Os riscos da mãe superprotetora
Hoje eu estava conversando com um grupo de amigas mães e uma delas vinha contando que recebeu vários “desaforos e xingamentos” da mãe de uma coleguinha de classe da filha, via Whatsapp, por conta de um mero desentendimento das duas crianças dentro da escola. Não vou entrar em detalhes da história, por achar que realmente não vem ao caso. Mas isso me despertou uma grande vontade de escrever um pouquinho sobre essa geração de mães superprotetoras que estamos nos esbarrando por aí.
Acredito que todas as mães nascem com o instinto de proteger e defender os filhos. O problema é que já é mais do que comprovado por renomados especialistas no assunto que o cuidado e proteção em excesso podem vir a prejudicar o desenvolvimento das crianças. Segundo Patricia Machado, em sua coluna Mães de Primeira Viagem,
São consideradas mães superprotetoras aquelas que têm o hábito de fazer de tudo pela criança e evitar que os filhos tenham qualquer tipo de frustração ou autonomia.”
Sei que nós mães sempre veremos nossos filhos como pequenos indefesos e, com isso, acaba ficando muito difícil fomentarmos a sua autonomia. Porém, não fazermos isso pode tornar os nossos filhos dependentes e inseguros, pessoas que não sabem fazer as coisas por si mesmas.
Leia mais sobre esse tema em A cultura canadense da confiança e independência e Independência das crianças: valor central na cultura australiana
Podemos, desde muito cedo, incentivar essa autonomia dos nossos pequenos, começando por não fazermos nada que eles já podem fazer por si mesmos de acordo com sua idade. Sei que isso é dificílimo. Na teoria, tudo é lindo e somos experts no assunto. Mas, na prática, quantas vezes me pego enxugando, vestindo, penteando e até mesmo dando comida na boca do meu filho de 6 anos!
Por isso, resolvi abordar esse tema, não com a finalidade de julgar ou criticar essas mães superprotetoras, mas na intenção de alertar e, juntas, tentarmos refletir e repensar muitas de nossas atitudes tomadas por impulso ou mesmo por instinto. Digo juntas, porque apesar de não me achar uma mãe superprotetora de acordo com a definição aqui exposta, quando me pego a rever o meu dia, eu me deparo com diversas cenas como as descritas no parágrafo anterior.
Não quero ser o tipo de mãe que coloca o filho em uma bolha e não permite que ele sofra, caia, se machuque ou resolva um problema sozinho. Na minha opinião, nada mais normal que desavenças de crianças se resolverem entre crianças. Cair, machucar, sofrer… faz parte da vida. É de pequeno que aprendemos a nos levantar. Não posso sair me metendo nas confusões de minha filha com sua amiguinha de escola porque brigaram. Oriento, sim! Ensino. Digo o que penso, as consequências que o ato pode gerar e dou bronca. Mas quem tem que resolver é ela. Se é a culpada, que pense, que se desculpe. Só aprenderá sofrendo as consequências. Se está sendo vítima, que aprenda a dar a volta por cima. Esse “treino” fará grande diferença futuramente para ela.
Ensinando e aprendendo com os filhos
Uma vez, quando ainda morava no Brasil, minha filha chegou da escola toda feliz porque tinha que fazer uma maquete da sua sala de aula. Saiu catando tudo quanto era sucata que achou em casa e passou o fim de semana com o irmão mais novo montando. A tarefa era para ser entregue em duas semanas, mas ela fez questão de levar logo na segunda-feira. No dia da exposição do trabalho, ela ficou arrasada quando viu as maquetes dos amigos chegando. Só tinham maquetes “3D”. Estava na cara que nenhum trabalho daquele tinha sido feito pelos colegas dela do 2º ano. Sentiu-se toda frustrada e eu, como mãe, fiquei com o coração na mão.
Qual o meu papel? Confortei-a com a verdade, dizendo que o dela era o único que realmente tinha sido feito por ela e deixei ela mesma tirar as suas conclusões e aprender com a situação. Por dentro, a minha indignação não se calava. Que pais são esses que fazem as tarefas escolares dos filhos?
Outra vez, já aqui na Itália, teve uma festinha de carnaval à fantasia na escola. Óbvio que tudo muito diferente do que as crianças estavam acostumadas no Brasil. Na hora de buscar minha filha, ela estava chorando toda emburrada. Perguntei o que houve, mas não tive muita resposta. Só me disse: odeio isso aqui, quero voltar para o Brasil. Nem dei muita ênfase e acabou a conversa. Aí soube por terceiros que havia uma brincadeira de catarem serpentinas e ela simplesmente queria que todos fizessem de uma forma diferente, do jeito que ela queria. Ah, oras… me poupem, né? Ela chorava porque tinha sido contrariada.
Dias depois, a professora me disse na reunião de pais que tinha obrigação de me dizer que ela tinha dito exatamente a mesma coisa para ela quando chorava no dia do carnaval. Que queria voltar para o Brasil. Eu respondi para professora: isso é normal, fase de adaptação, crianças uma vez ou outra sentirão saudades mesmo, mas também não dei muito bola. Dois dias depois, ela pediu para as amigas da escola virem brincar aqui em casa e nem lembrava mais do ocorrido.
A vida é assim, gente! As crianças têm capacidade para se resolverem entre elas.
Superproteção materna gera adultos inseguros
“As mães superprotetoras fazem com que seus filhos se tornem crianças inseguras porque eles não são capazes de administrar os seus próprios conflitos e dificuldades”, afirma Patrícia Ruggiero Navega, psicodramatista e terapeuta especializada pela Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama. “No futuro, eles serão adultos incapazes de tomar decisões e com menos criatividade”, completa.
Além disso, o hábito de superproteger os filhos é prejudicial para as próprias mães, que acabam tendo dificuldades de manter outras relações porque o foco central de suas vidas é o bem-estar das crianças.
“As mães devem responder à pergunta: o que mais eu tenho feito da minha vida após a maternidade? Se a resposta incluir apenas os afazeres com a criança, a mulher tende a perder a sua essência e se anular como pessoa”, conta a psicodramatista. É importante que a mulher lembre que tem uma vida além da maternidade. Ela é esposa, amiga, dona de casa e funcionária, por exemplo. É recomendável e saudável que a mulher continue exercendo mais de um papel após a maternidade”, diz Patrícia.
Alguns pais continuam controlando a vida de seus filhos depois da infância, na adolescência e juventude. Dificuldades de ser autossuficiente, depressão, baixa autoestima, falta de responsabilidade, ansiedade, são alguns dos problemas que essa superproteção materna pode lhes trazer.
Maternidade na Itália
Nesse um ano de Itália, pude perceber logo que as mães italianas tendem a essa cultura superprotetora. Não só criam como até gostam de uma dependência afetiva e econômica, principalmente dos filhos homens. Não é à toa que os jovens italianos estão demorando cada vez mais a saírem de casa. Muitos chegam a se casar e viverem debaixo do mesmo teto de seus genitores. Assunto que merece um texto à parte. Com certeza, ainda falarei um pouquinho para vocês disso, enfatizando o papel dos “nonos” na vida das crianças italianas. Aguardem!
Fica aí então a minha ideia para que possamos dar uma paradinha e refletir até onde estamos beneficiando ou prejudicando nossos filhos com nossos SUPER cuidados… Pensemos!
2 Comentários
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