Os filhos nasceram e com eles, a vontade de voltar para o Brasil.
Conheci o meu marido no casamento da minha melhor amiga, em 2009. Não foi amor à primeira vista, mas mantivemos o contato “on line” durante um bom tempo. Em setembro do ano seguinte, após uma visita a Paris, o amor chegou com tudo. Em novembro de 2010, meu marido – na época já elevado ao posto de namorado – foi para o Rio de Janeiro e decidimos que eu me mudaria para a França em dezembro.
Uma decisão tomada de sopetão, sem pensar muito. A única coisa em que pensei foi “eu amo Paris, já fui um milhão de vezes e eu vou me adaptar muito melhor do que ele no Brasil”. E fui. Não pensei no futuro, pensei somente naquele momento… Não pensei que eu tinha acabado de comprar um apartamento, que eu tinha uma carreira brilhante e promissora pela frente, eu não pensei na minha família.
Em dezembro de 2010, já estava em La Celle Saint Cloud, na região parisiense, passando o Natal com a família do meu namorado. Meu primeiro Natal longe dos meus pais e da minha cidade, nem preciso dizer que fui às lágrimas quando liguei para casa para desejar “Feliz Natal”. O Réveillon também foi tenebroso, porque os franceses não celebram como nós, brasileiros. Meu primeiro choque cultural foi aí. Mas relevei, porque quando estamos apaixonadas releva-se praticamente tudo…
Aproveitei esses anos para passear pela França e viajar para outros países, em função da proximidade e preços de passagens. Eu já conhecia o Brasil todo em função do meu trabalho, conhecia alguns países da América Latina e os Estados Unidos, então estar na França só aumentou a quantidade de carimbos no meu passaporte. Além dessas viagens, fiz algumas viagens ao Rio, para aplacar a minha saudade. Meus pais só vieram me visitar quando me casei, em outubro de 2012. Meu irmão e sua família vieram em maio de 2014! Iria ficar louca se não os visitasse nesse tempo.
Em 2012, pouco antes do casamento, nos mudamos para Colomiers, na região de Toulouse. Outro choque cultural: a cidade onde moro hoje é menor do que o bairro do subúrbio do Rio onde eu morava, tem cerca de 30 mil habitantes, um ovo para os meus padrões. Até então, a vida continuava seguindo seu rumo, no mesmo ritmo, só que dessa vez eu já estava trabalhando.
Em 2014, a minha filha nasceu! Uma das maiores alegrias da minha vida. Ter a minha filha nos braços foi a minha maior conquista. Sempre disse que a minha filha era o meu sonho em forma de gente. Meus pais vieram para o nascimento dela e passaram um mês em minha casa. Ter a ajuda da minha mãe nesse período foi essencial para mim. Confesso que depois que ela foi embora, eu fiquei meio perdida, mas a gente arruma força não sabe de onde e continua a tocar o barco.
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Fiz várias viagens com a minha filha dentro da França, para outros países e para o Brasil. Hoje, com 4 anos, ela é a maior entusiasta do Brasil que eu conheço. Ama o nosso país e é extremamente orgulhosa de ser brasileira (ela é francesa também). Quando meu caçula nasceu, em 2016, meus pais também vieram, dessa vez com a minha tia. Passaram três meses aqui. Mais uma vez, essa rede de apoio foi excelente para a minha recuperação do parto (foram duas cesáreas) e para a manutenção da minha saúde mental.
Desde que meus pais e minha tia voltaram para o Brasil, eles não vieram me visitar. Em contrapartida, eu fui duas vezes ao Brasil, sendo que na última fiquei três meses. Eu preciso ir para a casa para recarregar as minhas energias, para ter uma rede de apoio e, principalmente, para ter uma vida além da maternidade.
Ter me tornado mãe na França me trouxe vários questionamentos e o que mais “martela” a minha cabeça é que eu me precipitei em ter optado por morar aqui. Onde moro somos só nós quatro: eu, meu marido e meus dois filhos. Não temos absolutamente ninguém por perto! Eu sempre brinco que não posso me dar ao luxo de ficar doente porque não tenho com quem deixar as crianças. E nesse momento em que estou de licença maternidade (ainda não tem vaga na creche para o meu filho), eu me pergunto: como seria a minha vida hoje se estivesse no Rio?
Eu sempre visualizo a minha mãe e minha tia me ajudando, a minha cunhada “quebrando um galho” cuidando das crianças para eu poder ir ao cinema com meu marido e manter a minha vida conjugal em dia. Penso em voltar para casa para ver meus filhos crescendo perto dos avós (só Deus sabe quanto tempo de vida ainda lhes resta), quero ver os dois crescendo perto das primas… Quero voltar a ter uma ocupação compatível com o meu nível de estudo e investimento. Quero que tenham a oportunidade de conhecer a cultura do Brasil, tão rica e tão variada. E, pode parecer bobo, mas eu gostaria muito que os dois estudassem onde eu estudei, no Colégio Pedro II, um dos colégios mais tradicionais do país, instituição gratuita e 100% federal.
Por esses motivos e muitos outros, eu penso e tenho vontade de voltar para o Brasil todos os dias da minha vida. Enquanto eu não realizo meu sonho, eu tento viver da melhor maneira possível, sem passar essa ansiedade para os meus filhos.
Várias coisas me incomodam no Brasil, da mesma forma que várias coisas me incomodam na França. Não há país perfeito, mas como dizia a Dorothy, personagem de “O Mágico de Oz”, “Não há lugar melhor do que o nosso lar”.
7 Comentários
Os relatos aqui são muito interessantes!
Obrigada pela leitura e pelo retorno!
Tatiana,
Super me identifico com você. Tanta gente querendo sair e a gente querendo voltar. Mãe primeriza de um bebê de 3 meses só me faço pensar em como seria a vida do meu filho ao lado da minha família e amigos tão calorosos de um jeito que só a gente sabe ser. É confortante saber que não estou sozinha nesse sentimento.
Obrigada!
Abraços
Voltei para o Brasil há quase 4 anos com minha filha de 1,5 ano e meio (na época) após 7 anos morando na Nova Zelândia. Meu marido veio junto e depois acabamos nos separando. Não me arrependo pois ter família perto NÃO TEM PREÇO. Mas a vida aqui continua difícil (como sempre). São escolhas, sempre temos que ter alguns pros e alguns cons, difícil eh saber qual te fará mais feliz.
Eu imagino, Claudia! Eu acho que serei mais feliz no Brasil, quando eu me mudei para a França não tinha filhos e eu nunca imaginei que minha vida mudaria drasticamente.
Enfim, darei tempo ao tempo e o futuro, como dizemos no Brasil, a Deus pertence.
Obrigada por compartilhar a sua experiência. Boa sorte!
Menina, me ensina como Marina de 4 anos já fala inglês fluente?!! Além do Português?!!Quero a dica para aplicar com Juju aqui em casa tb!😂
Leonor,
Meu marido é franco-inglês e eu sou professora de inglês. Só falamos em inglês dentro de casa. Minha filha aprendeu o francês na creche/escola e o português ela pratica comigo e em suas viagens ao Brasil.
Como minha sogra é inglesa, a minha filha só conversa em inglês com a avó, que desde cedo incentivava a aprendizagem da língua dando livros e DVDs/CDs para a Marina. No começo foi difícil, ela ouvia o inglês e respondia em francês ou português, mas agora ela está muito segura de si.
Boa sorte!