentia isso quando minhas trigêmeas eram bebês e que smpre era hora de alguma coisa: mamadeira, fralda, arroto que ficou trancado, choro, sesta…
Mas depois começa a melhorar e acho que depende também de nos impormos alguns limites. Nao podemos estar disponives 100 % do dia. Dar colo, atenção, tudo isso é muito positivo, mas mãe também é gente e tem que poder ir ao banheiro, dar um telefonema, RESPIRAR. Uma coach em desenvolvimento pessoal, doutora em neurolinguistica me ensionou a estabelecer horarios em que estamos disponiveis e horarios onde nao podemos atender as crianças. E explicar q eles que nessas horas nao da pra pedir colo, nem comida, nem nada que nao seja urgente.
E sem julgar, apenas como experiência, quanto mais variedade se poe à mesa, mais exigentes as crianças se tornam.
Força e muito amor!
Obrigada pelo comentário, Zandra. Acho que são estilos diferentes, sabe? Eu sou aquela mãe que mesmo meus filhos com 50 anos de idade vou dar colo. Eles sabem bem que eles são prioridade na minha vida, e sempre serão.
O dia que escrevi esse texto, foi um dos mais difíceis. Muitos são assim, e eu sei que tudo é temporário, que eles vão crescer e hoje, ela com 3 anos e 9 meses, ele com 1 ano e 6 meses esta mais fácil. Mas vira e mexe temos dias assim. E como meu pequeno é prematuro, minha vida esta meio que em stand by no ritmo dele.
Agora, não tenho rede de apoio. O que faço com os dois quando preciso ir ao banheiro? OU fazer uma ligação? Não tem para onde correr. Se eles começam a chorar, acabou a ligação. Meu filho de 1 ano e meio não tem maturidade para entender que preciso trabalhar e essa ligação é importante.
Eu acho que temos sim que ter tempo para nós. Com toda certeza. E tenho quando meu marido esta em casa. E adoraria ter mais, se tivesse com quem deixar meus filhos. Mas babá é cara. Um pequeno prematuro que não tem como ir para escolinha porque pega tudo. E minha filha de férias. Tenso! O que sempre penso é que é temporário e já já terei tempo para decolar mieus negócios e minha carreira.
Quanto ao colo, na minha casa o colo sempre será deles, e eu sempre vou para tudo para socorre-los. Esse é o relacionamento que eu quero criar com eles. Eu tenho meu trabalho e tem momentos que preciso trabalhar. Mas colo…. eles sempre terão.
Força e muito amor para você também. Beijos 🙂
Olá Aline, adorei seu texto👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾. Me lembrei de quando os meus filhos eram pequeno e não só tinha vontade de chorar, mas chorava e muito. A maternidade é realmente uma mistura de emoções .
Obrigada por compartilhar sua história! E tenha certeza , que está fase irá passar, e um dia você vai sentir falta de todo este estresse. Agora eu tenho tanto tempo para mim, que as vezes sinto falta do caos, dá bagunça e das birras que os meninas faziam.
Um beijo💋 no seu ❤
🙋🏾♀️
Oi Luciana, obrigada pelo comentário.
Sim, eu sei que melhora e os problemas mudam. Mas é bom sabermos que tem dias que são intensos demais, porém eles acabam. E que tudo bem chorar, se frustrar. Mas tudo passa. 🙂
Obrigada beijos
Oi Aline! Como me enxerguei no seu relato! E olha que tenho uma só, hein? Mas a ambiguidade de ser difícil, mas ao mesmo tempo delicioso, é realmente inexplicável. E eles sabem direitinho quando precisamos de um abraço e um afago para seguir o dia! Um abraço para vc, e choremos juntas quando necessário!
Amanda! Exatamente. O céu e a terra o tempo todo. Um amor inexplicável e um momento “o que fiz da minha vida”haha.
Amém, vamos chorar e rir juntas. Obrigada pelo carinho.
Aline, que texto lindo! É uma coisa louca e a gente é recompendada o tempo todo com as pequenas coisas! E sabe que apesar do caos, a gente dá conta? Feliz 2020
Que texto lindo! Apesar da maternidade ser caótica, a gente dá conta!!! Com certeza os seus pequenos te acham perfeita! Feliz 2020
É isso mesmo! Agora, dá conta eu, mais ou menos haha. Eu dou meu melhor, isso sim.
Feliz 2020
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