Paternidade no Brasil e mundo afora
Ser pai é maravilhoso. É claro que, como tudo na vida, temos altos e baixos. Nada foi, é, nem será perfeito. Mas uma coisa é que aprendi a curtir mais a viagem que o destino final. Eu acredito que se eu ficar pensando, que só quando tudo for perfeito, maravilhoso e completo, aí vou ser feliz, não vou curtir a viagem. E o melhor da vida está justamente na trajetória e não no destino final. Sim, porque difícil ou não, perfeita ou não, essa trajetória é tudo o que temos, e, querendo ou não, teremos que passar por ela. Então porque não tentar aproveitá-la da melhor forma possível?
Nós temos duas filhas. A Sarah, que já está com oito anos, e a Giulia de sete meses. Eu e a Patty esperamos cinco anos depois de casados para ter a nossa primeira filha, porque apesar de ser doido por crianças, eu vivia fazendo contas, cálculos financeiros, e sempre achava que ainda não era o momento. Discutíamos. Patty queria para ontem, eu pisando no freio. Para os papais com cabeça financeira de plantão, fazer cálculos de viabilidade, retorno sobre investimento, aplicação de recursos até a universidade, já adianto: a conta não vi fechar. Filho não é um ativo, e o retorno é totalmente intangível e impossível de se valorizar. Mas posso dizer que, para mim, minhas filhas valem mais que todo o mundo.
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Sempre trocava essas ideias nos círculos de amizades. Até que ouvi de um amigo, “Deus quando manda um bebê manda também um saco de pão”. Mas sabe que isso mudou minha vida? Gente, aquilo me libertou. Nós morávamos em São Paulo, custo de vida altíssimo, a gente no meio das nossas carreiras, correria total, vendendo o almoço para comprar a janta. E resolvemos encarar. E foi incrível.
A viagem da paternidade
Ter filhos é se desprender da ânsia de ter controle de tudo. Nessa viagem você deixa de ser o piloto para ser o passageiro. E justamente, o difícil é conseguir aproveitar a paisagem dessa viagem que no começo parece uma loucura. Mas como tudo na vida, essa fase também passa. Quando me vi em casa pela primeira vez (e também pela segunda, porque isso a gente nunca aprende), com a Patty lutando com um baby blues fortíssimo, um bebê recém-nascido (que não vem com manual!) e que ainda tinha um refluxo que vomitava em jato tudo que mamava, olha, não foi fácil. Pensar em curtir o momento, aproveitar o tempo, parecia algo de quem fumou alguma coisa estragada. A gente estava no meio de um furacão!
Mas nada como o tempo para nos ensinar, não? Por mais desafiador que tenha sido, ainda lembro das noites com Sarah e também com Giulia e de verdade, sinto saudades. Uma das minhas funções em casa sempre foi trocar as meninas depois do banho e botar para dormir. Com a Giulia faço ainda (estou de férias, porque nesse momento elas estão no Brasil). E sabe que se fecho os olhos, ainda sinto a Sarah, há oito anos, no colo puxando os pelos do meu braço? É como se no meio de todos os desafios daquele período, esses momentos fossem como um oásis. Um momento de paz. Na verdade, é a hora em que se curte a viagem. No fim, quando a poeira assenta que a gente vê. E nunca vai ser suficiente. Por mais que eu tenha curtido, sempre terei saudade.
Inevitavelmente, saudades
Sei que terei saudade da minha rotina de hoje com a Sarah. Por isso curto cada minuto como se fosse único. Todas as manhãs sou eu que a acordo, dou café da manhã e levo para a escola. A gente vai a pé. A escola fica a dois quarteirões daqui de casa. E todos os dias, ela me conta os sonhos que ela teve. É tão legal! Os sonhos dela são sempre histórias longuíssimas, parece um livro. Fico me perguntando se a noite toda foi suficiente para sonhar tudo aquilo. Ela tem uma imaginação incrível, e nessas manhãs, ouvir as histórias dela, me faz sentir como parte desse mundo imaginário.
É sobre ouvir sonhos alegres, tristes, malucos, engraçados, de mil aventuras. É sobre participar do mundo de uma criança. É sobre ver o mundo sob a sua ótica. É ajudá-la na rotina, nos deveres, mas lembrar que ela tem que ser o que ela é, uma criança. É sobre aproveitar ao máximo esse tempo que não volta.
Pai mundo afora
Isso foi uma das coisas que morar fora nos proporcionou. Aqui temos uma qualidade de vida que não tínhamos em São Paulo. Andar a pé pela cidade, ter tempo para estar em família. Não que não se trabalha, aliás, ultimamente ando com uma carga de trabalho até maior que no Brasil, mas o fato de não ter um trânsito caótico, e das distâncias serem menores, o dia rende muito mais. Consigo almoçar em casa todos os dias. Consigo fazer parte da rotina das meninas. Ser presente e com um estresse muito menor. A gente sempre conversa em casa sobre isso. Pra gente é claro como faz diferença o estilo de vida que temos aqui na Itália. Somos muito gratos a Deus por essa oportunidade.
Enfim, eu sei que a Sarah vai crescer, vai vir a Giulia, e que também vai crescer. E todas as fases vão passar. Também sei que vou sentir saudades, sejam dos momentos difíceis quanto das minhas longas conversar com a Sarah no caminho da escola. Tudo isso vai passar. Logo, logo, os interesses vão ser outros. É a vida. Virão outros desafios também, e que certamente também vão passar. E já que a vida não para, enquanto isso, só nos resta aproveitar a viagem e guardar as lembranças.
(*) a foto deste post é de minha autoria, e retrata o momento exato do nascimento da Sarah – sim, também sou fotógrafo nas horas vagas!
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